Vianney: poeta do coração líquido
São João Maria Vianney não foi um grande expoente nos estudos nem sequer uma referência intelectual em seu tempo. Pelo contrário, tinha ...
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São João Maria Vianney não foi um grande expoente nos estudos nem sequer uma referência intelectual em seu tempo. Pelo contrário, tinha a mente “rebelde aos estudos” e só a muito custo concluiu sua teologia. Por outro lado tinha uma sabedoria infusa própria daqueles que sabem por o coração em Deus. Assim, pode ser colocado ao lado de outros místicos e poetas, que também tiveram os “corações líquidos”, isto é, sensíveis, mansos e embebidos no amor de Deus. Quem tem o coração de pedra faz, exatamente, o contrário: não se sensibilizam com nada nem mesmo com seus próprios abismos...
A sabedoria do Santo Cura não veio dos livros, mas de uma alma mergulhada nos mistérios de Deus. Tornou-se um perfeito oráculo revelando o próprio Cristo àqueles que o consultavam. Era um grande poeta embora não suspeitasse disso. Com profunda sensibilidade colhia exemplo simples da natureza para falar de coisas profundas:
Uma vez, dizia ele, eu ia ver um doente; era primavera; as moitas estavam cheias de passarinhos que atormentavam a cabeça a cantar. Eu achava prazer em escutá-los e me dizia: Pobres passarinhos não sabem o que estais a dizer! Que pena! Estais cantando os louvores de Deus!
Sobre a nossa relação com Deus afirmava:
Quanto mais conhecemos os homens, tanto menos os amamos. É o contrário em relação a Deus: Quanto mais o conhecemos, tanto mais o amamos. Esse conhecimento abraça a alma com tão grande amor, que ela não pode mais amar nem desejar senão a Deus... O homem foi criado por amor; é por isso que é tão propenso a amar. Por outro lado, é tão grande que nada o pode contentar na terra. Só quando se volve para o lado de Deus é que fica contente... Tire um peixe fora d’água, ele não viverá. Pois bem! Eis o homem sem Deus...
Somos obra de Deus. Somos-lhe sempre a obra... Compreender que somos obra de um Deus é fácil; mas que a crucificação de um Deus seja obra nossa!!! Eis o que é incompreensível...
A graça de Deus ajuda-nos a andar e ampara-nos. É-nos necessária como as muletas aos que sofrem das pernas...
Qual pomba branca que sai do meio das águas e vem sacudir as asas sobre a terra, o Espírito Santo sai do oceano infinito das perfeições divinas e vem bater asas sobre as almas puras, para destilar nelas o bálsamo do amor...
A alma pura é uma bela rosa, e as três pessoas divinas descem do Céu para lhe respirar o perfume...
Mais depressa Deus perdoará um pecador arrependido do que uma mãe tirará o filho do fogo...
Na alma unida a Deus reina sempre a primavera...
Essa última afirmação poética bem que poderia ser aplicada ao próprio Vianney. De fato, em sua alma de homem simples, reinou sempre a primavera, mesmo nos tempos das “tentações de desespero”, um pavor ao constatar suas próprias misérias e vislumbrar as maravilhas de Deus. Pe. Vianney via os rastros de Deus na natureza por Ele criada e tirava da mesma, os grandes exemplos para seus ensinamentos. Fazia isso sem perder a candura dos simples e a sensibilidade poética...