Mito do surgimento da sociedade de castas

Um mito não é uma mentira. Ele é uma verdade dentro daquilo que se propõe a fazer, ou seja, explicar uma parte da realidade. Há quem di...


Um mito não é uma mentira. Ele é uma verdade dentro daquilo que se propõe a fazer, ou seja, explicar uma parte da realidade. Há quem diga que o mito é um relato fantasioso e exagerado e, por isso, fere os padrões racionais. Mas, quem disse que pela via racional podemos explicar todo o conjunto da realidade? Seja como for, o mito é um olhar que, à sua maneira, explica parte desse todo. Ele é revivido cada vez que contado. Por isso, dizemos que o mito é real. Não está encurralado apenas nas enciclopédias que serviram para explicar a grande aventura do homem sobre a terra. Ele sobrevive na literatura, na poesia, nas artes e na memória de todos os povos. É claro que, como toda forma de entendimento da vida, ele tem seus próprios limites.

Hoje quero falar de um mito indiano que explica como surgiram todas as diversas formas de vida sobre a terra. Trata-se do mito de “Purusha”. Alguns autores atribuem a esse mito o surgimento da sociedade de castas.

Em tempos primordiais, e até hoje, não foi muito fácil entender que tudo o que existe passou a existir simplesmente do nada. Pela simples observação, o homem antigo via que, de um tronco podre de árvore nasciam múltiplas formas de vida. Foi então, que lá pelo Séc. X a.c um Ríshi (vidente escritor dos vedas), narrou a história que foi registrada em um dos últimos hinos do Rigveda ( Uma parte dos vedas que são os textos sagrados mais antigos do Hinduísmo). O mito conta-nos, o seguinte:

O mundo com toda sua complexidade passou a existir graças ao livre sacrifício de Purusha, um primeiro ser, com características superlativas. Purusha era um grande ser divino e, por ser divino, não poderia mesmo ser pequeno. Ao decidir imolar-se no altar do sacrifício ele contou com a participação dos três principais deuses da chamada “trimurti” indiana: Brama, Shiva e Vishnu. Brama, o deus criador de tudo aceitou essa ideia porque a morte de Purusha não seria a total destruição, mas, garantiria novos nascimentos. Shiva, por sua natureza, gosta de transformação. Por isso, aprovou rapidamente a ideia. Vishnu também aceitou porque gostava de conservar a criação. Mas, em comum acordo os deuses resolveram “organizar” aqueles que nasceriam do corpo de Purusha. Então cortaram esse corpo em partes  pois, segundo eles mesmos, de cada parte desse corpo  deveriam nascer novas criaturas.  E assim fizeram. Separam a cabeça de Purusha. Depois cortaram-lhe os braços, as coxas e os pés.

O tempo passou e aquilo  que os deuses esperavam acabou acontecendo. Da parte mais nobre de seu corpo, a cabeça,  nasceram os sacerdotes (brâmanes). Eles seriam os responsáveis pelas oferendas e orações. Da parte que tinha a força, os braços, nasceram os soldados, nobres  e guerreiros( Xátrias). Das coxas os comerciantes e fazendeiros (vaixás). Dos pés, nasceram os lavradores, artesãos (Sudras). Assim se formaram as quatro castas indianas. Com o passar do tempo acharam um outro grupo que nem sequer pertencia a uma casta, os intocáveis. Esses, pelo jeito, nasceram apenas da poeira dos pés de Purusha.

É bom lembrar que a sociedade de castas não existiu na Índia, desde sempre. Ela passou a existir quando os guerreiros perderam posição para os sacerdotes. Foi então, que Indra, um deus guerreiro perdeu espaço nos cultos para Brama, um deus sacerdotal.

Acredita-se que a organização social que classificava as pessoas de acordo com a varna(cor da pele) surgiu, aproximadamente, há 3.500 anos quando a região hoje chamada "Índia" foi ocupada pelos árias ( povos nômades provenientes da região do sula da Rússia atual). A primeira menção às castas apareceram no livro sagrado indiano "As Leis de Manu", entre 600 a 250 a.C.   As "varnas" eram grupos hereditários onde as pessoas casavam-se entre si, possuíam semelhantes profissões, hábitos, vestuários...

O sistema de castas foi oficialmente abolido  na Índia desde a constituição de 1950, embora ainda exista de forma não oficial e  traga muitos sofrimentos para quem está na base desse pirâmide.

Obras consultadas para esse artigo:

-As melhores histórias da Mitologia Hindu, de  A. S. Franchini e Carmen Seganfredo. Artes e Ofícios. Porto Alegre, RS -2010

-Em Defesa de Deus. Karen Armistrong. O que a Religião, realmente significa. Cia das Letras. PP 20

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  1. Quanta informação interessante... Embora não oficial, existem tantas pessoas, nesse nosso mundo, na base dessa pirâmide, vivendo em grande sofrimento. Abraço

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    1. É Verdade. Isso existe mesmo. Obrigado pelo acesso ao meu blog.

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  2. Muito interessante, já ouvi falar dessa tal 'castas' na cultura indiana, mas não sabia ao certo o que era, pensava ser apenas uma nomenclatura a mais (ex: um burguês)

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  3. Muito obrigado pelo acesso ao canal. Que bom que o texto tenha sido útil para seu maior conhecimento!

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