A Menina de Lá
“A Menina de Lá” é o nome de um dos contos do escritor Guimarães Rosa. Como em outros contos, o autor gosta de falar sobre alguns tipos hu...

“A Menina de Lá” é o nome de um dos contos do escritor
Guimarães Rosa. Como em outros contos, o autor gosta de falar sobre alguns
tipos humanos bem específicos: Doidos, místicos, lunáticos, visionários. Na
verdade, ele questiona muitos pontos da razão humana chamada por ele de “megera
cartesiana”.
Em “A Menina de Lá” à semelhança de outro conto chamado “Um
moço muito branco” o autor fala de uma pessoa especial que, apesar de todas as
suas limitações, consegue mudar o mundo em seu entorno. Sem especificar esse “Lá”
o autor fala da grande atração de Nininha ( O nome pelo qual Maria era chamada)
pelas coisas do alto. Ela gosta de olhar o céu estrelado e contemplar o arco-íris.
“Sua casa ficava para
trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado o
Temor-de-Deus. O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe,
urucuiana, nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou
passando descompostura em alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha
dita, nascera já muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes...”
Pela descrição percebe-se que Nininha tinha sérios problemas
de saúde, o que se confirma, pelo jeito, por sua morte prematura. Nininha
falava coisas incompreensíveis e tinha um comportamento estranho permanecendo
apática a quase tudo. Chamava o pai de menino pidão e a mãe de menina grande.
Com o passar do tempo todos perceberam que Nininha tinha o
dom de prever o futuro. Disse que queria ver um sapo e, mesmo sendo tempo de
seca brava, um sapo apareceu pulando perto dela; disse que queria comer “pamoninha
de goiaba” e alguém veio de longe, trazendo-lhe o doce para comer. Certa ocasião,
sua mãe adoeceu e nininha a abraçou tão carinhosamente que a mãe acabou ficando
curada.
Os pais de Nininha, então, combinaram de não comentar muito
sobre aquele dom pois, tinham medo de especuladores e mesmo que aparecesse
algum padre ou bispo querendo levar Nininha para algum convento. O pai, no
entanto, achava que devia usar aquele dom para tirar algum proveito. Pediu à
Nininha que mandasse chuva. E ela disse: “Não pode, ué...” Disseram-lhe que se
não chovesse iria faltar arroz, doce, frutas... Então ela retrucou: “Deixa,
deixa”! Daí a duas manhãs a chuva caiu precedida por um lindo arco-íris. Ao ver
o “arco da velha” Nininha ficou, imensamente, feliz. Tiantônia, no entanto,
ficou brava com ela e ninguém entendeu os motivos de tanta bravura. Passados
alguns dias Nininha adoeceu e morreu. Então, Tiantônia revelou a todos porque
havia ficado brava com Nininha dias
antes. Ao ver o arco-iris Nininha disse pra ela que queria ser enterrada num
caixãozinho cor-de-rosa com enfeites verdes brilhantes. Então, todos entenderam
que Nininha, que já tinha fama de santa, previu a própria morte. Após algumas
discussões decidiram cumprir o seu desejo e sepultá-la conforme seu pedido.
“A Menina de Lá”, se parece ao “Moço muito branco” outro personagem
de um conto do mesmo livro. Ambos foram pessoas iluminadas que, apesar de suas
limitações físicas, conseguiram mudar, para melhor, a vida de todos ao seu
entorno. O conto nos revela a forte presença da religiosidade popular que ainda
marca a vida de muitos sertanejos do interior de Minas. A família mora num
lugar chamado “Temor de Deus” e a mãe não tira o terço da mão nem para matar
galinhas... Nininha é mais uma dessas santas canonizadas no coração do povo
desamparado e esquecido dos nossos grotões. Santa Nininha, rogai por nós!
Imagem de 🆓 Use at your Ease 👌🏼 por Pixabay