Santo Antônio militar

Santo Antônio chegou ao Brasil pelas mãos dos portugueses. E como tudo ganha um novo colorido por aqui, com o pobre santo a coisa não fo...

Santo Antônio chegou ao Brasil pelas mãos dos portugueses. E como tudo ganha um novo colorido por aqui, com o pobre santo a coisa não foi diferente. O mais improvável aconteceu: foi considerado chefe militar com salário e tudo!
Espanha, Portugal e Brasil acharam por bem incluir Santo Antônio em meio aos soldados nas diversas guerras que empreenderam pelo mundo. É sabido que em 1668, Dom Pedro II expediu decreto ordenando o santo a “sentar praça” no 2º regimento de infantaria. Ele começou de baixo, como se percebe, mas acabou chegando à patente de capitão em 1780. A carreira militar do santo decolou mesmo foi no Brasil. Durante o período colonial,  vários estados lhe ofereceram patentes, nas mais diversas especializações. Em Pernambuco chegou a ser Tenente de Artilharia e em Vila Rica-MG, Capitão de Cavalaria. Em 1814 Dom João (futuramente Dom João VI), promoveu Santo Antonio à Tenente-Coronel de Infantaria.
Quando Duclerc, Almirante francês, invadiu o Rio de Janeiro em 1710, o Governador Francisco Castro de Menezes ordenou que a imagem de Santo Antônio fosse mostrada a todos no alto de seu convento no Largo da Carioca. Por coincidência ou milagre o almirante acabou sendo derrotado. Em todas as campanhas nas quais o santo foi designado como combatente ele teve o seu salário. Só foi para a reserva na instauração da República graça a um decreto do Marechal Hermes da Fonseca.
Mas, de onde apareceu a  ideia de conferir patente ao santo franciscano que, pelo visto, nunca tomou gosto pela carreira militar? De acordo com Sandro Gomes, em seu livro: “Os Santos mais populares do Brasil” publicado pela Nova Terra Editora – RJ, tudo começou com a obra  “ Reminiscências da Viagens do Brasil” do Pastor Daniel Kidder, na primeira metade do Séc XIX. A história é a seguinte: Consta que um grupo de franceses coordenados por calvinistas partiu da Europa com a determinação de invadir e se instalar na Bahia. Antes de chegarem à costa brasileira passaram por uma pequena ilha pertencente a Portugal, onde promoveram depredações e saques. Dentre os objetos de que se apoderaram estava uma imagem de Santo Antônio. Durante a viagem para o Brasil ocorreu-lhes muitos problemas, incluindo naufrágio, pestes e maremoto. Como uma forma de desrespeitar o catolicismo, infligiram à imagem vários maus-tratos e mutilações. Quando a embarcação chega ao Brasil, no porto de Sergipe, os poucos tripulantes que ainda restavam acabaram sendo presos e foram mandados para a Bahia. No caminho encontraram na praia, trazido pelas ondas, a imagem que tinham profanado. O fato foi interpretado como uma ação de Santo Antônio derrotando as ideias infelizes dos calvinistas…
No sincretismo religioso que também marcou e ainda marca a cultura brasileira, Santo Antônio foi identificado com Ogum, Orixá guerreiro. Aqui, mais uma vez, o santo teve que seguir treinamento militar e vestir-se de soldado.
Para você que até hoje considerou Santo Antônio apenas como casamenteiro, fica mais essa informação: Ele não entende apenas de corações flechados, mas também de artilharia pesada! Não sei se dá para aproximar as duas coisas embora em alguns casamentos também se usam fuzis e metralhadoras... Deus me livre! Coitado de Santo Antônio. Mais esse fardo para ele já é demais!

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