JK era cigano. Quem diria?

  A partir do incentivo de Padre Bernardo Araújo Silva, Assessor da Pastoral dos Nômades, da Diocese de Sete Lagoas, comecei a estudar o tem...

 


A partir do incentivo de Padre Bernardo Araújo Silva, Assessor da Pastoral dos Nômades, da Diocese de Sete Lagoas, comecei a estudar o tema e procurarei, na medida do possível, escrever algo sobre o assunto, ou seja, sobre os povos itinerantes. Fiquei conhecendo Pe. Bernardo em São José da Varginha, quando ele foi batizar algumas crianças ciganas residentes na Cidade, em 2021.

Adianto aos leitores que uma pesquisa sobre os povos nômades não é nada fácil, até porque, na história do Brasil, ou talvez, do mundo eles foram e continuam a ser ignorados. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) tem dificuldades em contabilizar esses povos em virtude do nomadismo, pois, não tendo residência fixa o trabalho de estatística fica bem mais complicado. Além disso, conforme veremos nos textos seguintes, os ciganos sofreram muitos preconceitos e discriminações.

No Site do Ministério da Saúde podemos encontrar a seguinte informação sobre os ciganos:

Os Romani – os assim chamados ciganos – são um povo de origem desconhecida. A teoria mais aceita atualmente os identifica como um grupo originário da Índia, membros de uma casta militar. Por volta do ano 1000, teria iniciado uma grande diáspora em razão de uma série de invasões islâmicas ocorridas na Índia que resultou numa suposta rota migratória, inicialmente em direção à Ásia Menor e, posteriormente, para os Bálcãs e Europa Ocidental.

No Brasil, existem três grandes grupos que compõem os povos ciganos: os Rom, os Sinti e os Calon. Estão distribuídos em todos os estados da Federação e no Distrito Federal, desde os endereços mais sofisticados até as periferias das grandes cidades. Muitos deles ainda estão voltados às atividades itinerantes tradicionais da cultura cigana, mas já se observa um número crescente de profissionais atuantes em outras áreas, como saúde, educação, direito e artes em geral.

No Brasil, cerca de 800 mil a um milhão de pessoas se identificam como ciganos, de acordo com IBGE. Os estados da Bahia, Minas Gerais e Goiás apresentam as maiores concentrações dos assentamentos ciganos. Segundo levantamento realizado pelo IBGE, em 2011, os acampamentos que existem no Brasil a partir das informações fornecidas por gestores municipais, de acordo com esses dados 849 cidades brasileiras possuem acampamentos. A maioria deles (372) está em 293 municípios do Nordeste. Na região Sudeste, Minas Gerais é o estado com maior número: 175 acampamentos em 127 cidades mineiras. A historicidade do deslocamento dos povos ciganos no Brasil apontam para uma chegada inicialmente pelo Estado da Bahia, a primeira capital colonial do Brasil, a partir dali tinham migrado para o Estado de Minas Gerais. Os demais fluxos migratórios são múltiplos.

“Na verdade, são várias culturas, como são povos diferentes. Há uma tendência a generalizar, assim como a palavra indígena, ou índio, ou a palavra negro esconde vários povos com línguas e costumes diversos sob um mesmo nome. Os povos ciganos também são assim, então a gente tem culturas e identidades diferentes, algumas coisas são semelhantes ao ponto de serem chamados ciganos”, explica Aluízio, Aluízio de Azevedo Silva Junior é cigano Kalon, doutor pelo Programa de Pós-graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS/ICICT) da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz, 2014-2018). (1).

Os primeiros ciganos chegaram ao Brasil junto com os descobridores. Mas, não temos muita documentação sobre o assunto. Curiosamente, grande parte das informações sobre eles são encontradas nas páginas policiais... É certo que no tempo do Império já havia muitos ciganos no Brasil. Os primeiros grupos que chegaram aqui, vieram de Portugal e Espanha. São chamados de Kalon ou Kalé. Na primeira metade do Séc XIX, junto à onda imigratória de Italianos vieram também os Rom ou Roma. Esse grupo étnico veio do Leste Europeu.

Para Minas Gerais, na região do Serro e Diamantina veio o Cigano Rom, Jean Nepomuscky Kubitschek para trabalhar como marceneiro. Ele era imigrante vindo da Boêmia, então parte do Império Austro-húngaro e deve ter chegado ao Brasil entre 1830 a 1835. Jean casou-se com a brasileira Tereza Maria de Jesus com a qual teve dois filhos: João Nepomuceno Kubitschek e Augusto Elias Kubitschek. Elias foi um comerciante em Diamantina e Augusto foi primeiro suplente de subdelegado de polícia em 1889. Ele teve uma filha, Júlia Kubitschek que veio a ser mãe de Juscelino Kubischek, um dos mais populares presidentes do Brasil. O que muitos não sabem é que o Presidente Seresteiro era descendente de ciganos. (2)

Quantas famílias Rom, vieram para o Brasil não sabemos, o certo é que esses povos chegaram aqui de alguma forma. No início da República os ciganos foram proibidos de desembarcar nos portos brasileiros, então, é provável que muitos tenham desembarcado, de forma clandestina.

Além dos Kalon e dos Rom temos os Sinti também chamados de Manouch. Esse grupo étnico fala a língua Sitó e são numericamente expressivos na Alemanha, Itália e França. Membros desse grupo, provavelmente, chegaram ao Brasil durante o Séc XIX, vindos de países europeus já mencionados.

O Grupo Rom parece ser demograficamente majoritário e está presente em muitos países subdividindo-se, em grupos menores: Kalderash, Matchuara, Lovara e Tchurara.

Como se pode ver, não dá para generalizar os ciganos como fizemos com os indígenas. A rigor não existe um único grupo cigano, mas diversos grupos étnicos com ramificações diferentes e, nem sempre, harmoniosas.  Um dos pontos que une esses grupos, talvez, seja a itinerãncia.  Sobre esse assunto falaremos em outro texto.

 

1 - https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/equidade-em-saude/povos-ciganos-romani#:~:text=No%20Brasil%2C%20cerca%20de%20800,ciganos%2C%20de%20acordo%20com%20IBGE. Consulta em 23/04/2025

2- Teixeira Rodrigo Corrêa. Ciganos em Minas Gerais: Uma breve história. Belo Horizonte: Crisálida, 2007 – pp.49.

Imagem de Pete por Pixabay

Observação: O video abaixo mostra o dia a dia de oito imigrantes em Los Angeles, intercalando com imagens de imigrantes do passado. Ao final do vídeo, uma mensagem que nunca é demais reforçar: Nenhum ser humano é ilegal. Gogol Bordello é uma banda multiétnica de gypsy punk formada em Nova Iorque em 1999

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  1. Talvez eu tenha sangue cigano e não saiba. O fato que do lado da bisavó materna, sou indígena. Do outro lado, não tenho conhecimento. Pelo sobre nome, pesquisei: Menezes é de origem português. Mas eu não me preocupo com as minhas origens, e sim com o meu legado.

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  2. Eu sempre quis saber mais sobre os ciganos, acho um povo alegre, feliz.Curiosa.forma como chegaram e mais curioso ainda saber que Juscelino Kubitschek ser da linhagem dos ciganos, se assim posso dizer.Acho a cultura interessantíssima, nada haver que poderíamos ser roubado pelos ciganos ,como dizia minha avó, morriamos de medo de ser roubados e nem chegavamos perto das ciganas que lia as mãos.Cultura diferente, mas muito rica.Continuar lendo, seguindo os textos de Padre Gabriel.Obrigada por estar trazendo para nós , algo tão interessante.Aguardo mais textos e histórias.

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  3. Acredito que contar ciganos deve ser como contar passarinho voando.

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  4. Padre agradeço as informações sobre os ciganos porque sempre os achei interessantes.
    Na infancia por ter um lote próximo a minha casa, sempre tinha cabanas de ciganos armadas, e a recordação e que eram muito festeiros. Eu gostava de ve-los e tinha curiosidade e era insistente meu olhar para ver como viviam dentro das cabanas
    Boa informação é que o visionário governante kubitschek era cigano.
    Quero destacar que os ciganos tiveram uma perseguição na época do nazismo.
    Um verdadeiro genocídio.

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  5. Obrigada por compartilhar esse texto tão rico

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  6. Adorei as informações sobre os ciganos.Quando criança observava-os de longe, eu ficava com medo pois diziam que roubavam coisas e crianças. Eles ficavam acampados nas margens do Ribeirão Paciencia.Hoje percebo cpmo a desinformação gera muitos preconcritos!

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