Magia de Maio
Certamente eu teria bons motivos para não gostar do mês de maio. Foi o mês que perdi minha mãe e vivenciei diversos aconte...
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Certamente
eu teria bons motivos para não gostar do mês de maio. Foi o mês que perdi minha
mãe e vivenciei diversos acontecimentos tristes. Mas não posso negar que o mês
me enche de boas lembranças e, portanto, de saudades. Maio é o mês que nasci o
mês de Maria, o mês das flores, do frio e dos encantos...
O
mês de maio me faz recordar os melhores momentos da infância. A gente saia de
casa na parte da tarde para enfeitar o cruzeiro. Eu, e meus irmãos, buscávamos
lenha para a fogueira que brilharia á noite e, às vezes, assava mandiocas para os devotos. Minhas irmãs
enfeitavam a santa cruz com lençóis brancos e amarravam flores aos seus pés.
Era tudo muito simples e pobre. Mas, como era lindo! Lembro-me até hoje das
flores brancas quase insignificantes que pipocavam no alecrim do campo.
À
noite nem sempre a gente voltava para rezar. Minha mãe dizia que não tínhamos
roupas e não podia oferecer leilões. Às vezes faltava até para nós, dentro de
casa! Mas, naquela época eu não sabia que era pobre e acabava sendo feliz assim
mesmo. A tristeza a gente deixava para os adultos. Algumas vezes, a gente voltava
para rezar à noite. Minha mãe levava doce de leite e queijo para o leilão. Uma
vez fritou uma lingüiça inteira para dar de leilão! O cheiro era tão bom, que
se ela não tomasse cuidado, comíamos a lingüiça antes do seu destino final.
Era
tão bom rezar o terço no mês de maio que nunca mais me esqueci desse hábito.
Hoje rezo o terço todos os dias. Naquele tempo eu era muito pequeno, mas
lembro-me até hoje de certas coisas. Achava curiosa a saia plinçada de algumas
rezadeiras. Não imaginava como elas conseguiam colocar tantas dobrinhas numa
saia só. Outras exibiam as sombrinhas que haviam comprado na cidade e iam rezar
de sombrinhas à noite! Certamente, para se proteger do sereno! Em outra ocasião, me deitei por engano no
colo de uma senhora pensando que ela fosse mamãe. Que vergonha! Na volta para
casa, após a reza do terço, alguém sempre botava fogo na palha de arroz que
margeava a estrada. Na época, todos plantavam e colhiam o próprio arroz. O fogo
de palha queimava rápido, e bonito... Em casa a gente lavava os pés na bacia
para tirar a poeira. Na cama, sonhava com Nossa Senhora e com os anjos. Assim esquecíamos-nos
da fome que não era só de comida!
Hoje
sou padre e tenho mais de cinquenta e cinco. Mas, o que fala mais alto, às vezes
é o menino. Menino de olhar devoto e olho comprido para o altar de Nossa
Senhora. Esse altar, para mim, continua sendo uma ponte para o alto. Sou muito
pobre e pequeno. Ainda preciso da mãe para me guiar pela mão. Como legítimo
herdeiro da carência humana, peço à Maria que não me espante se ainda hoje,
“por engano” eu me deitar em seu colo.
Imagem de Michael Schwarzenberger por Pixabay
Imagem de Michael Schwarzenberger por Pixabay
Eternas saudades desse mês, e as coroações á Nossa Senhora!
ResponderExcluirComo é bom relembrar a infância! Mês de maio, das Coroações de Nossa Senhora!
ResponderExcluirTambém gosto muito do mês de maio, me recordo da minha infância na terra onde nasci, das rezas,das barraquinhas, de como cantava nas coroações, dos altares altos que faziam, para a rua inteira que ficava cheia, poder assistir, tremia de medo de cair, de frio e de cantar errado ou desafinar...e na hora de coroar Maria então, meu Deus, meu coração batia tão forte.. o braço quase não alcançava a cabecinha dela...
ResponderExcluirLindas lembranças, como éramos felizes, a vida era muito fácil de ser vivida.
ResponderExcluir... não sabia que era pobre e era feliz assim mesmo kkkk
ResponderExcluirEu também era feliz assim mesmo Padre Gabriel kkkk