Tapa na cara
Já contei essa história algumas vezes. Ela aconteceu quando fui seminarista em Belo Horizonte. Na época, eu cuidava da horta. Como...

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Deus tem o seu tempo para tocar no coração de cada um. O que era meu estava guardado até o dia em que fui visitado por duas mulheres pobres. Aconteceu numa manhã de sábado enquanto eu cultuava meu pequeno ídolo de quintal. Elas bateram à porta para pedir ajuda. Pobre não é bobo. Certamente, já haviam manjado a horta. Foram direto ao ponto: O senhor - chamaram-me de senhor - poderia dar-nos algumas folhinhas de couve? Usaram o discurso politicamente correto para pedir ajuda. Tudo no diminutivo: folhinha, ajudinha, punhadinho... Isso é um recurso para amenizar a dor da vítima que, no caso, é quem vai tomar a facada!
Diante do exposto raciocinei rápido interrogando-as: - As senhoras andam sempre juntas? Assim, fica mais difícil poder ajudar. Nem sempre o que tenho para uma, dá para as duas... Sem dar pela gravidade da coisa, acabei me traindo e confessando meu egoísmo. Ele estava implícito na lógica do “cada um para si”. Uma das mulheres, a mais velha, pelo visto, olhou-me, sem entender e disse: Olha moço, não tem problema não. Se a gente ganha uma única folha a gente divide... Naquele instante, não era mais a mulher que dizia. Era Deus que me dava um tapa na cara para eu deixar de ser egoísta. Passava longe de mim, a lógica da partilha.
Jamais me esqueci daquela lição! Lembrei-me, então, daquela viúva mostrada no Evangelho (Lc 21,1-4). Ela foi ao templo de Jerusalém para fazer a sua oferta. Não disse nada, mas deu as únicas moedinhas que possuía. Não viu que Jesus a observava. Nem seu nome aparece no texto. Mas foi capaz de oferecer toda sua fortuna, ou seja, duas moedas de pouco valor.
Será que ela não pensou no dia de amanhã? Será que não passou dificuldades por causa desse gesto? - Certamente, não. Afinal aquele que cuida dos pássaros do céu e dos lírios do campo, não iria cuidar dessa pobre viúva? Além do mais, Jesus afirmou que é dando que se recebe. A mulher deu tudo o que tinha. A grandeza de seu gesto, certamente, foi recompensada por Deus.
Hoje continuo plantando couves. Mas, não mais da mesma maneira...
Imagem de Alexas_Fotos por Pixabay
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