Corações embotados

 

Um coração embotado é um coração insensível para Deus. A expressão, pouco usada entre nós, é citada na Bíblia, para ilustrar essa insensibilidade do povo. Pode ser aplicada também ao Faraó, no Egito que, apesar dos inúmeros sinais de Deus, permaneceu insensível para libertar o seu povo.

Reclamando da falta de reação do povo Jesus, certa vez, o comparou com crianças birrentas:

Com quem, pois, hei de comparar os homens da geração atual? A quem se assemelham eles? São como a criançada sentada na praça, gritando uns aos outros: Tocamos flauta para vós e não dançastes; cantamos lamentos e não chorastes. Pois veio João Batista, que não come pão nem bebe vinho, e dizei: Ele é um possesso. Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizei: É um comilão e beberrão amigo dos publicanos e pecadores...(Lc 7, 31-35)

Deus não é insensível aos nossos dilemas. Ele “viu” e “ouviu” os sofrimentos do seu povo no Egito (Êx 3,7). Por isso “decidiu” libertá-lo, através de Moisés. Ver e ouvir são sentimentos que levaram a uma tomada de decisão. Em diversas passagens do Novo Testamento Jesus nos revela os seus sentimentos: Ele chorou, ficou indignado e teve compaixão...

Deus não tem um coração de Pedra. Tem um coração de Pai! Mas, conosco parece, não ser assim. Apesar dos inúmeros sinais que nos são enviados por Deus, permanecemos tão insensíveis quanto o Faraó no Egito. Somos especialistas em “corações embotados”!  Por causa disso, não vemos a necessidade de nossos irmãos e nem ouvimos os seus apelos. E tais apelos, às vezes, estão dentro de nossas casas! Quantos pais e mães não reclamam do abandono dos filhos?

Por causa desse “embotamento” do coração os conterrâneos de Jesus não perceberam nem a beleza de sua pregação nem a firmeza do testemunho de João. Por meios distintos, João e Jesus foram canais da graça de Deus. Mas, ambos não foram aceitos. Chegaram a acusar João Batista, o maior dos profetas, de endemoniado.  Os seus conterrâneos se pareciam às crianças birrentas, incapazes de serem tocadas aos apelos de Deus. Será que essa realidade mudou em nossos dias? Creio que não. Vejam, por exemplo, como anda nossa relação com o outro ou mesmo com a natureza.

A natureza que nos fala de Deus, pela sua beleza, está sendo atacada de todos os lados em nome de interesses mesquinhos. Percebemos mortes dos rios, grandes incêndios e desmatamentos constantes... Diante desse quadro de horrores ficamos sem ação e não sabemos o que fazer.  Nossa relação com o próximo também parece deteriorada. Entre nós parece crescer a intolerância, o racismo e outras formas decadentes de relacionamentos. Ainda somos crianças birrentas e não entendemos os recados de Deus. Que pena! Tudo poderia ser diferente se fôssemos mais dóceis aos apelos de Deus.  Peçamos a Jesus que nos dê um coração humano, porque o nosso, ao que parece, está muito endurecido.

Imagem de Ben Kerckx por Pixabay