A surra de Agnaldo
Agnaldo, com “g” mudo, era filho de Floripes e Zé Pelota. Quando criança, andava sempre catarrento e chroramingão. De nada adiantava vesti...

Agnaldo, com “g” mudo, era filho de Floripes e Zé Pelota.
Quando criança, andava sempre catarrento e chroramingão. De nada adiantava
vesti-lo com roupas limpas que, em menos de meia hora, já estava sujo feito
porco. Lembrando que, naquele tempo, o porco, realmente, era sujo. Hoje, eles
ganharam novo tratamento. São chamados de excelência e não dormem sem ar
condicionado! Exagero meu? Não, meu senhor, visite uma granja em S. José da
Varginha, e verá que até esmalte eles ganham nas unhas da frente.
Naquela manhã tudo foi diferente para Agnaldo. Ele ia
realizar um sonho: Andar de carro pela primeira vez! Totonho, seu vizinho sisudo possuía um Jeep
usado para transportar coisas para a cidade. Aquele Jeep era uma verdadeira
arca de Noé. Carregava de tudo: Frangos, ovos, queijos, pinga e até leitões. Os
passageiros tinham que dividir o espaço com todas essas tranqueiras pois
Totonho Triste, era meio muambeiro e gostava de fazer catiras. Aliás, preferia
viver assim, a pegar no pesado.
O passageiro ilustre daquele dia, advinha? – Ele mesmo,
Agnaldo, com “g” mudo! Empurrado pela mãe, levantou-se mais cedo, tomou banho,
quem diria, penteou a juba, bebeu um cafezinho e lá se foram, rumo à sua
aventura: Estrear o Jeep de Totonho Triste, também chamado de “Tonho Tristeza”
ou só de “Tristeza”, mesmo. No coração de Agnaldo o que não cabia era tal
sentimento, pois, estava ansioso pela aventura. Floripes acabou se alegrando
por osmose. Recatada e do lar, ela
vestiu-se com discrição: Uma saia rodada verde, ou verde rodada, nunca sei o
que vem primeiro... combinando com uma blusa também cor de abacate. Um
verdadeiro periquitinho do pé de mamão!
Depois de se ajeitar na arca de Noé, digo, no Jeep, Floripes
e Agnaldo rumaram para a cidade. Ele via tudo com curiosidade. Parecia-lhe que
não fosse o Jeep a se mover. Tinha a sensação que era a paisagem que vinha em sua
direção. Aquilo provocou reviravolta em seu estômago de criança e, em menos de
meia légua, botou tudo para fora. Por pouco, não sujou a saia verde de sua mãe.
Ao voltar da viagem começou sua desventura. Contou para todo
mundo o que viu exagerando muitas vezes. Numa rodinha de amigos confessou em
voz alta: Quando crescer vou comprar um caminhão, bem grande, só para carregar
Dorinha na boléia. Dorinha, pelo visto, era o sonho de consumo da galera de sua
idade. Ao ouvir tal confissão Floripes entrou na conversa: - Que bonito, heim
Agnaldo? Em vez de carregar sua mãe vai carregar uma sirigaita qualquer! Havia
certa dose de despeito na fala dela. Afinal, até as mulheres maduras tinham ciúmes
da tal Dorinha. – Você deve dar preferência, no seu caminhão, a quem te botou
no mundo, continuou Floripes. Conversa vai, conversa vem e ela se irritou com
Agnaldo. Pegou uma velha corda e deu com ela no lombo do menino.
Que pena! Pelo que vim saber depois, Agnaldo ficou com a
surra de graça. Nem se casou com Dorinha e muito menos adquiriu um caminhão.
Fazer o quê, né? Já dizia o poeta: Tudo vale a pena se a alma não é pequena!
Esse ditado vale para todo mundo da história, menos para Floripes que, pelo
jeito, nem usa mais aquele “encanto” de saia verde...
Conheço alguns Agnaldos, com “g” mudo, que ao entrar no carro deixa todo carrossel com inveja, pois o mundo todo gira igual a música do Jerry Adriani....
ResponderExcluirKkkkkk
ResponderExcluirEu não sei se sou esse tal de Agnaldo ou o porco de unha pintada kkkkkkkkkkkk
Eu quando criança, enjoava só de pensar em andar de jardineira, pal de arara, ou caminhão leiteiro. A jardineira era uma mistura de tudo isso. Minha bisa vó morava em Bom Sucesso e de Pará de Minas até lá era 5 horas de viagem. De carro hoje, são 20 minutos.
ResponderExcluirMuito bom! Me bateu uma nostalgia rsrsrs, saudades do tempo de criança, o ônibus da Jaguara a antiga rodoviária de Pará de Minas, mera semelhança com o Jeep do Totonho. Saudades também do tempo dos caminhões que transportavam leite em latas, geralmente era a "carona" do povo da roça....uma viagem dessas proporciona inúmeras viagens na minha imaginação enquanto criança! Obrigado pelo texto, uma leitura tão leve e saborosa! Paz e luz! 🙏🏾
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTexto bem escrito porque nos envolveu todo tempo e com interesse na aventura e desventura do agnaldo. Era muito real estes acontecimento como as jardineiras que carregavam de tudo, afinal a camaragem imperava, diferentes dos novos tempos.
ResponderExcluirO que não foi nada bom no desfecho, é a surra desnecessaria, mas podemos pensar que este modelo de educação era uma prática mas que felizmente mudou.
Muito bacana👏👏👏
ResponderExcluirImaginei a cena toda kkkkkk
ResponderExcluirMuito obrigada
ResponderExcluirAdorei