A “artista” da foto é minha amiga Vitória. É uma cozinheira de mão cheia. Vitória não tem nem pecado mortal! Seu nome completo é Vitór...
A “artista” da foto é minha amiga Vitória. É uma cozinheira de mão cheia. Vitória não tem nem pecado mortal! Seu nome completo é Vitória Rosa da Silva. É vitória porque já sobreviveu a diversos terremotos; é rosa porque perfuma a vida dos outros e é silva porque é mulher brasileira. Vitória é uma dessas mulheres que pode repetir com autoridade os versos de Cora Coralina:
“Vive dentro de mim
A mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
Toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal...”
Assim como tantas mulheres, Vitória também tem um sonho: ter uma casa limpa e arrumadinha. Entre um pedaço de doce e outro ela vai juntando as moedas para realizar o sonho como quem coleciona “cacos para um vitral”. Vive com o trabalho de suas mãos. Assa biscoitos, bolos e tortas. Faz salgadinhos e pé de moleque. Faz tudo o que é gostoso sem descuidar da caridade. Há seis anos ficou viúva e resolveu adotar uma menina de 10 anos. Trata-se de Sara Cristina Amélia dos Santos. Entre uma fornada e outra, leva Sara à escola e cuida do papagaio barulhento sob a figueira. Seu rádio está sempre ligado na “Santa Cruz - AM”. Gosta de Martinho da Vila e Roberto Carlos. Ferve o leite, pica cebola, atende ao telefone, faz tapetes passeia com Sara, entrega encomendas e não perde a missa aos finais de semana. Vitória é mulher do povo. Está sempre com um sorriso aberto e, apesar de tudo, acha a vida danada de boa... De vez em quando, dou uma passadinha por lá. Entre uma conversa e outra, vou beliscando tudo. Gosto das coisa que ela faz, mas, o pão de queijo, assado na folha da bananeira vamos respeitar... O trem é bão demais, gente! Assim como Babette, personagem de um filme dinamarquês de 1987 (A Festa de Babette), Vitória consegue, de forma mágica, transformar os corações a partir dos paladares...
Vitória é assim, como tantas mulheres, que, sozinhas ganham o sustento, lutam na vida e compõem a beleza desse tecido social chamado Brasil.
Notas:
- O poema de Cora Coralina chama-se: “Todas as Vidas” – Está no livro: Poemas dos becos de Goiás e estórias mais.
- A expressão: “Cacos para um Vitral” refere-se ao título de um livro da escritora mineira, Adélia Prado, de 1979.
- O Filme citado, “A Festa de Babette” - Babettes gæstebud é um filme dinamarquês de 1987, do gênero drama, dirigido por Gabriel Axel, e com roteiro baseado em conto de Karen Blixen.
Grande personalidade em Para de Minas
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