Música e mística
Já escrevi sobre a música e sua relação com a espiritualidade outras vezes. Mas, o tema é muito bom e por isso, retorno a ele. Fui insp...

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Já escrevi sobre a música e sua relação com a espiritualidade outras vezes. Mas, o tema é muito bom e por isso, retorno a ele. Fui inspirado por um texto recente de Corciolli, músico e compositor, publicado na Revista “Vida e Religião”, nº 09. No texto, a autor distingue música modal e tonal. A primeira engloba as tradições orientais, grega antiga e folclórica dos povos europeus e de diversos povos indígenas. A música tonal engloba toda a música ocidental conhecida, da alta Idade Média aos tempos atuais, compreendendo a música dos grandes compositores eruditos e populares. A música modal não tem autoria. Além disso, é investida de um poder terapêutico e sua prática é cercada de rituais. Em alguns casos, os instrumentos usados são primitivos e trazem na origem os testemunhos da vida e da morte: os tambores são feitos de pele de animais, as flautas de ossos, as cordas de tripas, e as cornetas de chifres...
Na cultura Guarani, acredita-se que a música seja o passaporte para o encontro com os espíritos habitantes das coisas existentes. No caso dos mundurukus e dos xavantes a música para ser cantada, primeiro deve ser sonhada por um dos participantes da tribo. Nesse caso, a música não tem autoria, pois a própria divindade é que se encarregou de revelá-la ao sonhador.
No Induismo, a música se apresenta como um espelho de ressonância cósmica. O canto dos homens nutre os deuses que dão vida ao mundo. Para os tibetanos a entonação dos mantras sagrados constitui-se em oração em seu aspecto meditativo e transformador.
Desde Platão até a Idade Média, era natural relacionar a música com a astronomia e a matemática. Pitágoras é que descobriu a base aritmética dos intervalos musicais. Ele é que estabeleceu a relação entre a freqüência das vibrações e a altura dos sons. Com base nesses conhecimentos os gregos estabeleceram notas musicais diferenciadas para cada planeta. Kepler um pensador moderno também afirmou esse postulado grego ao concluir que um planeta produz som mais grave estando longe do sol e mais agudo quando perto do mesmo. A música para os chineses não possuía função de entretenimento, mas, pedagógica. Ela transmite as verdades eternas e molda o caráter dos homens.
A música tonal cultua o indivíduo, no caso, o compositor. A platéia ouve a música e aplaude o talento de uma pessoa ou um pequeno grupo. Esse estilo de música é aquele que mais freqüenta nossos ouvidos. Estamos como que formatados para um único estilo ( norte-americano, sertanejo universitário...) e quando um outro tipo de musica nos é oferecido a gente se estranha. Além disso, a música modal é produto colocado à venda. Muitos ficam ricos, não porque tenham tanto talento, mas porque fez uma mídia melhor. Talento não é sinônimo de sucesso. Isso vale também para a literatura. Nem sempre os mais vendidos são os melhores.
Não estaria na hora de rever nossas gostos e opções musicais. A música que mais ouço, será mesmo a que mais gosto? Já tive acesso a outros formatos musicais para saber se gosto deles ou não? A música que tenho “consumido” ela me enobrece ou empobrece? Não estaria passando da hora de buscar uma música de melhor qualidade para minha família?