Possíveis manchetes para a morte de João Batista

São João Batista é um dos santos mais queridos de nosso povo. Por razões que desconheço, sua memória, no Brasil foi associada às muitas festas juninas. O "São João" do Nordeste, é famoso no mundo inteiro. Depois do Carnaval, sua festa talvez, seja uma das mais populares em nosso meio. Mas, como foi mesmo São João Batista? A Bíblia fala dele como um homem austero, ético e profético. Jesus, ao referir-se a ele diz que: - Entre os nascidos de mulher ninguém é maior do que João! Acho que isso dispensa qualquer comentários sobre sua santidade. Sua morte, por Herodes, antecipou a morte que o próprio Jesus iria ter, um pouco mais tarde. Pela sua postura ética e compromisso com a verdade acho que João não teria lugar no mundo de hoje. A  diferença talvez, seria os diversos pontos de vista sobre sua morte. Fico imaginando como os jornais  anunciariam o fato. Arrisco-me, a escrever algumas possíveis manchetes:

- Subversivo de alta periculosidade aparece assassinado. Corpo, sem cabeça encontra-se no IML. Polícia investiga principais suspeitos;

- Corpo de detento foi encontrado com sinais de violência, em rua deserta. Polícia investiga hipótese de fuga da prisão;

- Corpo de homem, de meia idade, aparece morto após festa palaciana. Populares acreditam que fosse santo mesmo estando atrás das grades;

- Mais um vagabundo foi morto pela polícia da guarda palaciana. Pelo visto, elemento tentava evadir-se da prisão durante a festa;

- Palácio pode ser responsabilizado pela chacina de prisioneiro. Processo corre em segredo de justiça.

Penso que, se a morte de João Batista fosse anunciada pelos jornais de hoje, as manchetes não fugiriam muito disso. Elas direcionariam a atenção do leitor para a vítima. Caso, a notícia fosse mostrada na TV talvez, fizessem até uma reconstituição do caso!  Espetacularizar o crime também faz parte do jogo. Basta ver os programas da TV durante as tardes. O mundo atual  é dividido em dois grupos: bandidos e mocinhos! O telespectador é levado a torcer pelo mocinho. Essa é uma leitura fácil da realidade. De um lado estão os bons, os homens de bem, e do outro, os bandidos, os homens do mau, os fora da lei...

João Batista já estava preso, portanto, sob a guarda do palácio. Mas, o palácio não o guarda.  Condena-o, à morte sem julgamento. Sua cabeça foi dada a prêmio a uma mocinha, após  festa, regada a vinho e orgias.  Herodes se assemelha à “rainha de copas” do filme “Alice no país das maravilhas,” cuja diversão, era cortar as cabeças dos  adversários. Num banquete preparado para os grandes da corte, o rei sacrifica vidas inocentes.

A morte trágica de João Batista acena para a morte que Jesus teria. A vida o profeta sempre foi vista paralela à vida de Jesus. Ele o anunciou, o batizou e, discretamente, saiu de cena. Já havia dito: Convém que ele cresça e eu diminua... João nunca quis ofuscar o brilho de Jesus. Pelo contrário, não se achava digno de desamarrar-lhe as sandálias. João sai do cenário para que Jesus pudesse atuar livremente. Mas, Jesus reconhece sua grandeza. Chegou a dizer que entre os nascidos de mulher ninguém era maior do que ele. 

João Batista não poderia morrer de qualquer maneira. Herodes, certamente, esperava  uma ocasião especial para matá-lo.  Assim, poderia exibir o seu poder, publicamente, e aterrorizar os adversários. Essa parece ser uma lógica comum às pessoas sanguinárias. Quantos tiveram suas cabeças exibidas, ao longo da história, apenas para demonstração de forças? - Que o diga Zumbi dos Palmares! Mas, tudo isso foi em vão. A morte de João não foi bastante para calar a voz da verdade. Aliás, não se cala a verdade com a morte de ninguém. Mais cedo ou mais tarde ela ressurge  e exige  julgamento. João Batista sobrevive, ainda hoje, em milhares de profetas espalhados pelo mundo... Oxalá, você seja um deles!

Imagem de Thomas B. por Pixabay