Mulher, porque choras?

Só quem já perdeu uma pessoa muito querida, de morte violenta, consegue imaginar a dor de Maria Madalena, após a morte de Jesus. Após ser libertada de um grande mal, Madalena nunca deixou de seguir Jesus. Tornou-se, verdadeira discípula. E por isso sofreu tanto com sua morte violenta. O Evangelho não esconde o seu pranto: - Maria tinha ficado fora, chorando junto ao túmulo (Jo 20, 11). E a razão do choro? - Levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram... Uma sepultura, ainda que fosse emprestada, representava um pouco de dignidade ao morto. O túmulo aberto seria uma grande profanação, pois Madalena ainda não havia entendido a realidade da ressurreição.

Mergulhada nas próprias lágrimas, Madalena não conseguiu perceber que falava com os anjos. Pensou que fossem pessoas quaisquer que, talvez, pudessem lhe dar alguma informação sobre o suposto roubo do corpo de Jesus.  Estava sofrendo tanto, que não percebeu, nem mesmo a presença de Jesus. Com a visão embaçada não conseguia perceber nada, além dos próprios soluços. O diferencial daquela revelação aconteceu pelo ouvido. Jesus a chamou pelo nome. Se os olhos a enganavam com os ouvidos percebeu a verdade. Aquele tom de voz, inconfundível, só uma pessoa poderia ter: Jesus! A boa ovelha conhece a voz do pastor.

A voz Jesus foi um refrigério para o coração de Madalena. Suas lágrimas continuaram. Mas, agora de alegria. Abraçando os pés de Jesus ela dizia Rabuni, ou seja, meu Senhor!   A voz de Jesus continuava a mesma. Uma voz carregada de ternura como só ele poderia ter. Foi essa voz que mudou para sempre a vida de Madalena e de tantos outros...

Madalena representa todos nós que, nas horas difíceis, não conseguimos perceber a presença de Deus em nossas vidas.  Em outra situação, mostrada no Evangelho, quando o barco ameaçava ir ao fundo os discípulos pensaram que Jesus fosse um fantasma (Mt 14,26). O medo deles foi maior do que o amor e a fé. Confundiram com um fantasma aquele que poderia expulsar todos os fantasmas de suas vidas. Mas, Jesus conhece nossas fraquezas e não vai nos julgar por elas. Ele sabe que, apesar de tudo, nós o amamos e o queremos sempre por perto. Até os grandes santos experimentaram o que chamaram de “noite escura da fé”. Isso aconteceu com São Vicente de Paulo, Santa Tereza de Calcutá e muitos outros. Pensavam que Deus não ouviam suas preces  e que não estava feliz com eles.

Enfrentar incertezas faz parte da fé. Em nossas vidas, as coisas, nem sempre são claras. Mas, se fosse tudo tão evidente não haveria necessidade de fé. A fé é um modo de possuir realidades que se esperam (Hb 11,1). Mas, enquanto esperadas, ainda não são realidades palpáveis. Por isso, é tão importante a perseverança. Se com os olhos não percebemos a presença de Deus então vamos abrir os olhos do coração. Esses, com certeza, não nos enganam. Enxergar com os olhos do coração é ver o mundo com amor. Foi por causa do seu amor que Madalena pode ouvir, entre lágrimas e soluços, a voz de Cristo como a noiva pode ouvir a voz do noivo. Madalena tinha seu coração chagado, tal qual o coração de Cristo, mas ele não estava fechado ao amor. Por isso, apesar da escuridão, pode encontrar-se com aquele que mudara sua vida para sempre. Ela mesma não poderia fazer nada, além de procurá-lo, desesperadamente. Ele é que tomou a iniciativa de vir ao encontro daquela ovelha que suplicava tanto pela sua presença. E depois desse encontro, a noite escura de Madalena se iluminou mais do que o dia e ela começou a ver tudo de forma diferente. É isso, o que a fé nos ensina: Ver, o mesmo mundo de sempre, com um olhar renovado... 

Imagem de Mona El Falaky por Pixabay