Sem perder a ternura

Numa determinada cena do filme “Olga”, do diretor Jayme Monjardim, aparece Carlos Prestes costurando uma peça de roupa para sua amada. ...


Numa determinada cena do filme “Olga”, do diretor Jayme Monjardim, aparece Carlos Prestes costurando uma peça de roupa para sua amada. A cena chegou a provocar alguns comentários da crítica que viu na trama uma minimização do personagem.
Em resumo o filme trata-se de Olga Benario, uma judia alemã, que abandona a família para se dedicar à militância política no partido comunista de seu país…

Por volta da década de 30, enquanto estava na Rússia, recebe a missão de se passar por mulher do brasileiro Luis Carlos Prestes durante seu retorno ao Brasil, onde entrará clandestinamente. Ao longo da viagem os dois se apaixonaram de verdade e Olga acabou ficando no Brasil ao lado de Prestes para ajudá-lo a derrubar a ditadura de Getúlio Vargas. O plano falhou e os dois acabam presos. Mesmo grávida Olga é deportada para a Alemanha nazista e morre num campo de concentração.

Há um lado dos personagens bastante conhecido por todos. Eram pessoas politizadas, idealistas e sonhavam com um mundo melhor. Dificilmente, quem caminhou para ver o filme imaginava ver o lado sensível do herói ainda virgem em plena maturidade. Pelo visto, a obra retratou a vida de quem foi criado apenas entre mulheres. Com elas, além de tantos valores retratados na obra, Prestes herdou também grande sensibilidade e ternura.

A cena mostrada no filme lembrou-me de outro mito brasileiro que, pelo visto, também costurava as roupas que usava e as roupas para sua amada. Trata-se de Virgulino Ferreira, o lampião. Homem do cangaço acostumado a matar na vida dura do sertão, ele se derretia todo diante de Maria Bonita a quem chamava de “Dona Maria”. Virgulino Ferreira da Silva nasceu em Pernambuco em 1898. Dizem que tinha um belo porte, 1,79m de altura e cabelos longos. Era forte e muito inteligente. De tanto ver o cano do fuzil de Virgulino até vermelho, após tantos tiros trocados com a volante (polícia), seus amigos o apelidaram de lampião. Essa imagem de homem forte não consegue esconder que também ele carregava sua cota de ternura.

Nos dois casos há uma diferença entre ser homem e ser macho. Ninguém precisa fazer nada para provar que se é macho. Ser macho não é conquista é dado da natureza. Ser homem, no entanto, é mais difícil. Homem se constrói. Ser homem é ser capaz de amar e demonstrar carinho. Não basta ter vigor é preciso ternura. Talvez nem Olga ou Maria bonita tivesse o que reclamar dos seus homens. Apesar da valentia e ideologia esses homens foram capazes de demonstrar amor e carinho. Existem muitos “machos” que são incapazes dos mesmos gestos. Nesse ponto, de nossa conversa poderíamos também lembrar da célebre frase de Che Guevara, revolucionário argentino que inspirou tantas obras: “Resitir sempre …. hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás”

Todos sabem que São José era homem ligado ao trabalho pesado. Era carpinteiro e lutava com dificuldades para viver. Apesar do trabalho bruto não era embrutecido. Caso contrário, não seria escolhido por Deus para proteger Maria e o Menino Jesus. A tradição aprendeu e esculpir sua imagem com o menino em um dos braços. Na outra mão ele carrega um lírio e não um martelo. Vejo nessa representação que a ternura do homem José, não ficou do lado de fora na representação de sua imagem. Olhando esse quadro muitas vezes me perguntei: qual mulher não gostaria de ser esposa de um homem assim? Vamos refletir sobre isso…

Related

Um médico e um padre tentando salvar uma vida

Numa manhã calorenta, de um dia qualquer, um padre do interior foi chamado, às pressas, para ungir uma senhora muito enferma que morava na roça. Sem demora, ele atendeu ao chamado pois, se atrasasse p...

Uma palavrinha aos tristes...

 Deus não precisava e nunca precisou, nem de mim nem de você para ser quem Ele é. Apesar disso, criou-nos, com inteligência, memória, vontade, imaginação e uma língua capaz de louvá-lo e agradecê...

Minha pobre unha encravada...

 Hoje, quando tantos se preocupam com a estética corporal, preocupação que vai da raiz do cabelo à sola dos pés, exibo, sem constrangimentos, minha pobre unha encravada.  Exibir é a palavra ...

Postagem mais recente Choro
Postagem mais antiga Vingança da Flor

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário

emo-but-icon
:noprob:
:smile:
:shy:
:trope:
:sneered:
:happy:
:escort:
:rapt:
:love:
:heart:
:angry:
:hate:
:sad:
:sigh:
:disappointed:
:cry:
:fear:
:surprise:
:unbelieve:
:shit:
:like:
:dislike:
:clap:
:cuff:
:fist:
:ok:
:file:
:link:
:place:
:contact:

Vídeos

Mais lidos

Mais lidos

Parceiras


Facebook

item