O Peregrino

A visita chegou bem na hora. Estava com a mente preguiçosa e precisava de algo que me inspirasse a escrever. Sr. Ari Altivo, Sô Vivi...


A visita chegou bem na hora. Estava com a mente preguiçosa e precisava de algo que me inspirasse a escrever. Sr. Ari Altivo, Sô Vivico, como é conhecido chegou-me com um convite inusitado. Chamou-me para acompanhá-lo caminhando até a Cidade de Conceição do Pará ,no próximo dia 08 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição. Até aí tudo bem. Afinal, muitos romeiros se dirigem à Conceição do Pará nesse dia. O detalhe é que Sô Vivico está com 68 anos e vai tocando sua sanfoninha  estrada à fora. 

Aproveitei sua presença para conversar com ele e saber mais sobre sua vida. Ele me disse muita coisa bonita e faço questão de registrar parte dessa conversa:

Sô Vivico mora em Brás Correa, Comunidade Rural do Município de Pará de Minas. Foi casado durante quarenta anos e sofreu muito com a doença da esposa nos últimos dez anos até que ela veio a falecer, recentemente. Criou muitos filhos e hoje já é avô. Homem de grande simplicidade e acostumado com a vida dura nunca perdeu a fé em Deus. A doença da esposa foi para ele uma verdadeira provação. "Ao lado de minha mulher, eu me assentava, muitas vezes, para tocar a sanfona na tentativa de alegrá-la um pouco", afirmou. Ela, quando viva, dizia que a parte mais bonita de meu corpo eram meus braços. Hoje, compreendo que ela tinha razão. Esses braços a carregaram por mais de oito anos, contou-me na entrevista.

Todos os anos Sô Vivico vai a pé para Conceição do Pará. Disse que sai de casa por volta de 18 horas e caminha quase a noite toda. Chega ao final da viagem às cinco horas da manhã. Mas, não gosta de pensar nas dificuldades da caminhada e sim na alegria da chegada. Ao final da peregrinação, procura abraçar a santa, pois "não tem nada melhor que um abraço demorado". Depois retorna para casa com a sanfona no ombro para começar tudo de novo no próximo ano. A sanforna serve para encurtar a estrada e alegrar os companheiros de viagem. Em torno dela sempre se forma um grupinho de peregrinos que canta músicas alegres e tristes, pois a vida é recheada de tudo isso. 

A vida se parece uma grande estrada. O Céu é a chegada. Pensar na chegada ajuda a aliviar as amarguras do presente que muitas vezes se assemelha a um vale de lágrimas. Na caminhada acontece de tudo. Alguns caem simplesmente para testar a solidariedade dos outros. Uns se lamentam o tempo todo tornando a caminhada mais difícil do que já é. Mas, outros cantam, tocam sanfona e, mesmo apesar da idade, dão um show de fé e de amor a vida. Sô Vivico faz parte desse grupo. Para ele tiro meu chapéu!

Imagem de analogicus por Pixabay 

Related

Praga de padre pega? Se pega!

 Praga de padre pega, ou não pega? Você decide! Sou suspeito para falar e, por isso, me calo. Mas, o “meu colega de farda” hoje falecido, Pe Zabelinha, que trabalhou em Pitangui, em outros carnav...

Joaquina do Pompéu – Um noivado que quase deu morte.

 Naquele tempo, um noivado poderia acontecer quando a menina tivesse 11 anos e o casamento só depois dos doze. A última coisa que interessava era a vontade da noiva. Tudo deveria ser acertado com...

O último desejo do enforcado

Pelo visto, o fato ocorreu bem perto de nós, mais precisamente, na Cidade de Pitangui. Como você sabe, Pitangui arrasta séculos de história! É uma pena que boa parte dela seja apagada pelo tempo e pel...

Postagem mais antiga Estilita e colunista
Postagem mais recente Cobras

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário

emo-but-icon
:noprob:
:smile:
:shy:
:trope:
:sneered:
:happy:
:escort:
:rapt:
:love:
:heart:
:angry:
:hate:
:sad:
:sigh:
:disappointed:
:cry:
:fear:
:surprise:
:unbelieve:
:shit:
:like:
:dislike:
:clap:
:cuff:
:fist:
:ok:
:file:
:link:
:place:
:contact:

Vídeos

Mais lidos

Mais lidos

Parceiras


Facebook

item