Frederico Ozanam: Um homem abandonado à felicidade

Frederico Ozanam dedicava a maior parte do seu tempo aos livros. Tinha verdadeiro amor aos estudos. Foi professor de direito, de liter...


Frederico Ozanam dedicava a maior parte do seu tempo aos livros. Tinha verdadeiro amor aos estudos. Foi professor de direito, de literatura estrangeira e escrevia para diversos jornais... Sua obra imortal foi a fundação da Sociedade São Vicente de Paulo em 1833. Essa sociedade hoje se faz presente em, aproximadamente, 150 países e socorre cerca de 30 milhões de pessoas por dia!

Mas, a proposta desse pequeno texto não é falar sobre seus grandes feitos ou sobre a obra vicentina. Mas, apresentar o lado humano de um homem que, apesar de todos os dramas de seu tempo soube viver um amor intenso com Amélia, sua esposa. Seu casamento com Amélia,  filha de um reitor da faculdade, “Soulacroix”, foi arranjado por um padre amigo, “Noirot”, que fez o papel de cupido da relação. O padre conhecia bem a família da moça e também a família de Ozanam. Naquele tempo não acontecia namoros como nos dias de hoje. Graças à mediação do padre o casal acabou se aproximando.

Com a idade de 27 anos, Ozanam que se considerava ter “um coração vacinado” contra o casamento escreveu ao seu amigo Lallier:

Você me achará ternamente enamorado, mas eu não oculto isso, embora às vezes não possa deixar de rir. Eu me considerava um coração vacinado (1). 

Morando em Paris, distante de Amélia que morava em Lião, durante seis meses Ozanam lhe escreveu inúmeras cartas nas quais revela um lado muito bonito de seu coração. Distante da amada e olhando um medalhão com uma mecha dos cabelos dela ele confessa: 

-Retirado em meu quarto, puxo do meu peito a preciosa joia recebida no dia da partida; ela se entreabre sob meus dedos e me deixa contemplar a bela mecha encerrada no círculo de ouro (2). 

Longe do seu grande amor ele contempla, suspirando, apenas uma mecha de seus cabelos... A cerimônia do casamento aconteceu no dia 23 de julho de 1841. O padre que assistiu a cerimônia foi seu irmão Afonso. Cinco dias após o casório Ozanam escreveu o seguinte:

Faz cinco dias que estamos juntos, eu me abandono à felicidade. Já não conto mais os momentos nem as horas. O curso do tempo já não é mais para mim... Que importa o futuro? A felicidade no presente é a eternidade, compreendo o céu (3).

Como seria bom se, após o matrimônio, o casal pudesse dizer isso: - Nós nos abandonamos à felicidade! Agora compreendemos o céu! - O leitor pode pensar: Mas, ele disse isso porque só tinha cinco dias de casado! – Não é verdade. Todo dia 23 de cada mês ele presenteava Amélia com um buquê de flores e um texto confessando-lhe o grande amor que sentia por ela. Ao final da vida, já com muita dificuldade para andar e sentindo profundas dores nos rins, ele pediu sua criada que colhesse, entre os rochedos, um punhado de mirtos (foto em destaque) cuja beleza admirou pela janela. Foi a última vez que escreveu um poema para sua esposa e ofereceu-lhe, junto com as flores.

Uma das maiores tristezas de Ozanam foi quando Amélia, apesar de todos os cuidados e recomendações médicas, teve dois abortos. – “Meu coração havia se dilatado para estas novas e inauditas ternuras de pai que eu começava a conceber; não resta mais nada para enchê-lo”, dizia. Por causa do primeiro aborto, Amélia sai de Paris e vai passar uma temporada na casa de seus pais em Lião. Não suportando mais a saudade Ozanam lhe escreve:

- Seja generosa, deixe seu pequeno paraíso onde você está tão bem, mas onde eu não estou mais. Venha para mim. Que me desculpem os seus, mas eu não aguente mais. Ficaria tão agradecido se você partisse no dia 10! Vai ainda demorar tanto até lá (4)!

As primeiras frustrações da paternidade foram superadas na noite do dia 23 para 24 de julho de 1845 quando nasce sua terceira filha. Maria foi o nome escolhido para a menina. A grande alegria com o nascimento de Maria transformou ainda mais o coração daquele homem santo. Sobre a filha ele escreveu:

  - “Ela grita até mais que eu gostaria. Mas, cada um de seus gritos me lembra de que eu sou pai e que tenho um pequeno anjo prisioneiro em minha casa...”

“Tenho um pequeno anjo prisioneiro em minha casa”! – Que bela maneira de um pai referir-se ao filho! Cada criança dada por Deus é um anjo prisioneiro em nossas casas.
Em agosto de 1846, Frederico Ozanam ficou muito doente e teve que afastar-se de muitas funções. Amélia permaneceu firme ao seu lado animando-o e procurando encorajá-lo nas horas difíceis. Com uma grave infecção renal sua dor era insuportável. Os amigos traziam gelo, de longe, para colocar em suas costas. Teve que deixar a Itália, nessa ocasião e voltar para Paris. Vencido pela enfermidade Ozanam morre em Marselha, no dia 08 de setembro de 1853, ao lado de sua família. O amor entre Frederico Ozanam e Amélia, bem que poderia entrar para a história dos grandes clássicos do gênero, tipo Abelardo e Heloisa ou Romeu e Julieta. Mas, prefiro dizer que ele, simplesmente, viveu com intensidade a graça do matrimônio e procurou amar sua esposa como Cristo amou a Igreja.


Obs: As informações contidas nesse texto, bem como as citações abaixo foram tiradas do livro:

RIVIÈRES, Madeleine des. Ozanam- um sábio entre os pobres. São Paulo, Loyola, 1986.

1-    Carta a Lallier, 06 de dezembro de 1840.
2-    Carta a Amélia, 22 de dezembro de 1840.
3-    Carta a Lallier, 28 de junho de 1841.
4-    Carta  Amélia, 30 de setembro de 1842.



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