Frederico Ozanam - Vencendo os desafios
Um ditado popular afirma que, um rio só canta quando encontra pedras em seu caminho... De fato, se não fosse um barranco ou um precip...
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Um ditado popular afirma que, um
rio só canta quando encontra pedras em seu caminho... De fato, se não fosse um
barranco ou um precipício não ouviríamos o barulho das cachoeiras! Aplicando
essa ideia em nossas vidas podemos pensar que são os problemas e obstáculos que
encontramos, ao longo da vida, que contribuem com o nosso crescimento. Ninguém
gosta de enfrentar problemas, é claro. Mas, depois que eles passam, quase
sempre, a gente cresce. Dificilmente, alguém cresce em meio aos aplausos. Talvez,
alguma vaia seja mais útil ao nosso processo de crescimento espiritual...
Frederico Ozanam era um grande
intelectual e era respeitado por todos. Mas, o seu tempo foi, profundamente,
desafiador para a Igreja. Muito ateísmo, epidemias, revoluções, miséria... Como
intelectual, sempre procurou dar sua contribuição para a defesa da fé. Nesse
sentido, encaminhava suas aulas e promovia debates e conferências. Mas, tudo
isso, ainda não matava sua fome de fazer algo mais concreto.
Certo dia, em meados de 1833,
durante uma de suas conferências de história ele foi, duramente, atacado por um
estudante que seguia a doutrina de Saint-Simon (Conde de Saint-Simon - pensador
francês. Um dos fundadores do socialismo cristão). O jovem dizia: - A fé de
vocês está nos livros. O que vocês fazem de concreto pelos pobres? – quais são
as suas obras?
Diante daquele desafio, Ozanam
justificou a atuação da Igreja, ao longo da história, no sentido de ajudar os
pobres. Mas, seja como for, isso o incomodou. É certo que ele queria fazer
algo, mas, ainda não tinha clareza do que devia fazer. Na dúvida, como sempre
fazia, procurou orientação espiritual. O primeiro padre que ele procurou (
Padre Olivier) contentou-se em pedir que ele e seus companheiros ajudassem mais
na catequese paroquial. Não era bem isso, que ele queria. Queria uma atuação
mais concreta junto aos pobres. Naquele
tempo, havia muitos tipos de conferências. Conferências de direito, de
medicina, de literatura... Aí Frederico Ozanam teve uma ideia Quem sabe
fundaria uma conferência de caridade? Essa ideia inicial recebeu o apoio de
alguns amigos e um grande incentivo de Bailly, seu conselheiro. Após a
orientação de Bailly, os jovens procuram Irmã Rosália, que já fazia um grande
trabalho de caridade. E foi ali que tudo começou. Com um pequeno grupo e a
graça de Deus, começou um dos maiores trabalhos de caridade do mundo! Estou me
referindo à Sociedade São Vicente de Paulo.
O marco inicial do nascimento da
Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP), foi no dia 23 de abril de 1833, na
Cidade de Paris. O grupo foi composto por Ozanam, Jules Devaux, Paul Lamache,
Alguste Le Taillandier, François Lallier, Félix Cavê e Emanule J. Bailly. O
Nome “Sociedade São Vicente de Paulo” veio, posteriormente, em 04 de fevereiro
de 1834. A partir de então, nas reuniões semanais, passaram a ler uma pequena
passagem da vida de São Vicente, além das leituras normais que já aconteciam.
São Vicente de Paulo, ainda é o
grande iluminador de todo o trabalho vicentino. Transcrevo, abaixo, uma
passagem do regulamento da primeira Confraria da Caridade, fundada por São
Vicente de Paulo em Châtillon-les Dombes, em 1617. Nada mais comovente que esse
texto, de São Vicente, para orientar uma de suas seguidoras no trabalho junto
aos pobres!
Aquela (visitadora) que estiver de plantão, tendo pegado com a
tesoureira o que for necessário para o alimento dos pobres em seu dia,
preparará o jantar e o levará aos doentes; aproximando-se deles, os cumprimentará
de maneira alegre e cridosa, ajeitará a mesinha sobre o leito, colocará sobre
ela um guardanapo, uma gôndola(pequeno copo), uma colher e pão, fará os doentes
lavarem as mãos e dirá o Benedicite, preparará a sopa numa tigela e colocará a carne
num prato, acomodará tudo isto sobre a mencionada mesinha, depois convidará,
caridosamente, o doente a comer por amor de Jesus e de sua Santa Mãe, tudo isto
feito com amor como se ela o fizesse para seu Filho, ou melhor, para Deus, que considera
feito a si mesmo o bem que ela faz aos pobres. Dir-lhe á algumas pequenas
palavras de Nosso Senhor, procurando alegrá-lo se estiver desolado, às vezes
lhe cortará a carne e lhe dará de beber, e tendo-o assim colocado em condições
de comer, se houver alguém junto dele, o deixará e buscará outro para tratá-lo
da mesmo forma, lembrando-se de começar sempre por aquele que tem alguém e de
acabar pelos que estão sozinho, a fim de poder estar junto deles mais tempo.
É difícil ler esse texto de São
Vicente de Paulo e não se emocionar. A preocupação dele com os detalhes; a
atenção com os que estão tristes e solitários é de tirar suspiro. Somente um
santo poderia ter tanta delicadeza com os pobres! Frederico Ozanam e seus amigos procuraram
seguir à risca os exemplos de São Vicente de Paulo. Graças a Deus esse trabalho
ainda está vivo entre nós. Os confrades e consocias, ainda hoje, procuram
colocar esses ensinamentos em prática. Conheço muitos vicentinos que dão
comida, banho, remédios aos mais desamparados e não medem sacrifícios para
fazerem isso. Por isso, sempre digo: Um
vicentino, de verdade, já encontrou o caminho do céu...
Obs: Livro que inspirou esse texto:
RIVIÈRES, Madeleine des. Ozanam –
Um sábio entre os pobres.São Paulo, Loyola, 1996
Link da Imagem: Ozanam