Vozes do deserto
Vivemos numa sociedade barulhenta e cheia de palavras de ordens, quase sempre ligadas ao consumismo e ao prazer fácil. Dá-se a imp...
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Vivemos numa sociedade
barulhenta e cheia de palavras de ordens, quase sempre ligadas ao consumismo e
ao prazer fácil. Dá-se a impressão de que a felicidade está ligada ao ter,
ainda que seja, um mundo de quinquilharias. Vivemos enfastiados com essa
pressão do mercado que tende a reduzir tudo à mercadoria. Mercadoria vale pela
utilidade. Deixou de ser útil, então é descartada. Quem deixou de ser útil ao
mercado, também tende a ser colocado de lado. Esse é o drama dos aposentados,
deficientes e outros que sofrem com tal ideologia. É bom lembrar, que nossa
felicidade não consiste em acumular coisas. Esse acúmulo pode, na verdade, nos
escravizar. Mas, nem todos têm esse senso crítico. Em nome do ter, alguns se
tornam escravos e escravocratas. São
Basílio, um santo que viveu no deserto, no século IV, em uma de suas homilias
denunciava:
"O
pão que para ti sobra é o pão do faminto. A roupa que guardas mofando é a roupa
de quem está nu. Os sapatos que não usas são os sapatos dos que andam descalços.
O dinheiro que escondes é o dinheiro do pobre. As obras de caridade que não
praticas são outras tantas injustiças que cometes. Quem acumula mais que o
necessário pratica crime" (São Basílio, 330-379; Comentário a Mateus
25,31-46).
São João Crisóstomo, outro
santo da mesma época, que também viveu no deserto, criticando os excessos do
seu tempo dizia:
“Tu,
que revestes tua cama de prata e de ouro o teu cavalo, se te pedirem conta e
explicações de tanta riqueza, que razão alegará? Quando tu já estiveres morto,
as pessoas que passarem diante de teu palácio, vendo o tamanho e o luxo, dirão
ao seu vizinho: 'ao preço de quantas lágrimas foi edificado este palácio? De
quantos órfãos deixados nus? De quantas viúvas injustiçadas? De quantos
operários espoliados de seu salário? ' Sim, nem morto escaparás das
acusações" (São João Crisóstomo, 344-407;
Comentário ao Salmo 49).
Outro santo da Igreja que também viveu no deserto em
pleno despojamento e pobreza foi João Batista, o precursor. Ele se definiu
apenas como “uma voz”. Apesar de ser apenas “uma voz que grita no deserto”
incomodou tanta gente poderosa de seu tempo. Sofreu verdadeiras investigações
por parte das autoridades. Queriam saber de toda maneira quem ele era o que
fazia. O poder corrupto de Herodes e das autoridades do templo parecia forte,
quando na verdade, era fraco. Não era capaz de suportar uma voz vinda do
deserto... A força de João, Basílio e João Crisóstomo, não procedia do vigor
físico, do dinheiro ou fama. O grande
poder deles vinha da autoridade moral que eram. Eram referências éticas no
tempo em que viveram. Viviam e indicavam o caminho do sacrifício e do
despojamento dos excessos desse mundo.
Talvez, precisamos ouvir, ainda hoje, as vozes que vêm
dos desertos. Para isso, no entanto, será necessário empreender uma pequena
viagem de encontro ao silêncio e à meditação. Além da disposição para buscar a
voz da Verdade, será necessária a disposição para mudança no itinerário da volta para a rotina.
Isso se chama conversão. Não basta ouvir os apelos de Deus e trilhar os mesmos
caminhos. A conversão envolve renúncia e sacrifícios. São Paulo, por exemplo,
ficou cego três dias, após ouvir a voz de Cristo na estrada de Damasco. A
cegueira foi necessária para que ele pudesse enxergar o mundo de forma diferente.
Na experiência do povo de Israel, o deserto foi o lugar
da provação e do sacrifício. Mas, foi também o lugar onde o povo experimentou a
graça providencial de Deus e pode ouvir a sua voz. No deserto o povo “fez o
estágio” da liberdade. Aprendeu à duras penas o que é ser livre. Quem sabe não
está na hora de você também experimentar o deserto? Empreenda uma viagem em
busca da verdade sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre Deus! Isso é tarefa para
gente corajosa como São Basílio, João Batista e tantos outros. Vá com Deus, e
experimente a beleza de ser livre de tanto consumismo vazio e de tantos
condicionamentos sociais!
Imagem de Cuyahoga por Pixabay
..." Quem sabe não está na hora de você também experimentar o deserto? Empreenda uma viagem em busca da verdade sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre Deus! Isso é tarefa para gente corajosa como São Basílio, João Batista e tantos outros. Vá com Deus, e experimente a beleza de ser livre de tanto consumismo vazio e de tantos condicionamentos sociais!"..
ResponderExcluir.."Talvez, precisamos ouvir, ainda hoje, as vozes que vêm dos desertos"..
ResponderExcluirOh Senhor Jesus, nos de discernimento para escutar sua voz!