O homem de avental
A tarefa era, de fato, ignóbil. Reservada aos piores escravos! Ninguém gostava de cumpri-la. Mas, na noite de Páscoa, Jesus prendeu ...

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A tarefa era, de fato, ignóbil. Reservada aos piores escravos! Ninguém gostava de cumpri-la. Mas, na noite de Páscoa, Jesus prendeu uma toalha à cintura e lavou os pés dos discípulos. O ambiente era de alegria. Afinal, celebrava-se a páscoa, uma festa muito antiga do judaísmo. Jesus, certamente, providenciou o local em segredo. Se tivesse feito alarde, talvez, Judas tivesse antecipado a traição. A “hora”, no entanto, foi marcada por Cristo e não por Judas…
Ele sabia que chegava a hora em que ia partir desse mundo. Por isso, ardentemente quis comer a páscoa com os seus. O cordeiro, certamente, já estava marcado por ele mesmo, o Divino Cordeiro. Antes do por do sol o costume mandava sacrificá-lo. Três taças de vinhos eram servidas intercaladas com orações, ervas amargas, pão sem fermento e um gesto único de lavar os pés. Pedro e João foram enviados a Jerusalém para preparar o local que, certamente, já havia sido escolhido por Jesus. A senha era a seguinte: – À entrada da cidade encontrareis um homem com um cântaro de água na cabeça (Lucas 22,8). Segui-o até a casa onde ele entrar. Ele vai indicar um salão no piso posterior. Nesse local, preparem a páscoa, disse Jesus. Carregar água era tarefa reservada às mulheres. Um homem carregando um cântaro de água não era muito comum. Por isso, seria fácil identificá-lo. Aliás, em se tratando de Jesus nada era comum.
Na época da páscoa, muita gente acorria para Jerusalém. Todos queriam participar dessa festa carregada de sentido. O sangue do cordeiro lembrava o antigo acontecimento do êxodo, quando Israel foi salvo do anjo exterminador ao marcar suas portas com o sangue do animal (Êxodo 12,7). As ervas amargas lembravam as amarguras de outrora, quando o povo de Deus vivia como escravos no Egito. Comer o pão sem fermento, de pé e com os rins cingidos, lembrava a pressa com que saíram da escravidão. Tudo isso, certamente, foi vivenciado na última ceia de Jesus. O dado novo aparece no gesto de lavar os pés dos amigos. Era tão inédito, que Pedro recusou em aceitá-lo. Pedro via a sociedade como a maioria de seu tempo: – Uns nasceram para servir, outros, para serem servidos. Nesse caso, ele é quem deveria servir. Jesus, no entanto, coloca esse gesto como condição para segui-lo. “Se eu não lavar-lhe os pés, não terás parte comigo…”. Essa “conversão de cento e oitenta graus” era, e ainda é necessária, para quem se dispõe a seguir Jesus. Quem tem poder deve servir e não buscar ser servido!
Após esse gesto bonito, uma triste notícia: – Um de vós vai me trair… Meu Deus estava tudo indo tão bem! Por que esse aviso sinistro exatamente durante a páscoa? Um a um os apóstolos começam a fazer uma auto-avaliação. Serei eu, Senhor? Judas também faz a mesma pergunta e recebe resposta afirmativa. Certamente Jesus, falou baixo olhou para ele com olhar de tristeza. Só quem foi traído entende essa dor! Como última tentativa de reconciliação, Jesus oferece-lhe o pão com molho. De nada adiantou. A decisão estava tomada. Por isso, ele sai depressa e se exclui do grupo. Nesse momento era noite, diz o evangelho. A noite da traição doeu em Jesus e mais ainda no traidor que acabou não suportando o que fez. Nesse momento, Jesus toma o pão e diz: – Isso é o meu corpo. Ao tomar o cálice de vinho afirmou: – Esse é o cálice do meu sangue. Estava celebrando a primeira missa! Ele o sumo sacerdote, oferecendo-se a si mesmo como vítima pelos nossos pecados!
Hoje, em cada missa, Cristo novamente se oferece ao Pai inteiramente. Por Ele, com Ele e nEle a comunidade de fé também se oferece ao Pai do Céu. Isso é páscoa! Isso é missa! A missa, na verdade é uma páscoa continuada por todos os tempos e em todos os lugares! Mas, não se esqueça: – a primeira missa foi celebrada por um Deus que se fez menos do que um homem. Fez-se servo, e com um avental preso à cintura lavou os pés dos discípulos!
Imagem de falco por Pixabay
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