Uma família de retirantes sem lugar no mundo

  Foi publicado um vídeo na internet que, se for verdadeiro, me deixou muito consternado. Ele mostra um brasileiro sofrendo cólicas de rins ...

 


Foi publicado um vídeo na internet que, se for verdadeiro, me deixou muito consternado. Ele mostra um brasileiro sofrendo cólicas de rins suplicando por socorro num hospital ou casa de saúde, nos Estados Unidos. Ninguém lhe deu a mínima atenção ou sensibilizou com suas dores (1).  Como já tive muitas cólicas renais, no passado, sei o quanto isso é desesperador. Verdade ou não, sabemos que muitos brasileiros sofrem discriminações em outros países e alguns estrangeiros enfrentam discriminações aqui no Brasil também. Isso é lamentável. Quando vamos entender que somos todos membros de uma única raça, ou seja, a raça humana? Maus tratos a imigrantes, infelizmente, não é novidade. Muitos pagam com a própria vida tentando melhorar a sorte num país mais rico e desenvolvido, isso quando não morrem na travessia da fronteira, nas mãos de coiotes. Mas, não é sobre isso, que tratarei no texto de hoje. O exemplo serviu para conectar-me, com uma passagem do Evangelho de São Mateus (Mt 2, 13 – 15. 19-23).

O texto bíblico trata-se da “fuga” da Sagrada Família de Nazaré na tentativa de salvar o Menino Jesus da perseguição de Herodes. Avisado em sonho, por um anjo, José teve que fugir, às pressas, para o Egito. O Egito (país rico e desenvolvido da época) foi, muitas vezes, lugar de fuga. Para não morrer de fome, o povo de Israel teve que buscar comida no Egito. Para não morrer na escravidão, o povo teve que fugir de lá, guiado por Moisés. O Egito dava comida (cebolas e batatas cozidas), mas não dava liberdade. E como você já sabe: “A gente não quer só comida...”

Para mim, ninguém fala tão bem do drama de uma família de retirantes quanto Luiz Gonzaga, com a música “Triste Partida”, de Patativa do Assaré,  gravada em 1964. Em um dos versos ela diz o seguinte:

E a linda pequena /Tremendo de medo /Mamãe, meus brinquedo / Meu pé de fulô? / (Meu Deus, meu Deus) / Meu pé de roseira / Coitado ele seca / E minha boneca / Também lá ficou... /  E assim vão deixando / Com choro e gemido / Do berço querido / Céu lindo e azul / (Meu Deus, meu Deus) / O pai pesaroso / Nos fio pensando / E o carro rodando / Na estrada do sul...

Quando uma família tem que deixar tudo em busca de uma nova terra, como é o caso de tantos nordestinos que se mudam para São Paulo, o drama é cruel. Não é só a “linda pequena que treme de medo”, pois, a nova situação se apresenta como desafiadora e, muitas vezes, hostil para todos. Algumas pessoas não mudam de sua região porque querem. As situações que levam a isso são muitas: Dificuldades com a seca, fugas de guerras, busca de melhores condições de vida... Mas, esse sonho colorido, não raramente, vira pesadelo porque o imigrante nem sempre é acolhido e muitas vezes, é explorado, perseguido e violentado em seus direitos.

A Sagrada família de Nazaré foge para o Egito para defender a vida, pois a família de Herodes respirava morte. A Bíblia não esconde o drama: “Herodes quer matar o menino, disse o anjo a José”. Como um pai de família, santo como São José, recebe esse tipo de notícia?  José partiu, imediatamente, com a mãe e o menino, mas, ninguém consegue sair assim, sem planejar as coisas com antecedência, a menos que a situação seja de vida ou de morte. José sabia do Herodes Antipas era capaz. Ele já havia matado uma de suas mulheres e dois de seus filhos. Quem fez isso com a própria família não faria pior com um casal pobre? Por isso, José não teve escolha a não ser agir rápido saindo “sem lenço e sem documento” rumo “à terra estranha de estranha gente”.

Depois de algum tempo no Egito, eis que surge nova mensagem do anjo. Dessa vez, orientava-o, a retornar com sua família. Mas, José tem senso crítico. Ele sabe que Herodes morreu, mas seu irmão Arquelau continuou sendo o “Manda-Chuva” na Judeia. Então, decidiu  voltar, mas, para a Galiléia, mais precisamente, para Nazaré, um lugar escondidinho, para não chamar a atenção de ninguém. E foi nesse lugar, considerado “imprestável” que o Menino Jesus “cresceu em sabedoria e graça” gozando, por um tempo, da paz e harmonia daquela santa família. Em Nazaré ele pode desfrutar da convivência simples e maravilhosa com seus pais e vizinhos. Foi lá que aprendeu a fé e os valores que o tornaram quem foi.

Quando Jesus assumiu a vida pública, provavelmente, José havia morrido. Se foi isso  que aconteceu, pelo menos, não teve o dissabor de ver a grande rejeição que Jesus teve que enfrentar, inclusive, de seus conterrâneos. Graças à educação que recebeu de José e Maria Jesus tornou-se a pessoa mais encantadora que o mundo já conheceu. A família de Nazaré, apesar das grandes provações que sofreu constitui, ainda hoje, modelo para todas as famílias do mundo.  

1- https://sgc.com.br/noticia/4/433576/ 

Imagem de beauty_of_nature por Pixabay

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  1. Morando com meus pais ainda criança, mudamos 26 vezes até eu ficar adolescente e me casar. A cada mudança era uma sensação diferente. Ansiedade, angústia, desespero, preocupações, etc... E sempre na mesma região. O mais longe que fomos, foi Lagoa da Prata e Juatuba.

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