Pilares da fé islâmica

“O islamismo nos ensina a trilhar o caminho da retidão”. Essa afirmação, provavelmente, seria de um muçulmano ao resumir a sua fé.   ...



“O islamismo nos ensina a trilhar o caminho da retidão”. Essa afirmação, provavelmente, seria de um muçulmano ao resumir a sua fé.  O ensino da senda (caminho) reta já aparece na primeira surata do Alcorão.

O caminho da retidão é direto, sem curvas... O islamismo aponta os tipos de ações ideais aos seus fieis. As ações são classificadas como neutras, recomendadas, não recomendadas, proibidas e obrigatórias. Ex: rezar 05 vezes ao dia é obrigatório. Ingerir bebida alcoólica é proibido...
Para os muçulmanos a revelação de Deus à humanidade ocorreu em quatro estágios:

Com Abraão = Deus revelou a verdade do monoteísmo;
Com Moisés = Deus revelou os dez mandamentos;
Com Jesus = Deus revelou sua regra de ouro que é o amor ao próximo.

Os três “profetas” acima foram autênticos e ensinaram o caminho para Deus. Mas, ainda faltava uma questão: - Como amar nossos semelhantes? A humanidade precisava de instruções nesse sentido. Tais instruções são encontradas no Alcorão (17:9)

Qual é então, o conteúdo desse caminho reto que fala de nossos deveres?

O conteúdo está expresso nos cinco pilares do Islã e nos ensinamentos sociais do Alcorão.

Os cinco pilares ( princípios que regulam a vida pessoal dos muçulmanos  no trato com Deus)

1-      Profissão de fé (Shahadah). Toda religião possui profissão de fé para orientar a vida dos seguidores. A profissão de fé islâmica é simples e objetiva: “Deus é um só e Maomé é Seu Profeta”. Aqui já se afirma o monoteísmo e a revelação de Deus ao seu Profeta. O conteúdo dessa revelação está no Alcorão. Pelo menos uma vez na vida, o muçulmano (a) deve pronunciar essa afirmação corretamente, lentamente, seriamente em voz alta, com pleno entendimento e sincera convicção. Um bom muçulmano diz essa profissão de fé muitas vezes ao dia.

2-      Prece: A prece constitui o segundo pilar do Islã (29:45). O muçulmano reza para manter a vida em perspectiva, ou seja, para ver a vida objetivamente, o que envolve o reconhecimento de que o ser humano é uma criatura, coisa criada, diante de seu Criador. Com que frequência o muçulmano reza? Ver relato sobre “Viagem noturna” do Profeta (17:1). Deus orientou, pessoalmente, ao Profeta sobre número das orações.  Deveriam ser proferidas cinco vezes por dia: Ao despertar, no início da manhã, ao meio da tarde, ao por do sol e antes de se deitar. Para os muçulmanos não existe um dia santificado como, por exemplo, o domingo para os cristãos. Mas, a sexta-feira é um dia especial quando todos os muçulmanos são chamados a rezar nas mesquitas a prece do meio dia. Todos devem rezar em linha com a cabeça inclinada em direção a Meca. Antes das preces o fiel faz as abluções (lavagem ritual). Todos começam as orações de pé, depois se ajoelham e se inclinam com a testa no chão em direção a Meca. Homens e mulheres rezam separados. O corpo na posição fetal significa que está pronto para renascer, ocupando o menor espaço possível mostra o nada que o homem é diante de Deus. As preces, normalmente, são de louvor, gratidão e súplica. Há um provérbio muçulmano que diz: - O pássaro sempre que bebe uma gota de água levanta os olhos para o céu para agradecer... Isso é o que fazem os muçulmanos pelo menos cinco vezes ao dia.

3-      Caridade: Dádiva. As coisas materiais são importantes na vida, mas, algumas pessoas tem mais do que outras. Por quê?  O islamismo não teoriza sobre isso. Apenas afirma que aqueles que têm mais devem ajudar os que têm menos. O Alcorão estabeleceu esse princípio (de bem estar social) já no Séc VII, prescrevendo a taxação progressiva da riqueza para aliviar as circunstâncias de vida da pobreza. Os mais pobres nada pagam, mas aqueles que têm mais condições devem distribuir anualmente entre os pobres 1/40 do valor de tudo o que possuem. Quem pode receber esse dinheiro? – Aqueles que sofrem necessidades imediatas, escravos que precisam comprar sua liberdade, devedores incapacitados de honrar suas obrigações, estrangeiros e viajantes e para pessoas que coletam e distribuem esmolas.

4-      Ramadã. O quarto pilar do Islã é o jejum de Ramandã. Ramadã é um dos meses do calendário islâmico. Foi nesse mês que Maomé recebeu sua revelação inicial e realizou sua “fuga” para Medina (Hégira). Nesse mês todo muçulmano apto (que não esteja doente...) jejua durante todos os dias. Desde o amanhecer até o por do sol, não comem nem bebem nada. Quando o ramadã cai no inverno o jejum é mais fácil, mas quando cai no verão é muito difícil ficar sem tomar água... Jejuar obriga a pessoa a pensar, a ter autodisciplina e sublinha a dependência da criatura com relação a Deus. O jejum lembra nossa fragilidade e nos sensibiliza para a compaixão para com o outro. Somente quem sentiu fome sabe o que isso significa...

5-      Peregrinação: O quinto pilar da fé islâmica é a peregrinação a Meca, pelo menos uma vez na vida, para aqueles que têm condições. Ela intensifica a devoção do peregrino e o põe em pé de igualdade com todos os outros devotos. Chegando a Meca eles se despem das roupas que revelam suas condições economicamente diferenciadas e vestem a mesma túnica feita com dois pedaços de panos. Assim, diante de Deus são eliminadas as distinções de cargos, condição social, hierarquias... Ela serve também para intercambio de experiências e trocas culturais.

Ensinamentos Sociais do Islã
Ô homens! Atentais para as minhas palavras e conservai-as em vossos corações! Sabei que cada muçulmano é um irmão de todos os outros muçulmanos, e que vós sois agora uma irmandade! – Palavras do Profeta, durante sua “peregrinação do adeus” a Meca pouco antes de sua morte. Esse ideal islâmico ainda permanece forte em nível comunitário. Olhando a Arábia pré-islâmica (marcada pela violência entre tribos, assassinatos, imoralidades) e a Arábia pós-islâmica, somos forçados a indagar se a história, alguma vez, testemunhou um avanço moral tão grandioso. O que ajudou o islamismo a realizar esse “quase milagre”, além das relações fraternas foi também a regulamentação dos aspectos da vida social seja, através do Alcorão ou dos Hadith (tradições baseadas naquilo que Maomé fez ou disse por iniciativa própria). O islamismo não é só uma experiência pessoal de Deus. Ele é também um conjunto de normas e prescrições para todas as dimensões da vida. Ele une a fé à política, a religião, à sociedade, inseparavelmente. Vejamos isso em quatro áreas da vida coletiva.

1-      Economia: Enquanto as necessidades básicas do corpo não forem satisfeitas, os interesses mais elevados não conseguem florescer. Assim a saúde de uma sociedade exige que os bens materiais sejam distribuídos de maneira ampla e apropriada. A saúde do corpo exige que o sangue circule nele de forma plena. Assim, a riqueza deve circular entre os diversos seguimentos da sociedade. As leis devem assegurar a circulação das riquezas. O Islã não faz objeção ao lucro, à concorrência econômica ou à ousadia empresarial.  Algumas pessoas chegaram a chamar o Alcorão como “manual de administração de empresas”. O Alcorão não desencoraja o indivíduo de trabalhar mais arduamente que seus vizinhos, nem proíbe que o trabalho duro seja recompensado com prêmios maiores.  Apenas insiste que a ganância e a competição sejam equilibradas pela moderação e pela compaixão. À exemplo do coração que deve irrigar todos as partes do corpo, a compaixão não deve permitir a exclusão de ninguém. É preciso que se reserve até mesmo uma cota para os pobres (3º pilar).  Desde o início o Islã não aceitou o direito de primogenitura. Assim, as heranças deveriam ser repartidas igualmente entre os herdeiros... Inicialmente o Islã não aceitava a cobrança de juros por empréstimos. Hoje mudou um pouco. Quem empresta passa a ser uma espécie de sócio daquele que pediu emprestado. De qualquer maneira, as orientações do Alcorão ajudam a contrabalançar as riquezas...

2-      Posição das mulheres: Na Arábia pré-islâmica, as filhas não tinham direito à herança, e grande parte das mulheres eram vistas como objetos. Pais e maridos podiam dispor delas como bem lhes aprouvessem. Essa situação melhorou com a chegada do Alcorão. Exigiu que as filhas fossem incluídas no direito de herança ainda que com a metade da cota dos filhos, proibiu o infanticídio (muitas meninas eram mortas assim que nascidas). O Alcorão abriu à mulher o direito de igualdade para com o homem. A religião santificou o casamento e transformou-o no único lugar legal para a prática sexual. Mas, ele só pode acontecer com a permissão da mulher. O divórcio é uma prática reprovável, embora comum. Apesar da permissão da poligamia (poligimia),  há um consenso, crescente, que o homem deve casar-se apenas com uma mulher. No arranjo físico, cada esposa deve ter seus aposentos particulares e isso limita muito a questão da poligamia. Outro fator que limita é uma recomendação do Alcorão – Igualdade no amor e na estima – é quase impossível que o homem ame e estime igualmente as mulheres. Por isso, os juristas entendem que, o Alcorão, praticamente recomenda a monogamia. Em condições de guerra ( quando muitos homens morrem) impedir a poligamia era quase negar à mulher o direito à maternidade. Finalmente, um questionamento. A poligamia é permitida. Mas, o homem tem que ter responsabilidade por todas as suas parceiras. O sexo envolve responsabilidade. No ocidente prevalece a monogamia. Mas, as “parceiras sexuais” costumam existir e o pior, sem nenhum direito garantido... Uso do véu é uma recomendação do Alcorão (33:59). Ele visa proteger a mulher para que não seja molestada. Leis severas: No islã existem leis severas para certos crimes (adultério, roubo...), mas é para lembrar que os crimes também foram graves. Mas, além da lei, recomenda-se a misericórdia. Elas podem suavizar o peso dos decretos. O apedrejamento dos adúlteros é quase impossível de acontecer, pois a lei exige quatro testemunhas incontestáveis, que tenham observado detalhadamente o ato.

3-      Relações Sociais: O islã é contra o racismo e enfatiza a igualdade racial. Veem Abraão como modelo nesse sentido. Ele desposou Hagar, uma mulher negra, segundo o Islã. Hagar é vista como a segunda esposa de Abraão e não como sua concubina.

4-      O uso da força: A imagem estereotipada do Islã no Ocidente é ago que os muçulmanos sempre combatem. Eles sentem que o Alcorão e o Profeta tiveram uma imagem distorcida. Diferente dos Evangelhos o Alcorão, de fato, não os ensinam a “oferecer a outra face”. Porém, ensina-lhes, o perdão e a misericórdia (42:37). O Alcorão permite a punição aos malfeitores impenitentes na justa medida do mal que eles cometerem (22:39-40). A justiça o exige. Conceito de guerra justa: Guerra justa é uma guerra defensiva ou aquela que visa corrigir um erro (2:190). Maomé teve que empunhar a espada em autodefesa e pelo mesmo motivo essa espada ainda poderá ser erguida. Tolerância religiosa:  Não há compulsão na religião(2:256). Se Alláh quisesse teria feito de todos, um só povo, uma única religião... (5:48). Quando os muçulmanos dominavam um país, não exigia necessária conversão e sim um imposto já que por não serem muçulmanos não tinham a obrigação da esmola(dádiva). Mas, essa taxa seria a cota dos pobres... Jihad: esforço pela causa de Deus; mas, como a guerra exige um grau excepcional de esforço, a palavra costuma, por extensão, ser ligada a ela. A definição de guerra santa é praticamente idêntica à definição de guerra justa. A grande guerra que deve ser travada é a guerra contra si mesmo, contra os próprios pecados.

Resumo baseado em:

Smith, Huston. As Religiões do Mundo. Nossas Grandes Tradições de Sabedoria. São Paulo, Cultrix – 10ª edição. 2010.

Obs: Esse esquema foi escrito apenas para ajudar os alunos na compreensão da religião. Se alguém não se sentir confortável com o que está escrito acima pode se manifestar que terei enorme prazer em revisar o texto.

Imagem de Sue Todd por Pixabay 









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  1. .."O islamismo nos ensina a trilhar o caminho da retidão”. Essa afirmação, provavelmente, seria de um muçulmano ao resumir a sua fé."...

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