Tudo aconteceu como tinha que acontecer...

O título acima foi pensado para traduzir, de forma aproximada, o conceito indiano de Dharma. Sem uma ideia desse conceito fica muito di...


O título acima foi pensado para traduzir, de forma aproximada, o conceito indiano de Dharma. Sem uma ideia desse conceito fica muito difícil entender as narrativas míticas e épicas da Índia antiga.

Assim como a lei da gravidade é imutável no campo da física, o Dharma também é uma lei universal e imutável no campo da moral e da vida. O Clássico Ramayana, com seus vinte e quatro mil versos, é um hino ao Dharma, essa força universal que interliga todos os fatos e acontecimentos da vida. Dessa maneira, ainda quando alguém parece ter cometido um erro, ele na verdade, pode estar apenas cumprindo o Dharma. Curvar-se ao Dharma é a melhor maneira, ou a maneira  sábia de se viver.

Havia um reino muito bonito cujo rei era justo e habitava a cidade de Ayodhya. Mas, como nada no mundo é perfeito, naquele tempo, uma  raça de  seres malvados (Asuras) resolveram atacar a terra. Os deuses tiveram que pedir ajuda ao rei de Ayodhya para combater esses seres malvados que queriam destruir tudo. O Rei, então, enviou seu filho Dasaratha para a guerra. Ferido em combate Dasaratha só pode contar com o socorro de Kaikeyi sua esposa. Muito agradecido quis recompensá-la, de alguma maneira. Ela não quis receber presentes. Mas, o príncipe deu a ela o direito de guardar três pedidos para serem usados na hora certa.

Um dos deuses que desceu do céu para combater contra os Asuras foi Narayana. Ele era forte e poderoso. Então, rapidamente, destruiu quase todos os inimigos. Apenas dois deles se disfarçaram de gente boa e pediram abrigo na casa de um brâmane em Ayodhya. Sem saber que se tratava de diabos eles foram bem acolhidos segundo as regras de hospitalidade daquele tempo. Acontece que, enraivecido, Narayana forçou sua entrada na referida casa para destruir os inimigos e, nesse gesto, acabou matando a esposa do brâmane. Aí então, ele acaba ferindo o Dharma. Jamais poderia ter “arrombado a porta” sem a permissão dos donos da casa.

Um sacerdote (Vasishtha) que viu tudo aquilo amaldiçoou o Deus Narayana.  Disse que por ele ter matado uma boa esposa um dia teria que voltar à terra como homem, e depois de apaixonar-se, teria que perder a própria amada para ter um sofrimento semelhante ao do brâmane que ficou viúvo. O todo poderoso Narayana voltou-se para o céu ciente que isso se cumpriria mais cedo ou mais tarde.

Havia naquele tempo, outra criatura infernal (Raxasa) cujo prazer era tirar o sossego dos homens. Chamava-se Ravana e era o rei de Lanka. Ele perturbava os sacerdotes e devorava a comida de seus sacrifícios. Só que de bobo ele não tinha nada. Sabia que, se fizesse sacrifícios acabava  dobrando os deuses para obter deles os seus favores. Ravana tinha dez cabeças e dez pares de braços. Não sei dizer se em cada cabeça ostentava um par de chifres. Mas, aí já seria judiação demais!

Ravana decidiu fazer penitência durante dez mil anos! Estava mesmo determinado a obter o que queria dos deuses.  A cada mil anos cortava uma de suas cabeças e a punha sobre o altar de Shiva. Quando estava para cortar a última cabeça, Indra desceu do céu e perguntou-lhe  qual seria o seu desejo. Mais que depressa, Ravana  disse que queria o privilégio de poder não ser morto nem pelos deuses nem pelos diabos. Esse favor lhe foi concedido. Mas, Havana  esqueceu-se de mencionar os homens. Desde então,  poderia ser morto por um homem embora, isso não fosse fácil.

Depois que Havana conseguiu esse favor de Indra ninguém mais o suportava. Passou a incomodar os deuses e os homens. Chegou a tal ponto que Indra procurou Narayana com a seguinte proposta: - Olha você bem que poderia descer à terra como homem e destruir o diabo Ravana. Com você poderia descer sua esposa, a deusa Lakshmi. A única maneira de eliminar Ravana é sendo homem. Narayana então decidiu nascer como homem para restabelecer a paz que estava ameaçada.

O tempo passou, e o Príncipe Dasaratha tornou-se rei. Teve três esposas. Mas, apesar desse “harém” não conseguia ter filhos. Naquele tempo não existia viagra... Então, pediu ao Sacerdote (Vasishtha) que oferecesse um sacrifício aos deuses para que ele pudesse ser pai.  Exatamente, nesse momento em que Dasaratha pedia aos deuses para ser pai, um Deus (Narayana), estava prestes a descer a terra para se tornar homem. As coisas se encaixaram direitinho! Dasaratha então, teve um filho que foi chamado de Rama, ou seja, a encarnação de Narayana. Em seguida, Dasaratha empolgou-se e teve mais dois filhos, um com cada uma das outras duas esposas. O primeiro filho nascido foi chamado de Rama (a encarnação de Narayana). 

Naquele tempo o rei de Mithila, de Djanaka, queria muito casar sua filha, a filha da Mãe Terra, chamada Sita. Mas, para isso fez uma exigência: - O pretendente teria que ser capaz de curvar o arco de Shiva. Esse arco era tão grande que precisava ser transportado por uma junta de bois.  Sita era muito bela e chamava a atenção de muitos pretendentes. Mas, ninguém passava no teste da flecha... Ninguém até que Rama ficasse sabendo. Ciente do “edital” ele compareceu no local certo e hora marcada. Elevou o arco com facilidade e com a mesma facilidade acabou quebrando o mesmo ao curvá-lo. Pronto! O casamento estava resolvido. Rama passou o braço no ombro da “patroa”, mesmo sem saber que se tratava da deusa Lakshmi ,e a levou consigo para Ayodhya. E foram felices para sempre? - Nem pensar! Sua maratona estava apenas começando...

O Rei de Ayodia queria que Rama fosse seu sucessor no trono. Mas, por intriga palaciana o reino acabou nas mãos de Baratha, seu irmão, e Rama juntamente, com Sita foram exilados na Floresta por 14 anos. Foi nessa época que Kaikeyi resolveu usar os pedidos prometidos em favor do seu filho Baratha. Só por isso ele se tornou o novo rei e o trono não foi dado a Rama. Esse teve que se exilar com Sita, sua esposa, na floresta. Lá novas aventuras o aguardariam. Nesse período Baratha colocou as sandálias do irmão no trono real coberta com uma sombrinha. Todos os dias ele reverenciava o objeto como se reverenciasse o próprio irmão a quem muito considerava. Quando precisava tomar uma decisão importante, consultava as sandálias do irmão e só depois, disso, decidia. 

Na floresta Sita foi enganada pelo demônio Ravana que a sequestrou e a levou para o Reino de Lanka. Rama chorou, esperneou, e ficou depressivo. Mas, nada disso resolveu. Na luta pela busca de sua esposa sequestrada Rama enfrentou os diabos e milhares de criaturas infernais, até que, finalmente conseguiu matar Ravana.

 Assim como Odisseu, que, na mitologia grega, percorreu uma verdadeira maratona para retornar ao lar e aos braços de sua esposa Penélope, Rama percorreu uma odisseia para ter Sita de volta. Nesse meio tempo aconteceu de tudo. Contou com ajuda da natureza dos bichos, dos deuses e dos homens. Quando, finalmente, consegue se aproximar de sua amada viveu com ela pouco tempo. Começou a temer a opinião dos outros. Muitos pensavam que Sita não fosse mais pura. Teria sido tocada por Ravana. Rama, então, decide abandonar Sita na Floresta. E o pior: - Estava grávida. Naquele tempo também não havia teste de DNA. 

Com ajuda de Valmik ( o suposto autor do romance "O Ramayana") Sita teve dois filhos: Kusa e Lava. Esses dois filhos, mesmo longe do pai, aprenderam de Valmik a Saga de Rama. Certo dia, durante um festival, cantaram essa Saga diante do pai. Rama se emocionou ao saber que aqueles dois artistas eram os seus filhos de verdade e contaram diante de todos a história do próprio pai. Emocionado abraçou os filhos Mas, pediu que trouxessem a mãe. Nisso, Sita entrou e pediu ajuda à Terra para provar diante do Rei Rama, a sua inocência. Foi então que a terra se abriu e ela foi engolida pela abertura. Provou, finalmente, sua inocência, mas Rama nunca mais a viu. Teve que se contentar com uma imagem dela que mandou fazer em ouro puro. Desde então, nunca mais se separou da imagem até o dia em que finalmente morreu e foi unir-se de novo à sua esposa formando um casal perfeito de deuses: Narayana e Lakshmi.


O texto, de rara beleza, consegue mostrar que o caminho traçado para o homem ninguém pode mudar...

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  1. Gosto desses textos. Tento entrar e estar na cena,como uma criança quando lê contos de fadas.
    No fim, acabo me identificando.

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