Glauco e as consequências de um amor não correspondido

 

Glauco era um grande pescador do mundo antigo. Passava os dias na pescaria e se esquecia do tempo quando pescava. Certa vez, estranhou muito a movimentação dos peixes que havia pescado e colocado sobre a grama. Viu que alguma coisa estava esquisita. Estranhamente, os peixes ganharam vida e retornaram ao mar. Inicialmente, ficou com medo. Imaginou que fosse algum feitiço. Depois pensou que seria por causa da grama. A grama daquela ilha tinha propriedades medicinais.  Arrancou, então, alguns raminhos e os mastigou. Sentiu, então,  um desejo enorme de mergulhar-se no mar. Deixou tudo para trás e pulou na água. Achou aquilo tão sensacional que nunca mais retornou à terra firme. Os deuses do mar o receberam e encarregaram de transformá-lo numa  criatura marinha. E assim fizeram. Lavaram ele com águas de muitos rios e fizeram sobre ele seus encantamentos. Depois de um tempo o seu corpo ficou parecido com o corpo de um peixe. Sua barba e seus cabelos, no entanto, ficaram verdes. Ele se transformou num ser imortal. Seu aspecto diferenciado chamava muito a atenção de todos.

Certo dia nadava perto da praia, viu uma criatura maravilhosa e se encantou por ela. Tratava-se de Silas, uma ninfa de rara beleza. Foi amor à primeira vista! Deu um jeito de aproximar-se dela, mas, ao vê-lo a ninfa saiu em disparada pela floresta. Certamente, assustara com a presença daquela criatura com olhos de peixe e cabelos verdes. Não era para menos! No outro dia, a cena se repetiu. Mas, dessa vez, Glauco conseguiu fazer lhe uma declaração de amor. Bastou isso, para que ela saísse, mais uma vez, em disparada. Pelo visto, não queria saber daquele tipo de conversa. Sentindo-se rejeitado Glauco procurou Circe, uma grande feiticeira famosa daquele tempo, para tentar reverter a situação. Faria o que fosse preciso para ganhar o amor daquela ninfa que roubou o seu coração esverdeado...

Acontece que Circe tinha grande atração por Glauco. Chegava a sonhar com sua vara de anzol... Dizia que ele seria a tampa perfeita de seu balaio. Glauco, no entanto, não a quis ao seu lado. Com essa rejeição, Circe despertou todo o seu ódio contra a concorrente. No entanto, prometeu ao “cliente” trazer o seu amor de volta em três dias! Mas, fez exatamente, o contrário. Criou uma poção mágica e despejou-a no lago onde Silas costumava se banhar e ficou por ali espiando tudo de longe. No outro dia, pela manhã Silas apareceu para o banho. Assim que entrou na água viu que seu corpo mudava rapidamente. Seis serpentes venenosas brotaram da parte inferior do seu corpo. Ao perceber aquilo chorou muito e em vão implorou a proteção dos deuses. Por onde andava levava consigo as serpentes que agora faziam parte de seu corpo. Ao perceber que não havia como mudar aquela situação mudou-se para longe. Buscou abrigo nos rochedos do Estreito de Messina ao lado de Sibila, outro monstro marinho que devorava os navegantes com seus redemoinhos.

A partir de então, esse local transformou-se no terror dos marinheiros. De um lado, estava Sibila que engolia até um navio com seus redemoinhos e de outro, Silas com seis pescoços em forma de serpentes para atacar os passantes. A monstruosidade de Silas foi ocasionada pelo ciúme de Circe. A rejeição é um dos sentimentos comuns, experimentados pelo ser humano. Suas consequências são imprevisíveis. No caso, da história ninguém saiu ganhando. Na vida também acontecem coisas desse tipo. A trama que mistura desejos, paixões, e decepções amorosas não é estranha a nenhum de nós. Nem sempre conseguimos elaborar bem as nossas perdas e, às vezes, descontamos no outro nossas frustrações decepções.  Pense nisso!

Imagem de David Mark por Pixabay