Esvaziamento
Ajoelhado diante do crucifixo fui surpreendido, após muito tempo, que mantenho esse hábito matinal. Ao olhar para a imagem na cruz, per...
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Ajoelhado diante do crucifixo fui surpreendido, após muito tempo, que mantenho esse hábito matinal. Ao olhar para a imagem na cruz, percebi que o crucificado estava, praticamente, desnudo. Enquanto eu rezava, bem agasalhado e protegido do frio, ele permanecia contorcido em sua cruz, praticamente, despido. Sem roupa ele nasceu. Aliás, sem roupas, sem berço e sem os confortos básicos e necessários para acolher uma criança que vem ao mundo – “os pássaros do céu tem seus ninhos, as raposas as tocas, mas o filho do homem não tem onde reclinar a cabeça”. Maria a mãe do menino pobre sabia que nada no mundo acontece por acaso – “nenhum fio de cabelo cai sem o consentimento do pai”. Via seu filho, totalmente sem conforto, sobre palhas e, certamente, atado com algumas faixas de panos. Isso era tudo o que possuía naquele momento!
Maria, apesar de tanta pobreza, nunca duvidou da graça de Deus. Como toda boa mãe, certamente, sonhava com um futuro brilhante para seu filho. Quem sabe, ele não seria, mais tarde, um mestre da lei, ou escriba? Quem sabe, iria estudar ou consagrar-se a Deus? Essa, talvez, fosse a ideia que mais lhe agradasse. Já podia antever o seu filho, bonito como ele só, de cabelos compridos em sinal de consagração, ensinando no templo ou nas sinagogas... Em sua pobreza sonhava tecer para o filho uma túnica sem costura. O manto, quando pudesse, compraria em Jerusalém. A boa mãe jamais sonharia, naquele momento, com o sudário, manchado de sangue e com marcas de pregos! Muito menos, sonharia com o sorteio da túnica entre os soldados romanos...
Toda a vida de Jesus foi marcada pela simplicidade e pobreza. Um berço de palha foi tudo o que teve ao nascer e até mesmo a sepultura foi lhe emprestada, mais tarde. Quanta lição, podemos tirar de tudo isso! Vivemos numa sociedade de excessos. Parece que a felicidade consiste em amontoar coisas e colecionar novidades. Isso começa cedo. Os pais entopem os filhos com roupas e brinquedos. De certa forma, buscam compensar a grande ausência deles na vida dos mesmos. Jesus, com certeza, não teve excessos. Seus brinquedos, provavelmente, foram confeccionados por José e as roupas por Maria. Conheceu desde cedo o peso da vida dura. Ainda nos braços dos pais, teve que fugir para o Egito; com apenas doze anos perdera-se no templo e foi sempre incompreendido pelos conterrâneos. Em sua vida pode ter faltado muitas coisas, menos família. José, certamente, morreu no início de sua vida pública. Maria o acompanhou até ao calvário e, mesmo sem poder fazer nada, o confortou com sua presença de mãe.
A pobreza da Sagrada Família pode levar-nos a diversos questionamentos. Como o Filho de Deus, que tudo criara com o Pai, quis nascer tão pobre e vazio de si mesmo?
Não teria sido aquela família santa sua única e maior riqueza?
Que ajustes devemos fazer nas famílias para garantir o equilíbrio e a formação dos filhos?
O que os pais devem buscar para os seus filhos em primeiro lugar?
Pense nisso!