Frustração

Decepção não era a palavra certa. A palavra certa era frustração. Frustração ao ver as redes completamente vazias após uma noite toda de trabalho. E olha que Pedro não deveria ser um pescadorzinho de meia tigela. Afinal, vivia disso e dependia desse ofício para pagar as contas ao final do mês. Vida de gente sofrida que, calcula sempre o que ganha para ver se sobra algum trocado para uma eventualidade como conserto no barco ou uma túnica nova para os dias de festa. Mas, naquela noite os peixes pareciam estar em greve. Nenhum cascudo, se é que havia cascudos naquele mar…

Com os primeiros raios de sol, o estômago vazio e o rosto sofrido Pedro e seus companheiros dobravam as redes. Guardar as redes era fechar o balanço do dia no vermelho. Nenhum trabalhador ou investidor espera um resultado assim, ainda mais quando se tem experiência de sobra na função… Só mesmo um milagre poderia mudar esse clima de frustração… O milagre, no entanto, estava mais perto do que imaginavam. Sem que percebessem Jesus estava de olho neles.

O mestre da Galileia juntava sempre em torno de si um pequeno grupo de ouvintes e curiosos. Naquela manhã não foi diferente. Esse grupinho deveria estar ali à beira da praia e, talvez, escutasse o mestre, enquanto esperava pelos peixes. Pedro e seus companheiros, certamente, não deram muita atenção a esse pequeno reboliço de gente. Tudo o que queriam era ir embora, forrar o estômago, e cair na cama para recuperarem as forças.

Jesus não estava ali por acaso. Queria recrutar seguidores e, certamente, já andava de olho em Pedro, o peixe que mais queria para sua rede. Pediu-lhe então, a barca emprestada para improvisar um pequeno palaque enquanto pregava ao povo. Pedro cedeu-lhe, meio a contragosto pois tudo o que queria naquele momento seria um tempo de descanso. Após um breve discurso Jesus pede a Pedro para esticar as redes e pescar novamente. Aquilo já seria demais, deve ter pensado São Pedro. - Afinal o pescador ali era ele. Será que Jesus queria ensinar o padre a rezar o Pai nosso?

Pedro era um joia ainda sem polimento. Naquele instante deixou falar o seu melhor lado quando afirmou: Senhor, pescamos a noite inteira e nada apanhamos, mas em atenção à sua palavra ou lançar as redes… Como deve ter sido difícil esse ato de obediência! Mas, o resultado você já sabe. Ao recolher as redes viu que estavam repletas de peixes! O que teria feio tanta diferença? O mar era o mesmo, o barco o mesmo e os mesmos eram os pescadores! A diferença foi a presença de Jesus acolhido com doçura no barco daquele pescador triste e fracassado.

A lição me parece clara: Porque continuamos indefinidamente com nossas tristezas e frustrações? Talvez seja porque nos falte um mínimo de atenção à palavra daquele que pode mudar nossas vidas...