A cura pelo sorriso

O que vou falar agora é muito sério. Vou falar do poder de um sorriso. Começo contando uma história real. Aconteceu com Santa Terezinha do Menino Jesus no dia 13 de maio de 1883.

Terezinha teve motivos de sobra para chorar. Nasceu muito doente e, por causa disso, com poucos dias de nascida, teve que deixar a família, por certo tempo, para morar com uma enfermeira que cuidou de sua saúde. Perdeu quatro irmãozinhos, sendo dois homens e duas mulheres. Sua mãe faleceu quando ela contava quatro anos. Mudou-se, de sua terra natal, saindo de Alençon para Lisieux (França), deixando para trás, “o brinquedo e o pé de fulo”, conforme nos diz a música “Triste Partida”, de Luiz Gonzaga ao tratar-se da imigração do nordestino fugindo da seca.

Assim que sua mãe morreu ela adotou Paulina, sua irmã como uma segunda mãe. Nos seus escritos biográficos confessa o quanto gostava dessa irmã. Mas, um dia Paulina decidiu entrar para o Carmelo e seguir a vida religiosa. Tereza perdia a segunda mãe. A dor foi tanta que adoeceu de ir para cama. Pensava que ia morrer. Tinha dores de cabeça e calafrios. Através de cartas,  Paulina tentava consolá-la. Mas, de nada adiantou. Suas noites eram terríveis e ela sofria imensamente sem que ninguém pudesse consolá-la. Sua cura aconteceu em 13 de maio de 1883 conforme nos relata:

De repente, a Santíssima Virgem me pareceu bela, tão bela, como nunca tinha visto nada tão formoso. O rosto irradiava inefável bondade e ternura, mas o que me calou no fundo da alma foi o “empolgante sorriso da Santíssima Virgem”.  Nesta altura, desvaneceram-se todos os meus sofrimentos. Das pálpebras me saltaram duas grossas lágrimas e deslizaram silenciosas sobre as faces. Eram lágrimas de uma alegria sem inquietação... Oh! Pensei comigo, a Santíssima Virgem sorriu para mim, como sou feliz!... Mas, nunca jamais o contarei a ninguém, porque então desapareceria minha felicidade. Sem nenhum esforço, baixei os olhos e enxerguei Maria (sua irmã) que olhava para mim com amor. Parecia emocionada e dava impressão de suspeitar o favor que a Santíssima Virgem me concedera. (História de uma alma, Nº  94 – Anos dolorosos).

Ao ler esse relato, escrito pela própria santa fico imaginando a beleza de tal visão. A Mãe do Céu veio em socorro de uma criança pura que sofria uma sequencia de perdas e não estava conseguindo processar tanto sofrimento. Qual foi o remédio que ela recebeu de Maria Santíssima? Apenas um sorriso! Apenas? Isso, já não seria bastante para espantar toda sombra de dor e tristeza? Certamente que sim!

Acho que podemos aprender muito com essa lição. De cara feia o mundo está cheio! No filme “O nome da rosa” existe uma passagem, sobre o riso, da qual me lembro muito:      Benengar, um dos monges, mostrados no filme, se assusta com a presença de um rato. Os outros irmãos riem, mas, irmão Jorge se enfurece com o riso porque, segundo ele, os monges não deveriam rir. Disse que nada nas escrituras afirmavam que Jesus tivesse sorrido. Então, conclui que: Rir é pecado. Um monge não deveria rir.  Só gente tola ria à toa! Riso seria coisa do diabo. “O riso deformava as linhas do rosto e tornaria os homens semelhantes aos macacos”; "Ele matava o temor e sem o temor não poderia haver fé!"

Irmão Jorge, curiosamente, era o mais parecido com um bicho. Sua seriedade exagerada parece não tê-lo livrado da terrível aparência que procurava evitar. Aliás, não conheço história alguma de bicho que sabe sorrir. Talvez, esse privilégio, Deus tenha reservado apenas aos seus filhos. Rir é um grande remédio. Serve para aliviar nossas tensões e estabelecer um clima de boa convivência. Toda criança gosta de rir. Mas, a gente vai crescendo e se tornando sisudo demais. Talvez não devêssemos levar tanta coisa que não são sérias com tanta seriedade. Quem sabe poderíamos nos curar de muitas doenças cultivando o sorriso e o bom humor. Bastou um sorriso da Virgem Maria para mudar a vida de Santa Terezinha. Com um simples sorriso você também pode mudar a vida de alguém. Pense nisso!

Imagem de Robert Cheaib por Pixabay