Os desprotegidos na Bíblia

As viúvas, os órfãos e os estrangeiros compunham o grupo dos mais desprotegidos no mundo antigo. A Bíblia, já nos tempos de Moisés (Êx 22,20-26), alertava o Povo de Deus, no sentido de proteger esse grupo.

“Não afligirás o estrangeiro nem o oprimido, pois, vós mesmos fostes estrangeiros no país do Egito. Não afligireis nenhuma viúva ou órfão. Se o afligires e ele gritar a mim, escutarei seu grito.”

Nos evangelhos, em diversas passagens, podemos constatar o carinho de Jesus pelas viúvas e pelos desamparados. Os guias religiosos daquele tempo foram acusados de “tomar as casas das viúvas”. Eles estavam mais preocupados com o culto e com suas tradições  do que com os pobres. Chegavam a zombar de Jesus:

 “Os fariseus, amigos do dinheiro, ouviam isso e zombavam dele” (Lc 16,14).

Olhando para nossa realidade podemos constatar que esse grupo ( estrangeiros, viúvas e órfãos) continuam excluídos e, como tais, suplicam pela nossa compaixão.

Com relação aos estrangeiros alguns dados nos impressionam ultimamente. Nunca esteve tão alto o número de migrantes pelo mundo. Grande parte desses imigrantes são refugiados de guerra ou  da intolerância em seus países de origem. Segundo o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (DESA) o número dos migrantes em 2015 chegou à casa de 244 milhões! Desse número  20 milhões são de refugiados. Esse tem sido um dos maiores problemas da Síria, Sudão do Sul e outros países marcados por guerras e intolerâncias de toda sorte. De janeiro a junho de 2017, aproximadamente duas mil pessoas foram engolidas pelo Mar Mediterrâneo, quando numa rota arriscada tentavam sair de seus países. Boa parte dessas vítimas eram crianças e idosos.  Está aí um grande desafio para os cristãos de nosso tempo!

Em minha experiência pastoral, vejo crescer a cada dia o abandono dos idosos. Numa família de cinco filhos ou mais, ninguém se dispõe a fazer companhia para o pai viúvo ou a mãe viúva. Cada um arranja uma desculpa e uma justificativa para não ajudar. Esquecemos-nos do óbvio: todos seremos idosos um dia! O abandono do idoso e da criança pode aparecer com outros nomes: Falta de carinho, de presença, de cuidados. É incrível. Quando mais precisamos de auxílio as pessoas nos abandonam... O idoso que mora só, não escuta bem, não enxerga bem, tem dificuldades para andar, para mexer no fogão e até de preparar o próprio alimento. Mas, os filhos, que tem tempo pra tudo, nunca aparecem! Alguns netos ainda abusam da confiança da avó e fazem financiamentos para que o pagamento seja descontado em sua aposentadoria. É de amargar!

A situação das crianças, atualmente, não é muito diferente. Algumas são criadas pelas creches, escolinhas ou literalmente nas ruas. Enquanto cresce o cuidado com os animais, viramos as costas para as nossas crianças. Alguns casais gastam fortunas com o “Pet Shop”  mas são incapazes de adotar uma criança. Nosso mundo parece estar mesmo de pernas para o ar. Isso é lamentável. O alerta bíblico sobre o cuidado com os mais fracos nunca foi tão atual. Ser cristão é mais do que ir às missas. É ter o mesmo sentimento do bom samaritano que foi capaz de mudar sua rotina para ajudar o próximo. 

Que Deus nos ajude a fazer o mesmo!