Saudade de Dom Belvino

Muitas vezes, me chamou a atenção, o comportamento de Dom Belvino, bispo de Divinópolis, que hoje se encontra no céu. Lembro-me bem, ...



Muitas vezes, me chamou a atenção, o comportamento de Dom Belvino, bispo de Divinópolis, que hoje se encontra no céu. Lembro-me bem, de uma grande celebração diocesana, quando padres e seminaristas corriam, nervosamente, prá lá e prá cá, para garantir certa “perfeição litúrgica” e ele parecia distante, observando tudo de um cantinho. Ali passava despercebido de curiosos e bajuladores de plantão. Às vezes, lia um livrinho, às vezes, parecia rezar... O certo é que não ligava muito para aquele comportamento frenético que, não raramente, antecede às grandes celebrações.

Em sua vida recôndita parecia evitar os holofotes da fama. Talvez, estivesse muito deslocado em tempos de “sélfie” como o nosso. Atualmente, as pessoas se atropelam para serem fotografadas... Recordo-me, de uma viagem que fizemos a São José de Rio Preto para uma entrevista na Rede Vida, que naquele tempo, estava apenas começando suas transmissões. Ele queria, a todo custo, dividir a entrevista comigo. Logo eu, que, no início do meu sacerdócio tinha tão pouca experiência!

Faz alguns dias peguei meu carro e fui, sozinho, rezar junto à sua sepultura em Conceição do Pará. Nunca me senti tão bem! A simplicidade e o despojamento daquele lugar combinavam, perfeitamente, com sua vida. Vejo Conceição do Pará como uma espécie de “Nazaré”, de nossa Diocese. É um pedacinho do céu esquecido pelos grandes da terra! Naquele espaço, perto de Deus e de uma natureza exuberante pedi forças para seguir minha vida. Devo a Dom Belvino muita coisa que aprendi. Quando ainda era jovem ele confiou-me, grandes tarefas como, a coordenação da Rádio Santa Cruz, por exemplo.

Comecei a trabalhar na Rádio em 1995. Sempre que tinha alguma dúvida recorria ao Bispo e ele nunca deixou de me atender e me orientar. Lembro-me, quando o procurei em 2002, para uma entrevista polêmica que seria mostrada na emissora. O tema da entrevista era a mudança de sexo pleiteada por um seguimento de pessoas naquele tempo. Sua abordagem foi de grande sabedoria e humanidade. Cheguei a transcrever a entrevista e publicá-la, no meu blog com o título: “O Bispo me fez chorar”(*)

Uma das grandes virtudes de Dom Belvino era sua humanidade. Até quando se irritava e esbravejava dava provas dessa humanidade, pois, ninguém é de ferro. Ele sabia falar ao coração do povo porque entendia o seu sofrimento e suas dores. Soube servir à Igreja sem perder a fisionomia humana. Poucos líderes, talvez, consigam ser tão amados como ele! Até quando “apelava” fazia-o com uma dose de bom humor. Isso suavizava os impactos da relação.

Imagino que a missão do bispo seja uma das mais difíceis na Igreja. Não deve ser fácil conciliar o pastoreio com tantas exigências vindas de todos os lados. Precisamos rezar por eles. Peçamos a Dom Belvino, que lá do céu, oriente os bispos e a todos nós.  Que sua intercessão junto a Deus, nos torne mais humanos, compassivos. Talvez, aqueles que nos procuram não precisem tanto de especialistas, mas de acolhida e compreensão.

(*) http://ggpadre.blogspot.com/2019/01/o-bispo-me-fez-chorar.html


Foto: Arquivo pessoal

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  1. Fui coroinha dele com muito orgulho. Andávamos pelas comunidades rurais em estradas de terra com muita poeira. Ele com sua inseparável batina preta que ficava quase sem cor de tanta poeira. Homem simples mais de enorme sabedoria e humildade . Eterna gratidão e saudades de Dom José Belvindo.🙏🙏🙏🙏

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  2. Muitas saudades de dom José! Sinto sua presença em nossa caminhada e, até hoje, não acredito que ele tenha partido...

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