Filósofo das ruas

A Cidade de Pará de Minas ficou mais pobre na manhã de hoje,29/04/2014. Morreu Geraldo Medina, o "Filósofo das Ruas". Medina ...


A Cidade de Pará de Minas ficou mais pobre na manhã de hoje,29/04/2014. Morreu Geraldo Medina, o "Filósofo das Ruas". Medina não conhecia os corredores palacianos e pouco se importava com isso. Em seu estilo mineiro, ficava "assuntando" tudo, a partir de seu canto. Esse canto podia ser o banco da praça ou qualquer beco de rua. Aliás, ele conhecia muito melhor a cidade e seus becos, do muitos, que recebem por isso, e gozam do título de “representantes do povo”. “Medina das sementes” era o homem que sabia ouvir e observava tudo, sobretudo, o comportamento dos homens públicos. Não tinha medo de falar o que pensava, mesmo sem gozar da proteção das togas e de imunidade parlamentar. Falava o que muita gente queria falar. Por isso, a ele caberiam bem os títulos de Arauto popular e Sentinela das ruas... 
Ah, meus amigos, como eu não gostaria de estar falando essas coisas! Como gostaria que esse homem simples continuasse a ser um farol de alerta para uma sociedade adormecida como a nossa!  Medina tinha faro. Percebia quando alguma coisa não ia bem. Cobrava com veemência atitude dos homens públicos. Fazia o que, por dever, deveriam fazer, as cabeças pensantes da sociedade. Era um cristal não lapidado, que incomodava a elite acomodada em seus lugares! 
Esse homem, meus amigos, por seu jeito simples de ser e atuar, me fazia viajar no tempo. Conversando com ele, às vezes, tive a impressão de estar em Atenas, na antiga ágora a ouvir a voz de Sócrates. Assim como Medina, Sócrates, o grande filósofo grego, foi pobre e simples, mais incomodava demais! Comparava a si mesmo à uma mosca que ferroava constantemente uma égua preguiçosa chamada Atenas. Por ser assim, Sócrates era um homem de poucos amigos e foi condenado à morte.  As autoridade atenienses preferiram matar a mosca do que mudar de conduta. Sua vida e seu amor à verdade continuam inspirando ainda hoje, os homens de grandes ideais. 
Medina, não conhecia Sócrates e, talvez, nunca ouviu falar dele. Mas, também ele, foi um filósofo das praças. Ouvia os anseios do povo e a indiferença das autoridades.  Ao longo de sua vida tentou ajudar muita gente pobre e ganhou muitos amigos. Inimigos, talvez, não os tenha, pois até quem não gostava de ouvir suas críticas acabavam respeitando a opinião de um homem das mãos calejadas.
Hoje, a Cidade ficou mais pobre! Onde Medina parava reunia um grupinho para conversar. Passava a limpo a vida da cidade e a “cornetagem” corria solta.  Mas, se alguém precisasse dele, atendia na hora. Fez paçoca prá lá e prá cá. Levou alegria a todos e viveu intensamente a curta vida que teve. 
Vai com Deus, Medina. Arranje um cantinho no céu e prepare um banquinho para continuar a conversa com os amigos. Alguns já estão esperando lá, por você. Não se esqueça de reservar um cantinho no banco prá mim...

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