Deus não tapa os ouvidos...
Uma das melhores experiências que podemos experimentar é a da festa. Festa nos lembra de encontro com pessoas amigas, coisas gostosas, abraç...
Uma das melhores experiências que podemos experimentar é a da festa. Festa nos lembra de encontro com pessoas amigas, coisas gostosas, abraços e tudo mais. Sem esse tipo de experiência a vida ficaria muito sem graça. As festas de casamento, antigamente, duravam o dia todo. Eu era criança e quase não participava delas. Mas, quando isso acontecia era motivo de grande expectativa. Lembro-me, de uma delas quando foi servido, sobre o bolo da noiva, um docinho branco chamado “suspiro”. Hoje sei que se trata de coisa muito simples feita com açúcar e clara de ovo. Mas, naquele tempo... Não duvide que eu fosse capaz de dar a vida por um deles! Lembro-me também, das bebedeiras durante a festa. Bebia cerveja quente mesmo, pois nem havia geladeiras nas roças. Cantavam-se uma música: Vira, vira, vira... e a pessoa acabava caindo de bêbada de tanto virar copos! Dessa parte eu não achava graça, pois em minha família ninguém bebia. Além do mais, nunca achei graça no gosto de bebida alcoólica. Quanto aos suspiros...
Mas, o propósito desse texto não é para falar de festa ou suspiros brancos. Mas, de um grande banquete que, volta e meia, aparece nas leituras bíblicas. No final do texto de Isaías (Is 55,1-3), por exemplo, essa ideia aparece muito clara. Vamos imaginar a cena: O povo estava numa pindaíba danada. Vivendo no exílio da Babilônia, na condição de escravos, não tinham direito sequer de sonhar. Não tinham dinheiro para nada apesar de trabalharem feito burro de carga. A fome e as doenças eram companheiras inseparáveis e, quase sempre, uma dependia da outra. Nem cantar fazia mais sentido. O salmo 136 aponta para essa realidade quando afirma: Nos salgueiros daquela terra, penduramos nossas harpas... Isso é o mesmo que “botar a viola no saco”! O que podemos observar, de imediato, é a prostração do povo; uma forma de depressão coletiva, certo “banzo” para usar uma palavra de cunho africano.
Nesse cenário deprimente, surge um profeta anônimo e anuncia, aos gritos, uma boa notícia:
“Venham, todos vocês que estão com sede, venham às águas; e vocês que
não possuem dinheiro algum, venham, comprem e comam! Venham, comprem vinho e leite
sem dinheiro e sem custo. Por que gastar dinheiro naquilo que não é pão, e o
seu trabalho árduo naquilo que não satisfaz? Escutem, escutem-me, e comam o que
é bom, e a alma de vocês se deliciará com a mais fina refeição. Deem-me ouvidos e venham a mim; ouçam-me, para
que sua alma viva. Farei uma aliança eterna com vocês, minha fidelidade
prometida a Davi.
Depois desse anúncio as crianças passaram a sonhar com os suspiros e os velhos tiraram a viola do saco. Era o anúncio de uma boa nova. Deus lembrou-se de seu povo e, finalmente, decidiu libertá-lo do cativeiro. O anúncio do profeta provocou o mesmo efeito mostrado na música “A Banda”, de Chico Buarque:
A minha gente sofrida, Despediu-se da dor... A moça triste que vivia calada sorriu. A rosa triste que vivia fechada se abriu. E a meninada se assanhou pra ver a banda passar cantando coisas de amor... Até a moça feia que vivia na janela sorriu pensando que a banda tocava prá ela...
Em tempos de pandemia como o nosso como precisamos dessa “banda de música”! O isolamento social tem gerado muita tristeza e solidão na vida das pessoas. Temo que seu efeito seja tão maléfico quanto ao vírus.
De uma coisa podemos estar certos. Nosso Deus não costuma tampar seus ouvidos aos nossos clamores. Ele não é indiferente aos nossos dilemas. Em tempos difíceis da história, sempre enviou ao povo, os profetas da esperança. Talvez, esse tempo seja um período de provação que não há de durar para sempre. Enquanto não podemos sair às ruas cultivemos nosso jardim interior. Isso pode ser feito com boas leituras, orações e bons filmes. Nada de desespero ou de morrer na praia. Vamos aguentar mais um pouco porque amanhã tudo será diferente. A festa há de voltar. E quando isso acontecer aposto que vou comer muitos suspiros brancos! Não fique triste, pois não vou comer sozinho. Repartirei tudo com você. Só espero que não tenha diabetes!
Imagem de GK von Skoddeheimen por Pixabay
Festa boa é esperar por ela. Como o Sr falou né lembro da geladeira, um tambor com serragem e gelo. Não tinha muitos suspiros, mas tinha arroz doce e guaraná. Que delícia era ver os casais dançando o forró. Vamos precisar de muita festa pra nós trazer a alegria roubada da solidão do isolamento. Precisaremos festejar a alegria do abraço, dos apertos de mãos. E crer que a festa é boa por esperar, que nossa espera seja mais com fé pra não enlouquecer. Lucimar Vilaça
ResponderExcluirPara mim, cultivar o nosso jardim interior supera a alegria de qualquer festa. Ainda mais se for para regar com A Água Viva, da fonte eterna da Palavra!
ResponderExcluirQue..linda. História.. emocionante parabéns .amei .
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