Silêncio de Deus

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Padre, porque Deus não me atende? – Perguntou-me, uma jovem, pelo Watssap. Quanto mais eu rezo, mais Deus parece afastar-se de mim, completou. Em suas palavras havia dor e sinceridade. Por causa disso, quis escrever essas linhas.

Longe de mim, ter a pretensão de responder as grandes angústias e inquietações que nos afligem. Não sou conhecedor dos planos de Deus e nem especialista em teologia. Mas, o grito de dor daquela jovem pedia minha ajuda e por isso resolvi escrever o que penso. Seu grito de dor me fez lembrar outro grito que foi dado um dia no alto de uma cruz: Meu  Deus, meu Deus, porque me abandonaste? 

Na escuridão do Calvário, onde tudo parecia escuro Jesus iniciou essa oração, que na verdade é parte do Salmo 21. Ele, sendo profundamente humano, também sofreu com o “silêncio de Deus”.  Aliás, muitos santos sofreram bastante com esse “aparente” silêncio de Deus. Alguns atravessaram verdadeiras noites escuras e, mesmo sem entender, continuaram firmes na missão. Santa Tereza de Calcutá, por exemplo, passou muitos anos sem esse conforto espiritual de quem sente Deus por perto. Aí então, ela trabalhou mais ainda junto aos pobres.  E foi neles que acabou encontrando essa presença. Isso aconteceu também com São Vicente de Paulo. Tomou a decisão de trabalhar mais ainda junto aos pobres e identificar-se, cada vez mais, com Cristo! Chegou a escrever num papel a Oração do Credo e colocá-la no bolso. Nas horas de crises levava a mão, ligeiramente, sobre a oração. Tinha consciência de que aquilo era uma provação e que, mais cedo ou mais tarde, haveria de passar. Que belo exemplo de vida!

São João Maria Vianney também atravessou noites escuras. Com oração e perseverança soube atravessar esse tempo de provação.  Outro santo dizia: Deus parece se esconder de mim só para ver-me a procurá-lo... Há uma estória sobre Santa Tereza de Ávila que diz o seguinte: Ela precisava atravessar uma enchente e, no meio da violência das águas gritou pelo socorro divino. Sentiu que Deus lhe dizia: - Tereza é assim que trato os meus amigos! Sem perder o bom humor ela retrucou logo: - É por isso mesmo que o Senhor não tem muitos amigos...

Eu não sei explicar o silêncio de Deus nem o sofrimento humano. Mas, acho que a criança também não entende o que o pai planeja para ela. Quando o pai a leva para tomar injeção ele não o faz por maldade, embora a criança não entenda. Deus, de vez em quando, leva a gente para tomar injeção também...

O grito de Jesus, no alto da cruz repercute hoje, em cada criatura, que também completa na sua carne o que faltou à Paixão de Cristo (Col 1, 24).  Deus é bom e infinito. Se fosse diferente não seria Deus. Mas, ele também é pai. Qual o pai, se o filho lhe pedir um peixe lhe dará uma cobra (Lc 11,11)? Com certeza Deus não permanece indiferente às nossas dores e angústias. A gente é que não entende o que ele planeja para cada um de nós. Além do mais, costumamos compreender Deus como se ele fosse nosso serviçal. Exigimos ser atendidos com data e hora marcadas...

O tempo de Deus é diferente do nosso. Por isso, é preciso saber esperar. Mas, não devemos esperar sentados até que passe a escuridão. Enquanto esperamos vamos colocando a mão na massa seguindo o exemplo de Tereza de Calcutá.  A oração perseverante é outra coisa que não podemos deixar de lado. Mas, devemos rezar como Maria que disse: Eis aqui a serva do Senhor... Deus não é nosso servo. O contrário é verdadeiro. Deus não nos deve nada. Nós, ao contrário, lhe devemos tudo, a começar pela vida.

Saibamos sofrer as demoras de Deus (Eclo 2, 1ss), pois o ouro se prova  é no forno da humilhação...

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