A Morte como um ladrão
No texto bíblico de São Lucas (Lc 12, 39 – 48), a morte é apresentada como um ladrão. O ladrão não avisa a hora que vai visitar sua casa e...

No texto bíblico de São Lucas (Lc 12, 39 – 48), a morte é
apresentada como um ladrão. O ladrão não avisa a hora que vai visitar sua casa
e levar de você, os seus bens mais preciosos. Essa imagem da morte como ladrão
pede de nós uma pergunta: Ladrão, para quem? E a resposta é fácil de ser dada:
Ladrão para quem só viveu acumulando para si mesmo!
Algumas pessoas, para preencherem seus vazios existenciais, debandam-se
para o consumismo e vivem para acumular tranqueiras e bens materiais. O espólio irá fazer a farra dos herdeiros no
futuro. Para quem vive para acumular a morte é um ladrão que leva tudo de nós,
inclusive a vida. Mas, não existe outra maneira de encarar o fim da vida? Sim!
Ele pode ser encarado como um grande encontro de amor, à semelhança de um
encontro nupcial. Aliás, esse foi um jeito usado, muitas vezes, por Jesus, para
falar de nosso encontro definitivo com Deus. Nesse caso, o fim da vida é
preparado e esperado com serenidade e amor.
Para ilustrar a ideia acima, cito a passagem bíblica do encontro
de Madalena com Jesus ressuscitado (Jo 20, 11 – 18). Ainda de madrugada, ela
foi chorar junto ao túmulo. Mas, chegando lá teve uma surpresa: Viu os lençóis deixados
no chão e o sudário que tinha sido colocado obre a cabeça de Jesus. Mas, o
sudário não estava junto com os lençóis; estava enrolado em um lugar à parte. O
texto não diz, mas imagino que o ambiente estava cheiroso e arrumado. Aquele
local não parecia mais sepultura e sim leito nupcial (1). Jesus, enquanto noivo
a esperava de forma tão luminosa e bela que ela nem o reconheceu pensando que
se tratasse do jardineiro.
Esse tipo de encontro com Deus não foi privilégio de
Madalena. Pode ser estendido a todos aqueles que têm fé. A ideia da morte, nesse
caso, não é comparada à chegada de um ladrão, mas, de um noivo. A experiência
deixa de ser pavorosa para ser amorosa. Mas, quem só vive para acumular tem
razões para temer a morte. Ela é um golpe na nossa vaidade e tira tudo de nós.
Algumas pessoas vivem de forma egoísta e nunca pensam que a
vida lhes será tirada. Então, quando ficam doentes ou pressentem a chegada da
morte querem fazer em um único dia, o que não fizeram a vida toda. É uma pena!
Mas, o tempo é implacável. Viver é igual a saltar de paraquedas: ou você acerta
ou erra. Nem sempre é possível voltar atrás para consertar o que ficou errado. Certa
vez, ouvi a história de alguém que morreu sem ter mudado de vida. Para preservar
o sigilo não vou falar onde o fato aconteceu, mas, pelo visto, aconteceu mesmo.
O moço era muito ruim e ninguém gostava dele, nunca rezou e nem pisou numa
igreja. Quando morreu a turma levou o corpo para ser velado na Igreja da
Comunidade. Ninguém sabe o que aconteceu, mas, a porta da Igreja emperrou e não
abriu de maneira alguma. Não tiveram outra opção a não ser velar o corpo na
barraca ao lado. Assim que o corpo foi enterrado, no outro dia, uma turma foi à
Igreja para resolver o problema da porta. Por mais estranho que pareça, ela
abriu naturalmente assim que destrancada. Ninguém entendeu direito, mas a
conversa logo andou de boca em boca. Enquanto vivo, ele nunca pisou naquela
igreja, além de falar mal de todos que ajudavam na comunidade. Agora, após a
morte a porta da Igreja não abriu para ele... Sabemos que o amor de Deus é
infinito e ele não tem prazer nenhum em castigar os seus filhos. Mas, quem
poderá calar a voz do povo?
1- https://ggpadre.blogspot.com/2020/07/madalena-e-o-jardineiro.html
Imagem: indigolt/Fotolia