Abril despedaçado: Quando a salvação vem de um menino

  Nem nome ele tinha. Era, simplesmente, chamado de “Menino”. Estou falando de um personagem do filme de Walter Sales, “Abril Despedaçado”. ...

 


Nem nome ele tinha. Era, simplesmente, chamado de “Menino”. Estou falando de um personagem do filme de Walter Sales, “Abril Despedaçado”. Não sou crítico de cinema, mas gosto de alguns filmes. Por isso, me atrevo a opinar sobre o assunto. O filme é de 2001 e foi inspirado no livro Prilli i tyer (Abril despedaçado) do escritor albanês Ismail Kadaré.  O filme já é antigo, mas, o que é bom, sempre dura! Ele mostra a realidade de duas famílias rivais no interior do Brasil. Briga de coronéis nunca faltaram em nosso país! Elas aconteciam, quase sempre, pelos mesmos motivos: Disputa de terras, mulheres, bicas d’àgua...

No filme, quando o membro de uma das famílias era assassinado, aquela família, que perdeu o parente, jurava vingança contra a outra e, não sossegava, enquanto não matasse um de seus membros.  Era o mais perfeito cumprimento da lei do talião: “Olho por olho, dente por dente”.

Entre as famílias rivais havia um código de honra. Após o assassinato de alguém, sua camisa, ensanguentada, era posta num varal. Antes mesmo que a mancha de sangue amarelasse, alguém da outra família, deveria ser morto. O assassino deveria amarrar uma faixa de pano no braço nesse período de trégua. Aquela faixa seria o seu “salvo conduto”, nesse tempo. Era assim, que funcionava o combinado. O período de trégua para o assassino era determinado pela duração da mancha de sangue na camisa da vítima. Esse “espiral de violência” ia exterminando, aos poucos, as duas famílias. Era como briga de duas cobras, durante a qual, uma ia comendo o rabo da outra, até sobrar apenas uma mancha de sangue sobre a areia...

Uma das famílias( Família Breves) era formada por um casal e três filhos: “Tonho”, “Menino” e um já falecido. Essa família era mais pobre do que a outra(Família Ferreira). Todos trabalhavam de sol a sol, no engenho de cana, já em decadência,  produzindo rapaduras para o sustento da família. Na parede daquela casa penduravam-se as fotos dos antepassados, quase todos assassinos e assassinados.

Com 22 anos “Tonho” deveria matar alguém da família Ferreira para vingar a morte do seu irmão. Praticamente, obrigado pelo pai, um homem que “honrava a tradição”, ele matou à tiros um jovem da outra família. A partir daí foi também jurado de morte. Mas, antes disso, poderia gozar um curto período de trégua. Seu destino estava traçado. Antes que a lua mudasse de fase, com certeza, seria morto.

“Menino” conheceu, certa vez, um casal que trabalhava no circo. Ganhou um livro, de presente daquela moça. Ele não sabia ler. Só lia as figuras. Mas, o livro passou a ser sua grande riqueza. A partir das figuras inventava histórias e dava asas à imaginação. Querendo agradar ao irmão, “Tonho” o leva ao circo sem a permissão do pai. Aquilo em suas vidas foi um grande deslumbramento! Durante essa visita, “Menino” foi “batizado” pelo dono do circo e ganhou o nome de “Pacu”. Esse nome lhe caiu bem, pois vivia sonhando com o mar e com as sereias... Mas, o chicote do pai, desceu no lombo de Tonho quando eles voltaram do passeio. Essa aventura aconteceu no período de trégua.

No vai e vem da vida, Tonho acabou tendo, pela primeira vez, uma relação sexual com a moça do circo, que se chamava Clara. “Pacu” pressentiu o perigo que seu irmão corria. Foi ao local onde ele dormia, após o encontro amoroso, pegou a faixa de pano, caída no chão e amarrou-a,  no próprio braço. Esse gesto foi divino!  Com essa faixa amarrada no braço ele seria alvejado pela família rival. Sendo assim, salvaria o irmão a quem amava por demais! E foi o que acabou acontecendo. Naquela mesma noite chuvosa, Pacu recebeu um tiro certeiro. Seu corpinho caiu sem vida sobre a areia molhada.

Ao ver a faixa amarrada no braço do irmão, Tonho entendeu tudo. Era hora de interromper aquela relação, destrutiva, de ódio. Afinal, alguém foi capaz de lhe dar a vida por amor! A camisa de Pacu, não foi pendurada no varal. Não haveria mais vingança nem nada. O filme termina com “Tonho” contemplando as ondas do mar. Talvez, escutasse a voz de Pacu, conversando com alguma sereia encantada...

O filme me fez lembrar de alguém, que também ofereceu sua vida por amor. Alguém que nos ensinou a amar em vez de odiar; que também morreu inocentemente para nos livrar da morte eterna. Você saberia de quem estou falando?

Imagem de Linus Schütz por Pixabay 

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  1. Quantos coronéis tem por aí fazendo tudo para não perder o posto?

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  2. VERDADE PADRE GERALDO Gabriel Jesus Cristo morreu por amor a nós e inocentemente... q a humanidade tenha mais AMOR ao próximo

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  3. Jesus Cristo se entregou na Cruz por amor a todos nós!

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  4. Jesus Cristo ...quando se trata de o amor verdadeiro acho que uma mãe também morreria pelo seu filho isso e amor

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  5. Padre
    Gabriel tá falando de
    Jesus também,que deu sua vida para nós salvar

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  6. Está falando de Jesus Cristo. Também tem pessoas que se entregam ao trabalho voluntário em benefício do outro. Parabéns pela belíssima reflexão!

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  7. Nossa que maravilha jesus Cristo te abençoe sempre

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  8. Eu só peço a jesus que haja justiça no Brasil de tantos coronéis

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  9. O Senhor consegue nos envolver na estória com todos os ingrediente das emoções em todo o tempo, ou seja até o final.
    O desfecho caiu bem, a corrente do ódio tem que terminar. Jesus deixou a receita do amor, e assim viveriamos totalmente diferente do mundo como se apresenta.

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  10. O Senhor consegue nos envolver na estória com todos os ingrediente das emoções em todo o tempo, ou seja até o final.
    O desfecho caiu bem, a corrente do ódio tem que terminar. Jesus deixou a receita do amor, e assim viveriamos totalmente diferente do mundo como se apresenta.

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  11. Parabéns, GGPadre pela partilha. O Amor é tudo.

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  12. De Jesus Cristo que deu a vida para nos salvar

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  13. É verdade Padre Geraldo Gabriel,esta história,nos lembra Jesus.Quanto sofrimento,quanta dor,para nos salvar,Jesus morreu,deu sua vida por nós.E quantas pessoas também, perderam,sua vida por amor.

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  14. Padre,
    Ainda existem no estado de Pernambuco famílias rivais em guerra e matança até hoje.
    Em Floresta os Ferraz e Novais em EXU os Alencar e Sampaio, em Arcoverde a família Brito, emfim, infelizmente em nenhuma dessa tem um "pacu" para dar fim a tanta crueldade.
    Muito legal sua narrativa. Gostei!

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  15. E uma história muito triste mas também.nos conforta , dar a sua vida por alguém é algo grandioso demais, vivemos numa época que até dar um abraço de conforto, dar um tempo para o outro, escutar o outro é difícil quanto mais dar a vida , até mesmo entre irmãos.So quem fez isso foi o Cristo, Ele deu a vida por nós e muitas vezes esquecemos disto.Obrigada por me colocar pra refletir.

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