Santa Terezinha e a experiência mística

Antes de falar sobre o tema proposto seria muito bom esclarecer o que é essa tal “experiência mística”. Para comentar a questão, vou me vale...

Antes de falar sobre o tema proposto seria muito bom esclarecer o que é essa tal “experiência mística”. Para comentar a questão, vou me valer de uma passagem já citada, num texto anterior (1). Ela aponta sete características da experiência mística:

1, O místico sente uma unidade em todas as coisas. Há apenas uma consciência, ou um Deus que permeia tudo;

2, Embora o místico já venha se preparando há muito tempo para seu encontro com Deus, sente-se passivo quando isso acontece. É como se ele fosse tomado por uma força externa,

3, Essa condição se caracteriza pela intemporalidade. O místico se sente arrancado para fora da existência normal de quatro dimensões;

4, O êxtase em si é transitório, e em geral não dura mais que alguns minutos;

5, Mas ele possibilita um novo insight, que permanece com o místico depois da experiência;

6, Essa compreensão é inexprimível, não pode ser comunicada a outros;

7, Como a experiência é paradoxal em si mesma, o místico vai usar paradoxos ao tentar descrever o estado que experimentou. Assim, pode definir o ser encontrado como “abundancia de vazio”, “escuridão ofuscante” ou algo parecido.

Ter uma experiência mística é ser arrancado de si mesmo e mergulhado num profundo oceano de beleza e bondade que é o próprio Deus. Não existem palavras adequadas para traduzir tal encontro. Diante da transfiguração do Senhor ((Mt 17,1-9), Pedro foi arrebatado para fora de si mesmo. Sem palavras apenas suplicou para permanecer mais tempo naquele estado: Senhor é bom nós estarmos aqui! E como na haveria de ser maravilhoso permanecer com Jesus transfigurado ao lado de Moisés e Elias? Em momentos assim dá para ficar olhando o relógio?

Em diversas passagens da vida de Santa Terezinha podemos perceber o quanto ela foi marcada por essas grandes experiências de Deus. Às vezes, bastava uma estampa ou figura de Jesus para que ela fosse transportada para junto dele. Veja o que ela mesma disse sobre isso:

Quando num domingo olhava uma gravura de Nosso Senhor na Cruz, impressionei-me com o sangue que escorria de uma das suas mãos divinas. Acometeu-me grande dor, considerando que o sangue caia por terra, sem que a ninguém interessasse em recolhê-lo. E tomei a resolução de manter-me em espírito de fé, junto à Cruz, para receber o divino orvalho que dela promana, compreendendo que, depois, deveria espargi-lo por sobre as almas... (Cap V, 134).

Nas conversas que mantinha com sua irmã Celina, num lugar chamado “mirante” tudo parecia se transformar em oração:

Quão doces não eram as conversas que tínhamos todas as noites no mirante! Com o olhar absorto no longínquo, contemplávamos a branca lua que se erguia suavemente por detrás das grandes árvores adormecidas... As brilhantes estrelas que cintilavam no azul profundo do céu... O brando murmúrio da brisa vespertina que fazia flutuar as nuvens esbranquiçadas. Tudo elevava nossas almas ao céu... (Cap V, 139).

Sobre sua primeira comunhão ela escreveu:

Raiou, enfim, o “mais belo de todos os dias”. Quão inefáveis não são as recordações que na alma me deixaram as mínimas circunstâncias desse dia de céu! (...) Não quero descer a pormenores. Coisas há que perdem a fragrância, quando expostas ao ar. Existem pensamentos da alma que se não podem traduzir em linguagem terrena, sem perderem o sentido autêntico e celestial. São como a “pedrinha branca que se dará ao vencedor, sobre a qual está escrito um nome, que só CONHECE, QUEM a recebe”. Ah! Como foi afetuoso o primeiro ósculo de Jesus à minha alma! (Cap IV, 109).

Quanto à direção espiritual afirmou:  Os diretores espirituais, eu os comparava a espelhos fiéis que refletem Jesus nas almas, achando que, no meu caso, o Bom Deus não se valia de nenhuma pessoa intermediária, mas atuava diretamente! (...) por eu ser pequena e fraca, ele rebaixou-se até mim, iniciou-me secretamente em assuntos de seu amor! (Cap V, 141).

Conforme podemos perceber somente nos trechos destacados acima, Santa Terezinha era facilmente, arrebatada por Deus em atitudes de contemplação. Sua maturidade de fé foi surpreendente considerando sua pouca idade. Não raro se perdia em contemplação. Olhando seu exemplo podemos tirar muitas experiências concretas para nossas vidas. Amparada pela graça de Deus ela jamais se perdeu nas sendas floridas do mundo. Assim como para São Paulo, viver para ela era Cristo e morrer seria lucro!

Imagem de markus roider por Pixabay 


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