Celebração matinal
Enquanto o sol se despe da capa escura da noite, as almas despertam pra o fervilhar do dia. Atrás dos montes, ele surge majestoso e belo, ...
Enquanto o sol se despe da capa escura da noite, as almas
despertam pra o fervilhar do dia. Atrás dos montes, ele surge majestoso e belo,
para cruzar, de novo, o céu em sua carruagem de fogo. Ofuscado em seu próprio
calor, ele mesmo, e não outro, engravida a terra, com seus raios brilhantes. Ao
toque de seu brilho, a vida geme em segredo, no coração da semente que brota
sob as cinzas. Qual fênix de asas verdes ela rompe a crosta da terra com o
enorme poder de sua fraqueza. O ar da manhã denuncia que a vida voltou
novamente. Por isso, não faz sentido, a habitação dos mortos nem as sombras das
tristezas. Metamorfose mágica! Deixando de ser semente, o broto novo desponta,
carregando em suas costas, um diminuto pingo d’água. Então, onde só havia
tristezas, começa-se a ouvir de novo, os grilos e as cigarras. Nessa festa matinal a vida contempla seu próprio autor.
Gosto do clima das manhãs e da serenata dos passarinhos.
Nessas horas o trabalhador sai de casa e vai assobiando para o trabalho,
deixando para trás o cheiro bom do café. O café da manhã acorda o estômago e,
se for amargo, melhor ainda! Quando doce, parece falso e não combina com a vida
que não é feita só de doçuras.
Gosto de fazer minhas preces matinais: Erguer o rosto,
respirar fundo e receber nas faces, o beijo morno do sol. Isso é um privilégio!
O sol, apesar de sua evidente beleza, não é percebido por milhões. Não faço
parte desse grupo e, por isso ofereço-lhe o rosto o torço e o ventre. Minha
oração é meu segundo banho. O primeiro acontece, ainda de madrugada. Sempre me
levantei cedo, pois gosto de aproveitar as manhãs. Elas me falam de Deus. Por isso,
são mágicas. Acordo só, mas sempre faço uma festa! Meu rádio é um grande amigo,
que acorda antes de mim, e, às vezes, nem dorme. Programação matinal tem que
ser sertaneja e, enquanto possível, sertanejo raiz. Música assim, fala de terra,
de chuva e de amanheceres. A terra como “solo
sagrado e chão quente, espera que a semente venha lhe cobrir
de flor...”
De manhã, o rádio também é mágico e nada o substitui. Ele me
encanta e me transporta pelos caminhos da imaginação. Acordo de madrugada só
pelo prazer de ouvi-lo. Ás vezes, passeio pelas emissoras. Num piscar de olhos,
saio de Congonhas, visito Aparecida
para, finalmente, chegar a Pará de Minas. Já confessei, várias vezes, essa minha paixão
pelo rádio. Ele é meu fiel companheiro e por isso, não gosto de vê-lo
maltratado. Ninguém deve desprezar um amigo. Ouvir rádio me dá prazer e alegria.
É um prazer a baixo custo, pois um par de pilhas custa bem pouco.
O leitor deve pensar que sou doido. Não tem problemas! Num
mundo de doidos como o nosso, é difícil ser normal. Mas, faço questão de
dizê-lo, que não sou um doido qualquer: Sou doido e apaixonado! Apaixonado pela vida em sua arrebentação
matinal. A vida não é complicada. Ela se manifesta nas coisas mais simples, me envolve
e embriaga. Por isso, sigo tonto, cambaleando na graça porque é de graça que eu
vivo.
Foto: Arquivo pessoal




É muito prazeroso ler um texto poético, e este é um deles! Escritor/poeta como o Senhor, pode sim ser uma pessoa mais livre, porque normalmente precisa de pouco para sentir feliz.
ResponderExcluirUm amanhecer, um por de sol, detalhes ao seu redor são percebidos e valorizados.
Muito bom também quando consegue compartilhar em diferentes formas suas emoções. Hoje entrei nessa emoção caprichosamente descrita.
Interessante quando dizem que o que tem que ser, já dá sinais muito cedo. Falo do gostar tanto de rádio como conta. Para nossa sorte, tem toda desenvoltura na apresentação do programa diário também na rádio. Meus votos é que continue falando na rádio e escrevendo. Não tenho dúvida que encontra prazer levando uma vida assim.
Posso assinar essa crônica com gosto de poesia?! Afinal, meu amigo, " A vida gosta de quem gosta dela".
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