Maminha de porca

A “Maminha de Porca” é uma árvore de espinhos, típica de nossos cerrados. Seus espinhos possuem uma base ampliada garantindo assim, ...


A “Maminha de Porca” é uma árvore de espinhos, típica de nossos cerrados. Seus espinhos possuem uma base ampliada garantindo assim, o “sucesso” no alcance de seus objetivos. Por nascer com proteção natural, quase sempre, cresce bonita e se desenvolve bastante. Cascuda por natureza, nem de longe, conhece a delicadeza de outras árvores.  

Infelizmente, nosso cerrado está ameaçado por diversos fatores. A “Maminha de porca”, no entanto, está mudando-se para a cidade. Agora, não falo da árvore. Ela não tem  culpa por ser do jeito que é. Falo de pessoas. A cidade que deveria ser o local de encontro do ser humano parece ter negado essa vocação. As pessoas andam com medo umas das outras; se evitam e não se preocupam tanto com o coletivo. 

Recentemente, ouvi alguém reclamando de cocô de cachorro na área do condomínio. Isso não passa de um detalhe tendo em vista o que presencio todos os dias! Cacos de vidro na calçada, animais soltos nas ruas, pichação, depredação em áreas públicas, tocos de cigarros por todos os lados e restos de lixo ao sabor dos ventos. A vida urbana torna-se inviável sem um mínimo de preparo para a “com- vivência”. Afinal, não vivo só. Devo repartir o ar, a água, o lixo e o esgoto com os meus pares. 

Talvez, esteja enganado. Mas, vejo que o homem está cada vez mais embrutecido. Palavras como “muito obrigado”, “desculpa”, “sim senhor”, parecem fora de moda. Crianças ocupam os bancos em lugar dos idosos, sem o mínimo constrangimento; alguns jogam lixo na rua ou ligam alto o som do carro sem pudor. Será que não andamos na contramão da história? Evoluímos em alguns pontos e regredimos em outros. Vai longe o tempo em que os vizinhos se cumprimentavam ou se preocupavam uns com os outros. A cidade tornou-se um “aglomerado urbano”, ou melhor, uma selva de “Maminhas de porcas”.

Quase sempre distribuo balas com as crianças durante as missas que celebro. Mas, nunca me esqueço de orientar duas coisas: Para ganhar balas elas devem entrar na fila. Além disso, não devem jogar papéis no chão. Para minha surpresa vejo mães “furando”  a fila das balas ou jogando os papéis no chão. Agindo assim, ensinam os filhos a serem “espertos”. Meu discurso, então, cai no vazio. O que representa uma fala diante do exemplo, ou seja, do mau exemplo, da mãe ou do pai? 

Faz algum tempo, fiz a calçada diante de  minha casa  e aproveitei para plantar diversas flores. Adquiri as mudas, cultivei a área e plantei muitos ipezinhos amarelos. Meu irmão ficou irrigando e cuidando de tudo, pois não moro na casa. Com menos de uma semana após o plantio de tudo recebi uma ducha de água fria. Meu irmão ligou-me dizendo que todas as plantas haviam sido comidas pelos cabritos da vizinhança. Fiquei triste, pois o investimento foi perdido. Refiz o plantio e eles tornaram a destruir tudo. O que poderia humanizar aquele espaço urbano deixou de existir. Assim, sou forçado a morar numa selva de pedras...

Em 1994, junto com um vizinho plantei duas belas palmeiras na frente da Igreja do Bairro S. Pedro, em Pará de Minas. Na mesma noite em que as plantei alguém passou por lá, durante a noite, arrancou uma delas e jogou-a, literalmente, no meio da rua. No outro dia, replantei-a com carinho. Ela cresceu com dificuldade ao lado de sua irmã. Está lá até hoje. Mas, para servir de testemunho contra quem a arrancou ela continua bem menor do que a outra... Que pena! A cidade seria muito melhor se tivesse mais palmeiras e menos maminha de porca!

Imagem de Manfred Richter por Pixabay 

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