A queixa de Deus

 

Como Pai amoroso que é, Deus faz de tudo para nos salvar. Chegou ao ponto de nascer entre nós e, assumindo nossos pecados, morrer na cruz provando-nos, assim, que o amor pode ser maior do que a dor. Deus fez por nós, com maior perfeição, o que uma mãe faria ao um filho. Por esse amor a mãe é capaz de esquecer de si mesma  e, se for necessário, passar noites inteiras, sem reclamar, ao lado de um filho doente.  Recentemente, tive contato com um caso assim, onde a mãe passou mais de quinze dias numa cadeira, acompanhando  o filho no CTI de um hospital...  Só um amor sem limites pode explicar gestos assim!  Uma mãe continua amando o filho mesmo que ele rejeita o seu amor. Mas, como ela sofre quando isso acontece!

O que lemos na  passagem do Evangelho de São Lucas (Lc 10, 17 - 24) lembra-nos um amor como narrado acima, ou seja, rejeitado. Assim como nossas mães Deus, certamente, também sofre por nós, quando isso acontece. Não se deve rejeitar um amor tão grande! Ao ser rejeitado pelas cidades próximas ao Lago de Genezaré, Jesus exclamou: - Ai de vós! Naquele pouco caso sentiu que seu amor fora rejeitado. Por esse amor não correspondido, aquelas comunidades, certamente, iriam pagar caro, assim como aconteceu ao filho pródigo de outra passagem bíblica.

Em Cafarnaum, Jesus passou diversas vezes, distribuiu bênçãos e fez milagres. Apesar disso, não foi reconhecido pelos habitantes locais.  Por isso, chegou a comparar aquela cidade às cidades pagãs de Tiro e Sidônia dizendo que essas últimas foram mais solícitas aos apelos de Deus. Ao rejeitarem o amor de Deus as cidades de Corozaim, Betsaida e Cafarnaum iriam sofrer e, por isso, Jesus também sofreu, assim como sofre uma mãe, ao ver que o filho está indo para caminhos errados. Naquelas cidades Jesus semeou muito e colheu pouco! Elas perderam uma grande oportunidade pois uma visita de Jesus não poderia ser ignorada. Certamente, faziam festas ao serem visitadas por autoridades civis, mas não reconheceram o dia em que foram visitadas pelo próprio Deus!

Ainda hoje, Cristo passa por nossas ruas, cidades e povoados. Como nós o recebemos? Ouvir sua palavra e colocá-la em prática é uma boa forma de acolhimento. Mas, talvez, não sejamos muito diferentes dos habitantes de Cafarnaum. A dureza dos corações é uma realidade em todos os tempos. Por causa dela inventamos mil desculpas para não servir a Deus. Quantas vezes Cristo interpelou-nos nas esquinas ou nas casas e não lhe demos atenção?

Engana-se quem pensa que para servir a Deus temos que fazer coisas extraordinárias. Fosse assim, estaríamos perdidos!  Santa Terezinha do Menino Jesus disse algo mais ou menos assim: Nunca conseguirei fazer grande obra para Deus mas, prometo fazer pequenas obras com grande amor! Isso é uma boa receita para nós. E a santa ainda dizia de forma poética: A maneira como apanho um alfinete no chão posso salvar uma alma...  Sendo assim, podemos servir a Deus nas tarefas mais simples: No zeloso cumprimento de nossas obrigações, na paciência com o próximo, na atenção aos momentos de orações. É preciso tomar cuidado, no entanto, porque quase sempre nós nos derrapamos nas coisas mais simples.

Tiro e Sidônia eram cidades pagãs que fizeram penitência e mudaram de vida diante dos apelos de Deus, enquanto Corozaim, Betsaida e Cafarnaum, mesmo tendo Deus tão perto não o reconheceram como deveriam. Esse é um grande risco que também corremos: Desprezar a Deus sem perceber sua presença, a cada instante, nas nossas vidas. Pense nisso!  

Foto: Arquivo pessoal