Deus nos perdoa pelos méritos dos outros
Vivemos num mundo cheio de direitos e poucos deveres. Todos se sentem no direito a isso ou aquilo... Poucos se lembram dos seus dever...
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Vivemos num mundo cheio de
direitos e poucos deveres. Todos se sentem no direito a isso ou aquilo...
Poucos se lembram dos seus deveres, sobretudo, no dever com relação ao próximo.
Vou contar um fato concreto que me ajudará a explicar o que estou tentando
dizer:
Conheci uma senhora, que vivia só,
e não tinha ninguém por ela. Já era idosa e meio fraca da cabeça. Por causa
disso, tinha mania de acumular um monte de tranqueiras dentro de casa:
latinhas, tábuas, restos de madeira e retalhos... Com o passar do tempo, sua
casa tornou-se, um verdadeiro “ninho de insetos”. Todo mundo via aquilo, mas
ninguém tinha coragem de tomar a iniciativa, para resolver a situação. Em nome
de uma falsa prudência, as pessoas alegavam não poder “invadir” a privacidade
daquela idosa. Era preciso coragem para resolver a situação, pois a idosa
esbravejava, quando alguém, simplesmente, tocava no assunto. Tinha um medo
danado de ser roubada ou prejudicada por espertalhões.
Certo dia, o líder de uma
conferência vicentina, preocupado apenas com o julgamento divino, resolveu por
as mãos na massa... Ele convocou um grupo de amigos para a tarefa. No dia
marcado, convidou aquela senhora para um passeio mais demorado. Enquanto ela
passeava com ele, seus amigos entraram naquela casa e fizeram uma verdadeira
faxina. Encheram duas caçambas de lixo. Varreram a casa, limparam o quintal e
jogaram pra fora tudo o que era entulho. Terminada a faxina, todos ficaram
aguardando o retorno da dona da casa. Alguns pensaram que ela ia derrubar a
casa, outros apostavam que ficaria feliz... Quão foi a surpresa de todos ao ver
grande alegria da idosa ao voltar para casa! Disse haver sonhado com aquele momento,
mas tinha muito medo que as pessoas a prejudicassem em vez de ajudá-la...
Essa história me faz lembrar o
Evangelho de São Marcos ((2, 1-12) quando quatro homens, colocaram um
paralítico na maca e o levaram a Jesus. Para que isso acontecesse tiveram que
arrancar até um telhado! Os homens do Evangelho foram verdadeiros missionários!
Eles não mediram esforços para levarem o paralítico a Jesus. Depois de descerem
com o doente e tudo pelo telhado conseguiram o que queriam. O paralítico foi
curado e teve os pecados perdoados. Santo Ambrósio dizia: Como é grande o
Senhor, que pelos méritos de alguns perdoa outros(1)! De fato, aquele homem
renasceu, graças ao empenho dos amigos. Da mesma forma, a idosa solitária,
criou alma nova, quando os vicentinos limparam sua casinha.
Tanto os homens do Evangelho,
quanto os vicentinos que limparam a casa da idosa, venceram o medo do
julgamento alheio. Esse medo, às vezes, nos paralisa. Temos medo até de dar
socorro a alguém caído na estrada... Deixamos de fazer o bem, para não ser
julgado pelos outros. Ajudar também é correr riscos. Imaginemos que o
paralítico viesse a morrer na maca durante o transporte? Imaginemos que aquela idosa
passasse mal no dia da faxina? Sempre haveria alguém para acusar. Acusadores
nunca faltaram na história! Que o diga São Vicente de Paulo ou Frederico
Ozanam!
Há situações que pedem emergência.
Não dá para esperar diagnóstico dos especialistas. Lembro-me de uma vez, quando
uma vizinha minha passou mal. A gente não sabia o que era. Naquele local não
havia corpo de bombeiros nem assistência especializada. Então, eu fiz o que
pude. Coloquei-a no carro e me mandei, rapidamente, para o hospital mais
próximo. Infelizmente, seu quadro era grave e ela veio a falecer com problemas
cardíacos. Mas, pelo menos, procurei fazer minha parte para dar-lhe socorro.
Existem momentos que nem temos tempo para pensar. Não aconselho ninguém ser
imprudente. Mas, há casos de urgência que não dá para esperar. Muitas vezes,
escondemos nossa omissão em nome de uma falsa prudência, que nos impede de
ajudar as pessoas.
Os homens do Evangelho, não
levaram o doente apenas para correr riscos. Eles, certamente, haviam
experimentado antes, o amor de Cristo. Sabiam que Jesus poderia curá-lo. Por
isso, não mediram esforços para que esse encontro acontecesse. De fato, eles
tinham razão. O homem foi na maca e voltou andando. E a idosa solitária, ao
senti-se amada, voltou a sorrir...
1-
Santo Ambrósio. Tratado sobre o Evangelho de São
Lucas. Ob. Cit. Por Francisco Fernandes - Carvajal em: Falar Com Deus. São
Paulo, Quadrante, 2003. Vol 3. Pp. 31.
Link da imagem: Jesus e o paralítico
"Ajudar também é correr riscos" Esta reflexão é muito atual e pertinente, me tocou de modo significativo. Como conviver diante de circunstâncias onde muitos não querem correr os riscos necessários e importantes para uma vida digna e em defesa da justiça. Sua benção e que ELE o abençoe.
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