Progresso

É interessante refletir sobre o progresso. Esse conceito nos acompanha há muito tempo e figura-se com ostentação bem ao centro de nossa...


É interessante refletir sobre o progresso. Esse conceito nos acompanha há muito tempo e figura-se com ostentação bem ao centro de nossa bandeira. 


O que é progresso? Quando visitei, certa vez, um acampamento de Sem-terra, chamou-me a atenção, o lema escrito numa de suas bandeiras. "A ordem é ninguém passar fome e o progresso é o povo feliz".  Não quero entrar no mérito da frase. O "povo" ao qual se referia, obviamente, deveria ser os militantes da causa. De qualquer forma, achei a frase  bastante curiosa.

Será que podemos associar a idéia de felicidade ao conceito de progresso? Progresso, são as parafernálias das tecnologias? Certamente, a maioria das pessoas fará essa associação. Nesse caso, o progresso chegou-nos com as indústrias automobilísticas, os novos meios de comunicação e o grande número de fábricas que entulham nossas casas de quinquilharias. Vivemos, então, no bojo do progresso. Mas, somos mais felizes que nossos antepassados das cavernas?  Os indígenas, preservados pelo vírus mercadológico da sociedade de consumo, são menos felizes do que nós? Não sei, mas, me parece muito ideológica essa associação de progresso com felicidade. O homem progrediu, não resta dúvida. Já controla as bactérias e a genética das espécies. Pode, inclusive, usar esse conhecimento astronômico para produção de armas químicas…

O Iluminismo, movimento filosófico europeu, que marcou o início da modernidade deixou fundo os seus rastros pelo mundo. Por oposição à fé, os pensadores iluministas acreditavam que o homem poderia ser emancipado pelo poder da razão. A natureza deixou de ser contemplada como um lugar de mistérios para ser experimentada e torturada em laboratórios. Seu papel, era responder às interrogações dos cientistas. Uma vez controladas e mapeadas suas regularidades, o cientista poderia prever, até mesmo, o futuro… O conhecimento, nesse caso, seria o elemento emancipador do sujeito. Iluminar, quer dizer clarear, tirar as dobras que abrigavam os cantinhos escuros. Somente a razão poderia explanar (tornar plano) sobre os mistérios da vida e da morte. Uma vez controlada, a natureza poderia ser explorada como fonte inesgotável de recursos para alimentar as indústrias para que, finalmente o homem pudesse ser emancipado. Hoje, a natureza exausta da depredação prova o equívoco desta idéia.  Nasce aí, a associação de progresso com parafernália tecnológica e seus frutos. 

A indústria nunca produziu e vendeu tantas coisas! Atualmente,  temos soluções para tudo. No campo da medicina quase tudo é possível, mas o homem continua a morrer com dor de barriga. Aqui retomo a frase dos "Sem-terras": – Progresso é o homem feliz… Apesar de tantos avanços o homem está mais feliz? Às vezes, penso que o homem progrediu em alguns aspectos. Em outros, continua um troglodita. O progresso chegou esquecendo a ética para trás. O homem ainda continua a ser o lobo do outro homem; a natureza deflorada pela voracidade do capitalismo já cobra uma reparação pelos danos sofridos; a indústria bélica tem crescido assustadoramente. Assistindo a tudo isso, será que progredimos? Que progresso é esse que se volta contra o homem, contra a natureza e contra Deus? Não penso que devemos voltar para as cavernas e nem cultivo a idéia do bom selvagem. Creio, que precisamos com urgência rever o nosso conceito de progresso…

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