Inácio de Antioquia: - O que faz alguém desejar o martírio?

  Há um medo que parece universal em todos nós, ou seja, o medo da morte. Alguns, até podem dizer que aspiram por esse momento, mas só o faz...

 


Há um medo que parece universal em todos nós, ou seja, o medo da morte. Alguns, até podem dizer que aspiram por esse momento, mas só o fazem de brincadeira, pois, na hora H renunciam ao desejo. Mas, como toda regra tem exceção falarei de uma delas: Os mártires! Mártir é aquele ou aquela que dá testemunho de Cristo com o próprio sangue. E longe de correrem desse momento aspiram por ele. Hoje falarei de um mártir que viveu nos primeiros tempos da Igreja. Sua morte aconteceu no coliseu romano quando Trajano era o imperador no ano 107. O nome dela era Inácio, esse nome, vem do latim “Ignatius” e quer dizer fogo ardente. No caso, de Santo Inácio, o nome combinou bem com a pessoa, pois o seu amor por Cristo foi como um fogo ardente que nenhum vento contrário conseguiu apagar.

Inácio, certamente, foi o terceiro bispo de Antioquia, hoje Antáquia, uma Cidade da Turquia. Essa era a terceira maior cidade do Império Romano, depois de Roma e Alexandria no Egito. Em Antioquia os cristãos foram chamados com esse nome “cristãos” pela primeira vez, por volta do ano 40. De Antioquia Paulo partiu para suas grandes viagens missionárias pelo interior da Anatólia (Turquia) e Europa. Acredita-se que São Pedro foi o primeiro bispo nessa cidade. O segundo teria sido Evódio e o terceiro Inácio que esteve à frente dessa Igreja por, aproximadamente, 40 anos. Ninguém sabe, ao certo, o motivo de sua condenação à morte. Mas desde Nero (ano 64)  os cristãos passaram a ser considerados fora da lei. Bastava uma denúncia e vinha a perseguição. Plinio, um jovem governador da Bitinia (região próxima à costa do Mar Negro) escreveu ao Imperador Trajano: “Os que foram delatados, interroguei-os sobre se eram cristãos; se confessavam que sim, submetia-os a novo interrogatório, com ameaça de suplício. Os que ainda assim perseveraram mandei-os executar.”

O Império Romano naquela ocasião abrangia uma grande extensão de terras indo da Bretanha à Síria e contava com, aproximadamente, 50 milhões de súditos! Um império assim pareci indestrutível e as garras do imperador eram cruéis com qualquer grupo ou pessoa que representasse uma ameaça ao seu poderio. Por isso, Santo Inácio que estava há quase 03 mil quilômetros de Roma, foi buscado para ser entregue às feras no coliseu. Em Roma estavam no fim algumas festas nunca vistas, para comemorar o triunfo de Trajano conseguido dos Dácios (região da atual Romênia) no ano 106.  Duraram 123 dias e nelas morreram dez mil gladiadores e doze mil feras! A 18 de dezembro do ano seguinte, foram lançados aos leões, Zósimo e Rufo dois companheiros de Santo Inácio, e dois dias  mais tarde, o santo bispo também foi morto do mesmo jeito.

Tendo sido preso em Antioquia Inácio foi conduzido à Roma por dez soldados que ele chamou de “leopardos”. Ao longo de sua viagem escreveu sete cartas:

Epístola a Policarpo de Esmirna, Epístola aos Efésios, Epístola aos Esmirniotas, Epístola aos Filadélfos, Epístola aos Magnésios, Epístola aos Romanos, Epístola aos Trálios.

Nessas cartas encontramos verdadeiras pérolas de seu pensamento. Nelas ele agradece, exorta e adverte os cristãos das diversas regiões onde passou. Na carta aos Romanos pede aos destinatários que não impeçam o seu martírio:

 Escrevo a todas as Igrejas e insisto junto a todas que morro de boa vontade por Deus, se vós não mo impedirdes. Suplico-vos, não vos transformeis em benevolência inoportuna para mim. Deixai-me ser comida para as feras, pelas quais me é possível encontrar Deus. Sou trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras, para encontrar-me como pão puro de Cristo. Acariciai antes as feras, para que se tornem meu túmulo e não deixem sobrar nada de meu corpo, para que na minha morte não me torne peso para ninguém. Então de fato serei discípulo de Jesus Cristo, quando o mundo nem mais vir meu corpo. Implorai a Cristo em meu favor, para que por estes instrumentos me faça vítima de Deus. Não é como Pedro e Paulo que vos ordeno. Eles eram apóstolos, eu um condenado; aqueles, livres, e eu até agora escravo. Mas, quando tiver padecido, tornar-me-ei alforriado de Jesus Cristo, e ressuscitarei nele, livre. E agora, preso, aprendo a nada desejar( ...)

 Desde a Síria, venho combatendo com feras até Roma, por terra e por mar, de noite e de dia, preso a dez leopardos, isto é, ao  destacamento de soldados, que se tornam piores quando se lhes faz o bem. Por seus maus tratos, porém, estou sendo mais instruído, mas nem por isso estou justificado. Oxalá goze destas feras que me estão preparadas; rezo que se encontrem bem dispostas para mim: hei de instigá-las, para que me devorem depressa, e não aconteça o que aconteceu com outros que, amedrontadas, me não toquem. Se elas por sua vez não quiserem de boa vontade, eu as forçarei. Perdoai-me: sei o que me convém; começo agora a ser discípulo. Coisa alguma visível e invisível me impeça que encontre a Jesus Cristo. Fogo e cruz, manadas de feras, quebraduras de ossos, esquartejamentos, trituração do corpo todo, os piores flagelos do diabo venham sobre mim, contanto que encontre a Jesus Cristo... (2)

Depois de ler esses trechos da carta que Santo Inácio escreveu aos romanos considero respondida a pergunta inicial que intitula esse artigo. Os santos não temem o martírio pelo grande desejo que alimentam de se identificarem com Cristo. Longe de correr do martírio, alguns até mesmo o desejam. Isso aconteceu com Santo Inácio que pediu aos cristãos de Roma que nada fizessem para defendê-lo. Por esse tipo de fé tão grande até hoje admiramos o seu exemplo e seu testemunho.

1-     Algumas informações desse texto foram extraídas do livro: “Santos de cada dia” Vol III. Editora A. O. Braga, Portugal, 1985. 

     2-https://www.cristianismo.org.br/inacio-5.htm - Consulta em 16/10/24

Imagem de Ken Williams por Pixabay

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  1. O martírio é o verdadeiro testemunho que podemos dar a Jesus Cristo. Que os santos Mártires intercedam por todos nós.

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  2. "Sou trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras, para encontrar-me como pão puro de Cristo."Santo Inácio de Antioquia, rogai por nós!!!

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  3. Prova de amor ao extremo foi a opção dos martires, já que não tiveram nenhum vacilo em sua fé, como aconteceu com Inácio de Antioquia que ao ler o texto do Senhor me encantou.
    A humanidade tem mostrado ser mesmo de cabeça dura, porque quantas vezes decepcionou nosso Deus cultuando outros deuses, mas teve sempre também os mártires.
    Que a gente agrade nosso Deus com nossa vida, mostrando que o amamos e amando nosso próximo, agora ser mártire é para poucos mortais. Penso que por ser misericordioso, ele ficará satisfeito conosco quando seguirmos seus mandamentos.

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  4. Isto é que é amor e verdadeira fé.

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  5. São muitos os motivos que podem levar uma pessoa ao martírio, de acordo com a psicanálise, mas na questao, acho que é a maneira encontrada, na época, para demonstrar a extrema devoção a Jesus.

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  6. O amor e o desejo de o maís próximo possível de Cristo, que santo Inácio de antioquia rogue a Deus por nós

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  7. Que Santo Inácio interceda por nós.

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