Onde fica sua montanha?

 

Jesus subiu ao monte para rezar... Assim, nos diz o Evangelho de São Lucas (Lc 6, 12 – 19). A montanha é o ponto da terra mais perto do céu e ele queria estar perto do céu. Em oração, ele varou a noite, pois, precisava tomar uma atitude importante: Formar a sua equipe de trabalho e estabelecer as orientações para tal equipe.  Por isso, depois dessa intimidade com o Pai, ele chama os doze apóstolos e dá-lhes as suas orientações. Mostra-lhes, qual era o seu “plano de governo”.

Os doze lembram-nos as doze tribos de Israel. Então, podemos dizer que, com os doze, Jesus cria um novo Israel, ou seja, a Igreja. O seu plano foi, e ainda é bastante arrojado, pois, ele vai na contramão daquilo que o mundo prega como valor. Enquanto o mundo afirma: Felizes os ricos, os que se dão bem na vida, Jesus afirma o contrário: Felizes os pobres porque deles é o Reino de Deus (Lc 6, 20 – 26). Enquanto o mundo afirma: Felizes aqueles que são bajulados e reconhecidos como pessoas importantes, Jesus afirma: Felizes serão quando os homens vos odiarem vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem por causa do Filho de Deus...

Essas orientações de Jesus soam bem estranhas para quem vive num mundo como o nosso cheio de receitas de sucesso. Mas, então, quer dizer que Jesus ama o fracasso e cultua o derrotismo? – Não, necessariamente! Mas, é preciso entender que a lógica de Deus é diferente da nossa. Aquilo que o mundo valoriza tanto, algo do tipo: Fama, sucesso, riqueza, beleza física, isso não conta muito para Deus. Devo concordar que não é fácil entender os caminhos de Deus. Como entender, por exemplo, a lógica da cruz?  Deus vence perdendo enquanto nós, quando ganhamos costumamos perder. Aliás, o alerta foi de Jesus: O que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?

Jesus nos ensinou com palavras e exemplos. Se ele disse que seus seguidores seriam perseguidos é porque ele também o foi. E como foi! Chegaram a dizer que ele era o chefe dos demônios! Isso não é coisa pequena.  As perseguições aos verdadeiros seguidores de Cristo chegam de diversas formas: Indiferenças, ridicularizações,  desprezos, críticas destrutivas... As perseguições, nem sempre, são abertas ou declaradas. Acho que não devemos sofrer tanto com elas. Os apóstolos se alegraram, após serem presos, porque foram dignos de sofrer por Cristo (At 5, 41). Santo Inácio de Antioquia dizia, sobre o tema: Onde maior é o trabalho, maior é o lucro. Nesse, caso, os cristãos perseguidos por causa da fé, são aqueles que acumulam mais tesouros no céu (1). E São Bernardo completou: “É melhor para mim, Senhor, sofrer a tribulação, contanto que estejas comigo, do que reinar sem Ti, passar bem sem Ti, gloriar-me sem Ti. É melhor para mim, Senhor, abraçar-me a Ti na tribulação, ter-Te comigo no forno ardente, do que estar sem Ti, ainda que fosse no próprio Céu. Que me importa o Céu sem Ti? E, contigo, o que me importa a terra? (2)

Jesus soube enfrentar todo tipo de perseguição com serenidade porque esteve sempre em profunda comunhão com o Pai. Sempre que necessitava subia a montanha para rezar e se fortalecer para os embates do dia a dia. Essa é uma grande lição que precisamos aprender.  Para enfrentar as tentações é preciso se fortalecer na oração e na comunhão com Deus. As tentações e perseguições nunca faltarão em nossas vidas. Mas, se estivermos fortalecidos na graça de Deus elas não irão nos derrubar. Por isso, precisamos sempre buscar a nossa montanha, ou seja, o nosso lugar para rezar e estar com o Pai. Para alguns, é mais fácil rezar em casa, outros nos intervalos do trabalho. Outros, ainda, preferem rezar pela manhã ou à noite. Isso não importa desde que a gente cultive sempre o hábito da oração. Onde fica a sua montanha?

 

1-      Santo Inácio de Antioquia, Carta a São Policarpo de Esmirna,1.

2-      São Bernardo , Sermão 17

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