Podem pensar o que quiserem, mas que Dona Cornélia era maluca isso era. Então, como explicar que uma mulher adulta fizesse as necess...
Podem pensar o que quiserem, mas que Dona Cornélia era maluca isso era. Então, como explicar que uma mulher adulta fizesse as necessidades, naturalmente, atrás da cerca da horta? Naquele chão estercado nasceu um chuchuzeiro, mas na seca ele também se secou sobre a cerca de taquaras. Mesmo de longe, todo mundo via a cena íntima de Dona Cornélia, em plena luz do dia!
Para seu governo, uma de minhas travessuras envolveu, sabe quem? Nada menos do que a dita cuja. Dona Cornélia morava com seu marido numa fazenda cercada de mato. Margeando o ribeirão os eucaliptos se destacavam da mata nativa. Eles sempre provocaram minha imaginação. Mesmo depois de derrubadas aquelas árvores, de tamanho descomunal, se prestavam muito às nossas brincadeiras. A meninada pulava de galho em galho imitando macacos, enquanto, as árvores machucadas perfumavam o ar...
Alimentei, secretamente, por muito tempo, o sonho de escalar uma das árvores que ainda estava de pé. Para ser mais preciso, queria subir naquela que ficava próxima da ponte, uma das mais altas. A razão do sigilo era a certeza da geral reprovação. Certo dia, estando sozinho, manjei bem a árvore e nunca vi meu sonho tão perto de se realizar. Observei o tronco do eucalipto e vi que ele abrigava, próximo ao segundo galho, uma generosa caixa de marimbondos-tatus. Mas, o que seria aquilo para barrar um sonho tão secular? Definitivamente, não era hora de amarelar, pensei.
Próximo à cerca da horta havia muitos sabugos de milho. Apanhei três, dos que me pareciam menos suspeitos e meti-os no bolso da calça. Eles possuíam variadas grossuras. Comecei, então, o meu sonho dourado de escalar a árvore da vida! Quando estiver perto dos marimbondos fecho com um dos sabugos a entrada do ninho e então, adeus, pensei. Enquanto escalava, distraído, tomei um grande susto com um grito de pavor. Era Zezé, meu irmão, que previa o desastre em que eu me metia. Um ataque de vespas naquela situação seria fatal!
O grito aterrorizante do meu irmão não assustou somente a mim. Ainda sobre a árvore, vi quando alguém saiu, em disparada, detrás da cerca da horta. Dona Cornélia, assustou-se mais do que eu. Mais tarde, ela apareceu por ali, com cara de inocente, como se nada tivesse acontecido. No meu íntimo, tive uma grande certeza: Zezé hoje matou dois coelhos com uma paulada só!
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