Irmã Adélia

Uma boa estória nasce por decantação. Assim vou decantando, aos poucos, as falas que me chegam aos ouvidos. Após muitas falas de tive c...


Uma boa estória nasce por decantação. Assim vou decantando, aos poucos, as falas que me chegam aos ouvidos. Após muitas falas de tive com Ir. Adélia posso dividir com você algumas de nossas conversas engraçadas. Pode ficar tranqüilo não é segredo de confissão.

Ir. Adélia pertence à Congregação das Irmãs do Sagrado Coração de Maria e, reside em Pará de Minas, há vários anos. Inquieta por natureza, já percorreu muitas casas da congregação. Hoje, idosa por fora e jovem por dentro, Adélia continua a “mexer os pauzinhos”… Anda de lá prá cá, coça a cabeça, reza e faz seus planejamentos. Já morou em diversos lugares e fez muitas amizades. Quando morava em Cristalina, Goiás, ela disse-me que era encarregada das compras. Ia de bicicleta de um lado para o outro e assim, resolvia sua vida. Faltou carne na comunidade. Lá vai Ir. Adélia para o açougue em sua bicicleta azul. O açougueiro sem saber direito como encarar a “freira da bicicleta” resolveu despachá-la logo. Entre um pedido e outro se confundiu com os pacotes e amarrou um pacotão na “garupa da magrela”. Adélia agradeceu e saiu pedalando pelas ruas. Achou curioso que muita gente ria quando a via passar. Passou na porta de um bar e viu a moçada comentar algo apontando em sua direção. Pensou que pudesse estar descomposta e resolver verificar o que estava acontecendo. Parou a bicicleta e viu se desfazer, atrás de si, uma grande “procissão de cachorros”. Somente então, se deu conta que o açougueiro, distraído, colocou um pacote de ossos no embrulho que aquelas alturas já estavam descobertos e atraia toda a cachorrada da rua…

Outros dias aconteceu algo melhor com Ir. Adélia. Esqueceu-se de que não era mais criança e resolveu subir num baita pé de jabuticabas para saborear o fruto no pé. Para isso, se valeu de uma escada velha, que era transportada de lá prá cá pelos funcionários do colégio. Por acaso, naquele dia a escada estava bem ali, debaixo da árvore. Seduzida pela beleza das frutas, nem se deu conta, quando o funcionário do colégio passou debaixo do pé de jabuticabas e levou a escada. Adélia encheu bastante a barriga. Estando mais pesada que devesse resolveu descer do pé. Aí constatou a tragédia. Cadê a escada? Feito criança pôs-se a gritar até que alguém pudesse ouvir a voz daquela alma penada no auge do desespero na copa da árvore…

Finalmente, conto outra estória de Irmã Adélia. Essa se deu no canil do colégio. Adélia não é muito afeita a cachorros. Seja como for, prestou uma gentileza à Ir. Clarisse. Essa freira tem gosto pelos animais. Cria cachorros, galinhas e patos. Adélia, meio atrapalhada, resolveu tratar dos bichos, pessoalmente, naquele dia. Ninguém a avisou que a porta do canil, de vez em quando, se trancava sozinha. Assim, que entrou no recinto animal, viu com tristeza a porta se fechar atrás de si. Teve medo dos bichos. Ficou paralisada! Um dos cachorros não foi com sua cara. Voltar não poderia. Só restava pedir ajuda aos santos que entendessem de bichos. Assim, graças a S. Francisco de Assis, alguém ouviu aquela algazarra no galinheiro e, finalmente, libertou a freira de seu cativeiro…

Adélia é mais ou menos assim: um misto de fé e firmeza; de contentamento e inquietação. Só escrevi esse texto para expressar meu carinho por ela e pelas irmãs as quais aprendi a amar e admirar com o tempo. Adélia, cuidado. Qualquer dia você se embarca!!!

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