Porta do nunca mais
Cada um carrega dentro de si, alguma lembrança dolorida ou experiência de sofrimento que, se possível, gostaria de apagar da memóri...

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Cada um carrega dentro de si, alguma
lembrança dolorida ou experiência de sofrimento que, se possível, gostaria de
apagar da memória. Por outro, lado,
existem situações felizes vivenciadas que acabaram se imortalizando nas
lembranças de cada um. Assim, não dá para esquecer aquele encontro, aquele
cafezinho ou aquela rua onde se morou... Isso, que acontece no plano
individual, parece acontecer também no coletivo. Certamente, daríamos uma
fortuna para esquecer um tempo de pandemia, de inflação ou perdas familiares.
Na memória coletiva dos povos
algumas realidades marcaram, tanto, que deixaram consequências permanentes.
Como se esquecer do holocausto, quando milhões de judeus foram assassinados?
Como se esquecer da bomba atômica que matou milhares de pessoas? Como se
esquecer da multidão de escravos africanos (Cerca de 5 milhões!) embarcados
para a América ao longo de três séculos e meio?
Na história do Brasil, muitas
vezes, as informações foram distorcidas. Quase nada aprendemos sobre a África e a verdadeira realidade do
tráfico de escravos para a América e o Brasil. Ainda hoje, percebo falas
distorcidas sobre esse continente e sobre a escravidão. Não basta tratar esse
continente com 54 países e realidades tão distintas como se ele fosse uma
unidade. Não basta idealizá-lo, miticamente, e pensar em um único povo. A
África é sempre mais do que sabemos ou falamos sobre ela.
A escravidão negra no Brasil
Colonial envolveu tantos aspectos que não é fácil abordá-la de forma rápida e
apressada. Mas, de uma coisa podemos estar certos: - Foi a negação da
identidade de um povo ou de diversos povos já que, aqueles que aqui chegaram, não
eram procedentes de um único lugar ou etnia.
Na ilha de Goreé, no Senegal,
existe uma casa que é um ícone desse período. Nessa casa de embarque dos
escravos há um porta chamada de “Porta do Nunca Mais” ou “Porta do Esquecimento. Por ela, saiam os escravos,
após capturados e aprisionados, diretamente para o navio com destino à América.
Ao cruzar tal porta o escravo nunca mais retornava. Ela era a última lembrança
de sua terra, de seus familiares enfim, de sua história. A partir dali ele
tinha que mudar de nome e deixava de ser pessoa para ser “peça,” colocada à
venda, caso tivesse utilidade para o trabalho. Alguns idosos e doentes eram
simplesmente descartados no mar. A Porta do Nunca era a última lembrança que o
escravo podia ter de sua terra. Cruzando aquela porta ele deixava de ser gente
para ser objeto.
Na mitologia grega existe um rio
chamado “Lete” que é o rio do esquecimento. Acreditava-se, que antes de vir ao mundo a alma humana deveria atravessar esse rio e beber de suas
águas. Após a encarnação, a pessoa não conseguia mais se lembrar de sua vida
anterior no paraíso. Esse processo acontecia de forma invertida após a morte. A
alma atravessava o rio novamente e se esquecia de sua vida na terra. De qualquer forma ele era uma passagem
necessária para o esquecimento. Seria muito cruel ter que enfrentar todos os problemas
humanos recordando dos bons tempos vividos
no paraíso. Seria igualmente cruel ir morar no paraíso carregando tantas
marcas e sofrimentos experimentados na terra.
A Porta do nunca mais tem algo em
comum com o rio lete. Mas, sua passagem acontecia apenas numa direção, ou seja,
na direção do inferno! E o inferno começava no navio negreiro onde os negros
eram tratados pior do que animais. Esses barcos para transportes de escravos
eram tão horríveis que eram chamados de “tumbeiros”, pois grande parte da
tripulação morria durante a viagem.
A Porta do nunca foi, na verdade,
a boca da morte, através da qual a África vomitou os próprios filhos em direção
ao abismo. Parte desse abismo, hoje se chama Brasil.
Imagem: Robin Taylor/Flickr
Oh Senhor!
ResponderExcluirBelo texto.
ResponderExcluirGostei muito principalmente da comparação do Rio x porta.
Que possamos pensar nas nossas atitudes
Lendo essa bela reflexão me veio um filme que assisti a pouco. "12 anos de escravidão" se não me engano 1840 que conta a história real de Solomon Northup, um negro livre mas que infelizmente passa por uma "porta do nuca mais" não literalmente na porta, mas em algo que o mergulha em seu pior pesadelo, acredito que o da maioria das pessoas, ter a liberdade roubada depois de tanto esforço para conquista-la é sem dúvidas o pior declínio.
ResponderExcluirParabéns
Sempre bom aprender e entender a história da humanidade.Triste mesmo é perceber algumas mtas vezes que pouco se valoriza quem fez o caminho que nos antecede.
ResponderExcluir😍😍
ResponderExcluirSempre aprendendo algo novo com o senhor é um verdadeiro catecismo e uma lição de vida para nós ������
ResponderExcluirVerdadeira lição de vida para nós
ResponderExcluirCom todo este sofrimento que o negro atravessou e as lutas que aqui tiveram, o mais lamentável é ver um ser como Sérgio Camargo.Ministro da fundação de Cultura Palmares"Um cara negro, desfazer de seu povo de sua cultura e de seus ancestrais.E o pior ainda preconceituoso.
ResponderExcluirNa atualidade a porta do esquecimento se materializa diariamente nas ruas, nas instituições e na mídia. Seria preciso uma multidão para demolir estes portais do inferno que matam negros, lgbts, crianças, mulheres, pobres e imigrantes. Seria necessária uma revolução de amor para ressignificar estes portais fazer passar por eles estas imagens constantes de sofrimento e desolação. Fazer o movimento inverso, colocando todos estes algozes no esquecimento
ResponderExcluirUma história, uma triste realidade. S porta do nunca Padre continua aberta e exclui, vilipendia e mata essa população invisível por todos.Os tumbeiros continuam a singrar nós mares existenciais desta terra Brasil
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