Pedido de socorro

Meus amigos poetas

Suplico-lhes emprestado

Um verso que possa

Traduzir o que sinto

Um misto de dor e alegria

Algo que  nasce das veias

Algo que fale do belo

E que me faz ficar mudo.

Meus amigos poetas

Venham logo socorrer-me

Antes que seja tarde

Antes que eu seja engolido

Nas brumas do esquecimento

E nas valas da saudade.

Quero escrever  com sangue

Nas pedras duras do tempo

E embriagar-me

Nos versos da poesia

Com ela falo sem dobras

Ferindo o branco do papel

Com  rastro de tintas pretas.

Meus amigos poetas

Emprestai-me os seus versos

Que possam falar de mim

O que eu mesmo não sei dizer.

Sinto paz e sinto amor

Mas, sinto acima de tudo

Uma dorzinha tão boa…

Não sei se é fome de Deus

Ou sufoco dele mesmo.

Meus amigos poetas

Venham todos em meu socorro.

Me ajudem a falar do belo

Que luta dentro de mim

Pelo direito de nascer.

Me ensinem  trançar  palavras

Num arranjo feito de letras

Chamado verso poético.

Sou pobre e rastejo

e rastejando salivo

Diante da beleza que diariamente me tortura

E me deixa saboreá-la

Apenas em conta-gotas.

O que fiz de tão cruel,

Que mal tremendo cometi?

Que não tenha o direito

De morar para sempre

Nos aposentos da beleza

Que a poesia aprisiona?

Amanheci doente

De um mal que não tem cura

Estou apaixonado

Por tantas pequenas coisas

Que por mais simples que sejam

Carregam um sinal de Deus.

Onde está o meu Senhor,

A beleza suprema

Que se me mostra e se esconde

Só para brincar comigo?

Quero ter o direito

De desfrutar por inteiro

O que vejo só em pedaços!

O meu Deus,

Pelo amor de si mesmo

Venha ao meu encontro

Pois a morte é pequena

Diante do que desejo.

Mas, que pena que só vejo

Por meio de uma vidraça.

Dou voltas em torno de tudo

Mas sempre paro em Deus.

Não faça isso comigo

Não mereço essa dor

De vê-lo e não possuí-lo.

Nunca mais falarei de você

Se me negas mais um pouco

Do que por direito tenho.

Ainda penso ser seu filho

Mas, sou carente e lhe peço,

Não me esconda sua face…