Santa Terezinha: Pequeno caminho de santidade

 

Ao ler o livro História de uma alma, de Santa Terezinha do Menino Jesus, dificilmente, a pessoa não se envolverá numa atmosfera de inocência e doçura. Alguns, mais apressados, poderiam ver, nesses relatos autobiográficos, excesso de sentimentalismos e infantilidade espiritual. É bom esclarecer que ela não escreveu suas experiências porque quisesse servir de exemplo. Escreveu por obediência:

Minha Madre muito amada, não há continuidade no que vos escrevo. Minha historiazinha, parecida com um conto de fadas, converteu-se de repende em oração. Não sei qual interesse poderíeis ter na leitura de todos esses pensamentos confusos e mal redigidos. Afinal, minha Madre, não escrevo para compor obra literária, mas por obediência... (Cap X -278).

Desde criança Terezinha enfrentou, de forma heroica, diversas provações: Nasceu doente, perdeu a mãe muito cedo, perdeu quatro irmãos ainda criança, enfrentou o mundo para entrar na vida religiosa quando ainda tinha pouca idade, sofreu as provações no Carmelo, entrou em crise de fé, perdeu o pai e morreu de tuberculose aos 24 anos. É pouco?

Em seus escritos ela nos revela com clareza e, às vezes, com humor sobre suas limitações, sonhos e pequenas falhas. ‘É preciso lembrar que ela foi considerada doutora da Igreja! Então, por trás de uma grande simplicidade, Terezinha nos fala de realidades muito profundas. Algumas experiências místicas que teve, simplesmente, não conseguiu traduzir em palavras conforme ela mesma confessou.

Para Santa Terezinha a santidade não é um privilégio de heróis. Caso fosse, talvez, ela não se enquadrasse nesse modelo. Afirmou ser tão pequena como um filhote de passarinho que, ainda na plumagem, nem de longe, tinha a potência de uma águia. Mas, apesar disso, tinha olhos de águia para mirar a beleza do sol, que é Deus. E quando nada podia fazer contentava-se em contemplar os raios do sol. Concluiu que a santidade não poderia ser privilégio de uns poucos. Como ela, sendo tão pequena poderia almejar um ideal tão grandioso se esse ideal não tivesse sido plantado em sua alma pelo próprio Deus?

Quisera a avezinha voar em direção ao Sol fulgurante que lhe fascina os olhos. Quisera imitar as águias, sua irmãs, quando as vê elevarem-se até o divino foco da Santíssima Trindade... Tudo o que pode fazer, ainda mal, é soerguer as asinhas. Mas, sair voando é o que sua reduzida força não permite! Qual será sua sorte? Morrer de desgosto, por se ver tão impotente? ... Isso, não! A avezinha nem sequer se afligirá. Num audaz abandono, continuará fixando seu divino sol (Carta à Irmã Maria do Sagrado Coração, de 08 de setembro – 1896 – Nº 260).

A “avezinha” jamais conseguirá levantar grandes voos, mas pode realizar pequenos voos com perfeição. Isso é o que chamamos de “pequena via”, ou pequeno caminho de santidade. Esse caminho, exatamente, por ser pequeno, está ao alcance de todos. Trata-se de uma grande descoberta: Podemos ser santos, mesmo sem realizar grandes obras, mas realizando pequenas obras com grande perfeição. “Apanhar um alfinete por amor de Deus pode converter uma alma. Só Jesus é quem pode dar valor ás nossas ações” (Carta a Leonia, janeiro de 1895)

O que pode haver de nobre no simples gesto de apanhar um alfinete no chão? –Nada. Desde que isso seja feito sem amor. O amor pode dar um novo colorido a todas as coisas. Jesus também chegou a afirmar que nem um copo d´água dado com amor ficaria sem recompensa...

Mesmo ciente de suas limitações Santa Terezinha nunca escondeu o desejo de ser santa:

Como sabeis, sempre desejei ser santa. Mas, que tristeza! Quando me confronto com os Santos, sempre verifiquei que há entre eles e eu a mesma diferença que existe entre a montanha, cujo cimo desaparece nos céus, e o obscuro grão de areia, espezinhado pelos transeuntes. Vivemos num século de intervenções. Agora já não se tem o trabalho de subir os degraus de uma escada. (refere-se ao elevador) Por mim, gostaria de encontrar um elevador para me erguer até Jesus, porque sou pequenina demais para subir a dura escada da perfeição. Busquei, então, nos Sagrados Livros uma indicação do elevador, objeto dos meus desejos, e li estas palavras, sidas da boca da Eterna Sabedoria: “Se alguém é pequenino, Venha a mim”. Fui, então, com o pressentimento de ter achado o que procurava, e com a vontade de saber, ó meu Deus!  O que faríeis ao pequenino que respondesse ao vosso chamado. Continuando minhas reflexões, eis o que encontrei: “Como uma mãe acaricia o filhinho, assim vos consolarei, e vos acalentarei em meu regaço”. Oh! Nunca vieram alegrar minha alma palavras mais ternas e mais melodiosas! O elevador que me conduzirá até ao céu, são os vossos braços ó Jesus! (Cap X -271-72).

Santa Terezinha nos ensina com essas suas reflexões que são os próprios braços de Jesus os elevadores que não permitem acesso à santidade.  A santidade, portanto, é um dom de Deus que pode ser respondido por todos com a ajuda da graça. A santidade é um caminho aberto a todos. Cada um acaba respondendo de um jeito. Nesse caminho de subida para Deus, em qual degrau você se encontra?

Imagem de Vinson Tan ( 楊 祖 武 ) por Pixabay