Réu confesso

  Esse texto era para ter sido escrito antes, quando o tema ainda estava quente. Agora já esfriou um pouco, mas não interessa, vamos lá, ass...

 


Esse texto era para ter sido escrito antes, quando o tema ainda estava quente. Agora já esfriou um pouco, mas não interessa, vamos lá, assim mesmo, com as ideias mornas. O negócio é o seguinte: Para refrescar a cuca, eu sempre pego um livro mais leve, cujo assunto não vá exigir nenhum esforço do meu cérebro. Calma aí, não me jogue pedras ainda, eu também sou filho de Deus e tenho direito a uma cota de preguiça. Foi aí que peguei o livro de Agripa Vasconcelos, chamado “Corpo Fechado”. Eu com essa mania de gostar de ler os mineiros, admito certa dose de bairrismo, então, quis refrescar as ideias com pimenta. Explico: Já havia lido Agripa e sabia que ele exigia certa concentração. De maneira alguma trata-se de um escritor banal que escreve perfumarias. Mas, como me informei que “Corpo Fechado” era um livro de lendas e contos fui logo caindo de boca. Tenho inclinações por isso, talvez, por esse meu lado político de querer preservar, mesmo ao arrepio das ondas, a memória nacional.

Abri o livro e em vez de refrigério encontrei-me num forno. Num conto de apenas duas páginas, intitulado “Barranqueiro Velho”, encontrei vinte palavras cujo significado eu não sabia ou tinha vaga ideia sobre algumas delas. Vou anotá-las abaixo confessando, publicamente, minha ignorância. Quem não for ignorante que me atire a primeira pedra! Segura que lá vai:

1-     Avantesmas – fantasmas.

2-     Groseiras – Cordas de anzóis

3-     Rebojos – redemoinhos, sorvedouro

4-     Anga – Olhar maléfico, mau olhado

5-     Dimana – Brota, surge...

6-     Tiapureca – Bebedeira...

7-     Bazé – Tabaco.

8-     Trasgos – Criatura mágica, de força prodigiosa

9-     Marnéis – Atoleiros

10-  Bubuia – Flutua

11-  Caborjes – Feitiços

12-  Limo da canoa – Mistura viscosa

13-  Piçarra – Mistura de pedras, terras e vegetais

14-  Pedroiços – Montes de pedras

15-  Colmando – Camuflado

16-  Jaofó, ufeca, muganjambe, cambanja, mirigina... ( O significado dessas cinco palavras vou descobrir antes de completar cem anos...)

Agora eu lhe pergunto: Com um conto de duas páginas se eu não soube o significado de vinte palavras, será que eu conseguiria refrescar as ideias? Pois, não é que consegui? Sou meio samurai e costumo atolar a faca até o cabo, isto é, não desisto fácil. Ainda estou encafifado com as cinco últimas palavras. O termo “encafifado” é meu mesmo e não o Agripa. Quem sou eu para me colocar ao lado dele...  Agora só me resta rezar pela alma do Agripa, do meu amigo Luiz David ou do Dr. Anastácio, para que me ajudem a devorar esse livro sem me enlouquecer de vez. Quem gosta de ler Guimarães Rosa não pode ter medo de assombração. Mas, se você for mais esperto do que eu pode me enviar o significado das últimas palavras, afinal, não tenho todos os dicionários do mundo. Suspeito, pelo faro, que tais palavras vieram do Kimbundo, Umbundo ou imbondo... Quem for especialista nessas línguas, bem que poderia me ajudar. Na língua do imbondo eu mesmo sei me virar. E durma com um barulho desse! Inté mais!

Foto: Arquivo pessoal

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  1. O resto, desculpe minha ignorância. Nunca nem ouvi falar.

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  2. Li um livro dele "são chico" achei bom. Mas não tinha tantas palavras meio indecifrável assim não. Kkk

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  3. João Guimarães Rosa passou pela fazenda Santa Catarina, onde meus pais moram. Será que ele escreveu algumas destas palavras foi lá? Kkk ouço muito por lá "só tem imbondo neste curral", "a água bubuia, então pode colocar para coar o café".

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  4. Padre, pedi ao Chat GPT que buscasse os significados daquelas palavras, e nem ele conseguiu! Kkk

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  5. Amo de vez em quando fazer um imbondo. Vira a língua mineira

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  6. Muito, muito bom!
    Quando o senhor diz: "foi ai que peguei um livro de Agripa Vasconcelos pra refrescar..." pensei comigo: não vai prestar!
    E não deu outra mesmo, né?
    O pior é que, hoje, o senhor já não conta mais com os amigos para ajudá-lo...

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