Aliança

Minha tia, hoje falecida, carregou na própria carne o compromisso do matrimônio. Seu dedo anular chegou a criar uma cintura, pois ela...



Minha tia, hoje falecida, carregou na própria carne o compromisso do matrimônio. Seu dedo anular chegou a criar uma cintura, pois ela nunca tirou dele a aliança. Aliança é compromisso e sinal de amor. É quase um pertencimento!  No matrimônio religioso, o casal diz um para o outro: - Receba essa aliança em sinal do meu amor e de minha fidelidade em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo! Esse momento é muito lindo. Ele recorda a aliança que Deus sempre fez com o seu povo no Antigo Testamento e da aliança perfeita entre Jesus e nós: - Tomai e bebei, esse é o meu sangue. O sangue da nova e eterna aliança..., diz o padre em todas as missas atualizando as palavras de Cristo. A partir de então, o marido e a mulher devem amar um ao outro com o mesmo amor com que Cristo amou a Igreja.  Muitos não entendem isso, e fazem piadas sobre casamentos. É uma pena! Talvez, se dependesse apenas de nós eles seriam mesmo, instituições fracassadas. Mas, com a graça de Deus, tudo pode ser visto e analisado sob outro prisma.

Confesso que, eu mesmo, tinha dificuldades em entender a ideia de marido e mulher “formar uma só carne”. Achava que era algo meio impossível. Só fui entender isso, quando meu pai ficou viúvo. Como a maioria dos casais, meus pais também tinham conflitos e desentendimentos. Não era nenhum “casal de novela”. Mas, depois que mamãe morreu meu pai nunca mais foi feliz. Por dez anos, pronunciava o nome dela, sem perceber. Hoje, ambos estão juntos no céu. Na companhia de Deus não dá para ser infeliz!

A ideia de aliança sempre foi cara ao povo de Deus. Diversas vezes, Deus firmou e reafirmou aliança com seu povo. O arco Iris no céu, depois do dilúvio (Gn 9,16), lembrou ao povo que Deus o salvou da destruição.  Após o nascimento de Ismael, Deus fez uma aliança com Abraão. Nesse pacto firmado, quase de forma unilateral (Gn 17,1-8), Deus prometeu cuidar de Abraão. Em troca, ele e seus descendentes, deveriam carregar na carne, uma marca de Deus, ou seja, a circuncisão masculina (Gn17, 10-14). Cada criança no oitavo dia de vida deveria ser circuncidada. Os judeus até hoje preservam esse hábito com o nome de “Brit- Milá’. Brit significa aliança, pacto. Brit- Milá, pacto de corte... A circuncisão (circum + cisão) é uma pequena cirurgia através da qual se pratica a cisão ou o corte do prepúcio que é a pele que envolve a glande ou a cabeça do pênis do homem (1). Por meio da circuncisão realiza-se uma conexão espiritual com Deus que jamais poderá ser removida. Pode-se dizer que é feita uma “declaração de judaísmo” sobre o órgão, através do qual serão criadas as gerações futuras (2). A circuncisão, que está relacionada ao órgão reprodutor masculino, ensina ao homem que ele tem a responsabilidade de ser o Criador, junto de Deus!

Deus é sempre fiel. O homem nem sempre! Por isso, o rompimento da aliança sempre aconteceu por parte dos homens. E as consequências não saíram baratas. Os profetas sempre denunciaram aqueles que eram infiéis a Deus, mesmo que fosse a pessoa do rei. Aliás, alguns profetas foram, extremamente, perseguidos quando denunciaram os desmandos da corte.

São Paulo, na Carta aos Romanos (2,29) nos diz que a marca de Deus deve ser carregada dentro do coração. Não adianta ser circuncidado e não ter no coração um pacto com Deus. Por isso ele nos diz: “Ser judeu é condição interna: A circuncisão é do coração, do espírito, e não da letra”.

Nós cristãos, não praticamos a circuncisão por preceito religioso. Mas, também fomos marcados na testa e no peito com a Cruz de Cristo, no dia de nosso batismo. O batismo marca o nosso pertencimento a Cristo. Com Ele também fazemos aliança, pois queremos ser ovelhas de seu rebanho. Em cada Eucaristia que celebramos Cristo renova a aliança conosco. Uma aliança nova e eterna.  Nós somos o seu povo e Ele é o nosso Deus. Da parte dele essa aliança jamais se quebra. O mesmo não se pode dizer com relação a nós. Somos fracos e pecadores. Ainda bem, que Ele nos deixou o Sacramento do Perdão.

1-      COSTA, Cipriano Odivaldo. Brit- Milá: um pacto de corte: a Influência da circuncisão no pensamento judaico cristão. Publicação do autor. 2014.
2-      BLECH, Rabino Benjamin. O mais completo guia sobre Judaísmo. São Paulo, Séfer. 2004.

Imagem de Stayquiet por Pixabay 

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