Ilha Deserta

Hoje senti vontade de mexer um pouco com minha imaginação. Por isso, pensei coisas diferentes como, por exemplo, a hipótese de ficar per...

Hoje senti vontade de mexer um pouco com minha imaginação. Por isso, pensei coisas diferentes como, por exemplo, a hipótese de ficar perdido numa ilha deserta. Comecei a perguntar-me o que eu faria nessa situação. Perguntar é mais fácil do que responder. Por enquanto, não estou perdido, ou pelo menos, penso assim. Aí vão alguns questionamentos:

Se eu ficasse perdido numa ilha deserta o que  faria? 
Bom, em primeiro lugar, é preciso saber se eu ficaria sozinho ou com outras pessoas. Isso, com certeza, faria toda a diferença. O ser humano não nasceu para ficar só. Precisamos dos outros até para fazer raiva na gente. Conforme a situação, a resposta, parece fácil. Apesar da beleza de certos filmes que pintam com heroísmo a sorte dos náufragos, eu, certamente, enlouquecer-me-ia se ficasse só e perdido. No começo poderia até ser que  me ajeitasse, mas depois...

Gostaria de fazer outro questionamento: 
Se eu ficasse com um grupo numa ilha deserta, como estabeleceria relações com ele? 
Aí, também surgem novos questionamentos: Será que meus pares teriam a noção de que também eles estariam perdidos? Será que reproduziríamos a mesma lógica de dominação que impera nos continentes. Aliás, você se lembra do Robinson Crusoé, simpático personagem do universo infantil? Lembra-se que ele, ao ver o primeiro homem, após ter se naufragado, acabou estabelecendo com ele uma relação de dominação? Foi ele quem o nomeou “Sexta-feira” sem saber se o outro não gostaria de dar um nome para si mesmo; Foi ele quem colocou o pé sobre a cabeça de “Sexta-feira” reduzindo-o à servidão; Foi ele quem reproduziu o inferno... Será que a “doença” de 

Crusoé, não me acomparia na ilha?
Não sei não, mas, provavelmente, levaria para uma ilha deserta todos os fantasmas que povoam o porão de meus pensamentos ou inconsciente. Caso ficasse só, e perdido na ilha, seria capaz de suportar a mim mesmo, ou procuraria logo um jeito de fazer fumaça em busca de resgate? Se a gente não suporta a própria companhia não seria querer demais que outros a suportassem?  

Como seria minha relação com Deus se eu estivesse totalmente sozinho? Estabeleceria com Ele uma relação de confiança ou fabricaria meus próprios deuses? É bom lembrar, que as duas alternativas, costumam marcar a vida de todos nós, independente de estarmos perdidos ou não.  Faria como Adão, que se escondeu de Deus após pecar no paraíso, ou faria como Jonas, que resignadamente deitou-se sob um coqueiro e pediu a morte para não aceitar o seu fado? 

Numa ilha deserta teria menos medo do que no mundo habitado? O que recriaria a partir do modelo antigo e o que plantaria de novo? Como seria minha experiência do amor caso não tivesse ninguém para amar? Será que o amor simplesmente desapareceria? E por que será que ele anda tão desaparecido de nosso mundo habitado?

As perguntas, quase sempre nos ajudam a buscar o objetivo de nossas vidas. Estando na ilha deserta ou não, o quê, afinal, dá sentido para nossa vida? Não sou Robson Crusoé e nem estou perdido no grande oceano, embora confesse que o bailar das ondas, às vezes, me deixa tonto. Apesar disso, continuo navegando, afinal: Navegar é preciso, viver não é preciso (Fernando Pessoa).

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