Loucos, cegos, místicos e outros mais...

  Eles aparecem em diversos textos de Guimarães Rosa. Falo dos loucos, visionários, cegos, místicos e outros mais... Todos eles, com sua man...

 


Eles aparecem em diversos textos de Guimarães Rosa. Falo dos loucos, visionários, cegos, místicos e outros mais... Todos eles, com sua maneira “inconvencional” de agir questionam a clarividência da razão essa “megera cartesiana”. Então, comecemos nosso texto com a história de um louco:

“Quando o visitante de um Hospício de Alienados atravessava uma sala, viu um louquinho de ouvido colado à parede, muito atento. Uma hora depois, passando na mesma sala, lá estava o homem na mesma posição. Acercou-se dele e perguntou: ‘Que é que você está ouvindo? ’ O louquinho virou-se e disse: ‘Não estou ouvindo nada. ’ O outro colou o ouvido à parede, não ouviu nada: ‘Não estou ouvindo nada. ’ Então,  o louquinho explicou intrigado: ‘Está assim, há cinco horas.”(1)

No conto: “Soroco, sua mãe e sua filha”, o escritor mineiro abordou a situação de um filho obrigado e embarcar num “trem de doido” sua mãe e, ao mesmo tempo sua filha, ambas acometidas de loucura. (2) Diante de algumas situações abordadas pelo autor a gente se põe a perguntar quem, de fato, seria louco, se o louco ou os lúcidos? Qual a linha tênue separam as duas situações. Afinal, não se trata, apenas, de pontos de vistas diferenciado pois, cada ponto de vista acaba sendo a vista a partir de um ponto? A realidade é mais surpreendente do que possamos imaginá-la e, “quando nada acontece há um milagre que não estamos vendo”. (3).

Em nosso escrito de hoje falaremos sobre um cego. Ele aparece no conto: “Antiperipleia”, de Guimarães Rosa. O “angu de caroço” já começa no nome do conto. O que quer dizer antiperipleia? Até onde pesquisei, a palavra nos remete ao vocabulário grego, mais precisamente ao vocábulo “periplous” e quer dizer “circunavegação” ou navegação em torno de um continente. Sabendo que cada pessoa pode ser um continente a ser explorado então, digamos, que o conto é uma navegação em torno de si mesmo, no caso, em torno de Prudenciano, um guia de cego. A fala inicial do personagem também nos aponta nesse sentido: “Tudo para mim, é viagem de volta...” O conto, portanto, parece uma odisseia ao contrário sem ser Ilíada.

No conto aparecem quatro personagens principais:

O narrador Prudenciano – Guia de cego,

Sêo Tomé, o cego,

Sá Justa – mulher feia que vai manter um “Love” com o cego,

O marido dela que acaba se beneficiando da situação

Uma autoridade, talvez um delegado de polícia, cujo nome não aparece.

O enredo parece simples, embora nada seja simples, em se tratado de Guimarães Rosa. O Cego era bonito e tinha sorte com mulheres; o seu guia era feio e sem sorte com elas; a mulher era feia e, por isso,  só conseguiu se “emplacar” com um cego; O marido dela saiu ganhando porque ficou livre daquele estrupício e ainda surrupiava o dinheiro do cego. O guia conseguia favores da mulher porque mentia ao cego dizendo que ela era muito bonita.

Certo dia o cego apareceu morto e o imbróglio estava formado. Sua morte poderia ter muitas causas:

O cego dizia ter voltado a enxergar. Então, não teria se decepcionado com a mulher feia e se matado de desgosto? Não seria a mulher a assassina ao ser descoberta em sua perfeita feiura? Quem sabe não teria sido o marido enciumado? Então, porque muita gente andava a culpar Prudenciano, o seu guia?  Diante desse mar de desconfiança era melhor ele se mudar mesmo do arraial procurando outro cego para guiar na cidade grande...

O conto mexe com a imaginação da gente. Mas, para ter esse tipo de experiência você mesmo terá que lê-lo. Boa sorte!

Imagem: https://pixabay.com/pt/photos/confuso-assustada-depress%C3%A3o-7216044/

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